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Carro autônomo da Tesla se 'autoentrega' da fábrica até a casa do cliente pela primeira vez

Autonomia é importante diante da aposta de Elon Musk e até levantou os papéis da empresa, mas questões legais e de segurança ainda pairam sobre o projeto

Robotáxis: a salvação da Tesla? (./Divulgação)

Robotáxis: a salvação da Tesla? (./Divulgação)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 27 de junho de 2025 às 19h16.

Última atualização em 27 de junho de 2025 às 19h38.

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"A primeira entrega totalmente autônoma de um Tesla Model Y da fábrica para a casa de um cliente do outro lado da cidade, incluindo rodovias, foi concluída um dia antes do previsto." A informação é de Elon Musk e foi anunciada nesta sexta-feira, 27, no X. Com isso, se abre uma margem de precedentes para o funcionamento dos carros autônomos nos Estados Unidos.

A autonomia dos veículos tem sido o colete salva-vidas da empresa do homem mais rico do mundo diante da maré de ascensão das concorrentes — sobretudo as chinesas Xiaomi e BYD. Nas últimas semanas, Musk anunciou que os modelos da empresa teriam um serviço nativo de robotáxi, novidade que fez os papéis da Tesla subirem até 8,2%. Em Austin (EUA), algumas unidades do Model Y, o mais vendido da Tesla, já oferece o serviço de corridas pagas e autônomas. Por enquanto, as corridas estão fixadas em US$ 4,20 (pouco mais de R$ 23). O Model Y chegou às lojas neste ano e se tornou rapidamente um sucesso de vendas, sobretudo pelo baixo custo. Os modelos da linha, com tração traseira, começam na faixa dos US$ 37,5 mil.

A frota do bilionário concorre diretamente com o Waymo, modelo do Google. Mas promete ir além pelo potencial de "renda extra" para os clientes da Tesla, que aproveitariam a ação dos modelos como uma "fusão do Airbnb com a Uber", segundo Musk.

A ideia é que, quando o carro não estiver em uso pelo proprietário, possa gerar renda servindo como táxi para outras pessoas. "Você pode simplesmente dizer: ‘Vou viajar por uma semana’, apertar um botão no aplicativo da Tesla, e seu carro entra na frota, começando a gerar dinheiro para você enquanto você estiver fora”, afirmou o magnata no X.

A proposta de Musk é que os carros, assim que saiam da fábrica — mesmo que sozinhos — já tenham infraestrutura necessária para se tornarem robotáxis. E que seu software de direção autônoma, treinado com dados de uma grande frota de carros em operação e testados por motoristas beta não remunerados, seja capaz de lidar com praticamente qualquer situação. O lançamento é, até o momento, limitado a uma área restrita, com acesso apenas por convite e a presença de um "monitor de segurança" em cada veículo.

O lançamento, já disponível para clientes, contrasta com a abordagem mais cautelosa da Waymo, que disponibilizou o serviço no ano passado somente para alguns utilizadores betas em Austin e outras cidades dos EUA, como Nova York e Los Angeles.

E se bater, de quem é a culpa?

A proposta de ter um táxi autônomo e a preço acessível até reflete no horizonte de evolução tecnológica que a Tesla promete entregar. Mas chega também com riscos evidentes — que já aconteceram, inclusive, e são investigados por reguladores federais dos EUA. 

Musk investiu cerca de US$ 800 bilhões em estudos para a criação do modelo autônomo com capacidade de realizar o serviço. Entretanto, casos em que robotáxis da Tesla violavam leis de trânsito foram capturados em vídeo e repercutiram nas redes sociais. Outros acidentes com carros autônomos, inclusive da Waymo, também seguem o mesmo caminho.

Do lado da Justiça, ainda fica confuso o conceito de aplicação de culpa, dado que não há uma pessoa à frente do volante. Nos Estados Unidos, parte dos casos já julgados levou a culpa a seguradoras, outros a atribuíram às fabricadoras, e mais alguns aos donos dos carros. Segundo a legislação mais atual, a responsabilização pessoal ou criminal depende das circunstâncias específicas do acidente e das conclusões de investigação.

Historicamente, para os casos de acidentes já julgados, os promotores americanos têm relutado em apresentar acusações criminais contra empresas por mortes envolvendo carros autônomos. Em 2018, no primeiro e famoso caso de acidente fatal envolvendo um carro autônomo da Uber no Arizona, foi-se concluído que a empresa não era criminalmente responsável pela morte.

O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) identificou falhas na tecnologia e práticas de teste no serviço da Uber, e criticou a cultura de segurança da empresa. No entanto, nenhuma acusação criminal foi apresentada contra a companhia, ainda que a empresa tenha enfrentado escrutínio público e uma bateria de investigações regulatórias.

Esse é um dos motivos pelos quais a abordagem da Waymo é mais cautelosa. Em entrevista à EXAME em agosto de 2024, um dos testadores oficiais do aplicativo em Los Angeles afirmou que o Google ainda não havia disponibilizado o serviço para pessoas comuns para dar mais espaço de análise para possíveis acidentes. "Até agora, o que acontece mais são acidentes não causados pela má-condução do Waymo, e sim das pessoas em volta dele", disse.

A abordagem da Tesla, comemorada por Musk como vantagem, conta com sensores limitados que evitam sistemas como LiDAR, o que torna os robotáxis mais baratos do que os da Waymo, mas não exatamente mais seguros. O veículo do Google também tem mais tempo de teste: realiza atualmente mais de 250 mil corridas por semana e já passou das 10 milhões de corrida, ainda que por um custo mais alto.

Luz no fim do túnel para a Tesla?

Ainda que o serviço não esteja totalmente seguro, a alta nos papéis da empresa gerada pelo serviço de robotáxi foi um alívio nas contas da Tesla, que enfrenta um momento delicado. No último resultado fiscal, a companhia teve uma queda de 71% no lucro e diminuição de 9% na receita, para US$ 19,33 bilhões.

Os concorrentes, por outro lado, seguem em ascensão. A BYD apresentou lucro acima do esperado, de 9,15 bilhões de yuans (US$ 1,3 bilhão), e, pela primeira vez, ultrapassou a marca de Musk na corrida dos carros elétricos como líder de vendas na Europa. A Xiaomi, que recentemente anunciou o novo modelo elétrico YU7, recebeu mais de 200 mil pedidos em 3 minutos após o início das vendas em Pequim.

Ainda que os resultados da Tesla não tenham sido animadores, a empresa ainda é uma das mais valiosas do mundo, com valor de mercado de cerca de US$ 1,04 trilhão. Ou seja, a companhia está preparada para as próximas corridas, sejam autônomas ou não.

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