A OGX de Eike estuda empréstimos bancários e emissões de títulos para ajudar a financiar investimentos e comprar áreas de exploração (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2011 às 09h42.
Nova York/São Paulo - As captações internacionais de empresas brasileiras estreantes no mercado de renda fixa estão chegando ao maior nível em quatro anos. Companhias como a Hypermarcas SA e a Cimento Tupi SA aproveitam as taxas mais baixas em cinco meses para levantar recursos.
Cinco empresas do País emitiram dívida em dólar no exterior pela primeira vez este ano, a maior quantidade de estreantes desde o início de 2007, segundo dados compilados pela Bloomberg. A taxa média dos títulos de companhias brasileiras caiu 38 pontos-base, ou 0,38 ponto percentual, para 5,88 por cento, comparado a 6,15 por cento para as mexicanas e 7,72 por cento para as chinesas, de acordo com o JPMorgan Chase & Co.
As empresas brasileiras estão acessando a demanda crescente por ativos de mercados emergentes de maior rendimento, após o Federal Reserve indicar em 27 de abril que vai manter o juro básico nos Estados Unidos perto de zero. As estreantes brasileiras pagam uma taxa média de 9,16 por cento, ou 375 pontos-base acima da dívida do governo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg e pelo JPMorgan.
“Toda vez que aparece um novo emissor, o mercado olha com muita entusiasmo porque sabe que a empresa vai pagar um prêmio”, disse Leonardo Kestelman, que supervisiona US$ 880 milhões em ativos na Dinosaur Securities em São Paulo, em entrevista por telefone. “Tudo no Brasil parece generoso aos investidores atualmente.”
O rendimento médio dos títulos em dólar do governo brasileiro -- que é a referência para as captações corporativas -- recuou para 5,14 por cento ontem, o menor nível desde 6 de dezembro, de acordo com o JPMorgan.
Companhias brasileiras captaram US$ 21,1 bilhões no exterior este ano e, mantido esse ritmo, as emissões vão superar o recorde de US$ 37,2 bilhões de 2010, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Planos da OGX
A OGX Petróleo & Gás Participações SA, petrolífera do Rio de Janeiro controlada pelo bilionário Eike Batista, estuda empréstimos bancários e emissões de títulos para ajudar a financiar investimentos e comprar áreas de exploração, disse o diretor financeiro da companhia, Marcelo Torres, durante uma teleconferência ontem. Uma captação no exterior seria a primeira da empresa.
“O mercado de bônus é um mercado que achamos muito atraente, e achamos que teríamos uma proposta muito positiva para trazer para esse mercado”, disse Torres.
A Cimento Tupi, sediada no Rio de Janeiro, captou em 6 de maio US$ 100 milhões em títulos com prazo de sete anos a um rendimento de 10 por cento, a taxa mais alta para uma empresa brasileira em três meses. O Grupo Virgolino de Oliveira, do setor sucroalcooleiro, que também estreou no mercado internacional de títulos, pagou 10,5 por cento numa oferta de US$ 300 milhões em bônus com prazo de sete anos em 21 de janeiro.
“O interesse por esse tipo de produto é alto”, disse Bevan Rosenbloom, estrategista de dívida de mercados emergentes da RBS Securities Inc. em Stamford, no Estado americano de Connecticut. “Eles têm que pagar pelo fato de o mercado não estar totalmente confortável com seu risco, de basicamente não haver histórico.”
‘Sentimento bom’
Luz Padilla, que administra cerca de US$ 400 milhões como chefe do fundo de renda fixa de mercados emergentes da DoubleLine Capital LP, disse que não comprou os títulos da Tupi porque a empresa não tem fatia de mercado suficiente, tornando-a mais vulnerável a oscilações da economia.
“É um crédito de um país que não poderia ser mais atraente no momento, mas não importa o quanto as pessoas gostem da justificativa para o investimento nos títulos soberanos, elas ainda precisam ter um bom sentimento em relação aos bônus corporativos”, disse Padilla em entrevista por telefone. “Era uma emissora muito pequena num mercado muito fragmentado, e não é um investimento com o qual nos sentimos confortáveis no momento.”
A captação da Tupi no exterior ficou de acordo com as expectativas da empresa, segundo a assessoria de imprensa da companhia em nota por e-mail. Os recursos serão usados para atender à crescente demanda por cimento em projetos habitacionais e de infraestrutura no País, segundo a nota.
A Hypermarcas, quarta maior empresa brasileira do setor de bens de consumo, captou US$ 750 milhões em títulos de 10 anos a uma taxa de 6,75 por cento no mês passado. A empresa paulista planejava inicialmente captar US$ 500 milhões a uma taxa de 7,125 por cento, de acordo com a Moody’s Investors Service.
“A demanda por nosso bônus foi enorme”, disse Martim Prado Mattos, diretor financeiro da Hypermarcas, em entrevista por telefone de São Paulo. “Muito disso é devido ao fato de que poucas empresas de consumo terão exposição a esse mercado, então de certa maneira somos uma das poucas empresas oferecendo esse tipo de investimento.”