Com essa captação, as taxas das Notas do Tesouro Nacional série F para 2014 despencaram 239 pontos-base nos últimos quatro meses, para 10,46% (Stock Exchange)
Da Redação
Publicado em 23 de novembro de 2011 às 07h13.
Rio de Janeiro/Nova York - Os fundos de renda fixa no Brasil registram o maior volume de captação desde 2007, o que derrubou as taxas desses papéis. Para a Quest Investimentos Ltda. e para a Neo Gestão de Recursos, a queda das taxas levará à migração de recursos desses fundos para ações e imóveis.
Os fundos de renda fixa captaram R$ 2,8 bilhões no mês passado, elevando o saldo no ano até outubro para R$ 67 bilhões. Com isso, as taxas das Notas do Tesouro Nacional série F para 2014 despencaram 239 pontos-base nos últimos quatro meses, para 10,46 por cento. O rendimento de papéis com prazo semelhante do governo mexicano caíram 62 pontos-base, ou 0,62 ponto percentual, no mesmo período, para 4,85 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A valorização dos papéis do Tesouro teve início com o corte inesperado na taxa básica de juros, promovido pelo Banco Central em agosto, como parte dos esforços para estimular o crescimento econômico em meio à desaceleração global. Outros emergentes, de Israel à Indonésia, têm adotado medidas semelhantes. Em 14 de novembro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, também aliviou a política para operações de crédito ao consumidor, alimentando especulações de que a medida tenha sido uma alternativa a cortes maiores nos juros.
“Depois que o governo sinalizou mais cortes nos juros, os papéis de renda fixa começaram a precificar isso e a ter bom desempenho, mas quando são precificados aparece o risco de esses cortes não se materializarem”, disse Wagner Murgel, sócio da Neo Gestão de Recursos, fundo de hedge baseado em São Paulo que administra R$ 1,3 bilhão. “Nesse segundo estágio, investidores vão olhar para imóveis, ações e também fundos de hedge.”
Restrições ao crédito
Operadores apostam que o Comitê de Política Monetária vai reduzir a Selic em 50 pontos-base, para 11 por cento, em 30 de novembro, segundo projeções da Bloomberg com base nas taxas das operações do mercado de juros futuros. Tombini baixou a taxa básica em 50 pontos-base em cada uma das últimas duas reuniões do Copom.
O BC disse por e-mail que não comenta movimentos de mercado.
A autoridade monetária disse em 14 de novembro que reduziu as exigências de capital das instituições financeiras para alguns tipos de empréstimos com prazos mais curtos. Por outro lado, o BC elevou a provisão exigida para contratos superiores a 60 meses. A instituição também diminuiu requerimentos de capital para financiamento de veículos com prazo inferior a cinco anos.
O corte da Selic em agosto desencadeou a maior onda de resgate de fundos de títulos pós-fixados em quase dois anos. Investidores retiraram R$ 4,7 bilhões dos Fundos Referenciados DI, que compram papéis atrelados à taxa Selic, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, conhecida como Anbima.
Os títulos públicos pré-fixados renderam 13,3 por cento neste ano, contra alta de 10,3 por cento dos títulos pós- fixados, segundo a Anbima. O Ibovespa acumula queda de 19,4 por cento em 2011.
‘Ambiente turbulento’
Os preços dos imóveis novos em São Paulo subiram 14 por cento nos sete meses até outubro, segundo o Ibope Inteligência.
“A curva dos títulos pré-fixados já está incorporando o ambiente turbulento no exterior e não há muito espaço para queda adicional”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB em São Paulo, em entrevista por telefone. “É hora de voltar para títulos pós-fixados ou, com mais quedas no juro, para ativos com maior rentabilidade.”
A oscilação causada nos mercados globais pelo agravamento da crise de dívida na Europa levará investidores a continuarem preferindo ativos de renda fixa, disse Walter Mendes, ex-chefe de renda variável do Itaú Unibanco Holding SA que hoje é sócio do fundo de hedge Cultinvest Asset Management, em São Paulo.
“Com a tendência de queda dos juros, as pessoas querem pré-fixados porque o nível de retorno é razoável em relação ao risco”, disse Mendes. “Os investidores ainda não estão preparados para ir em direção a fundos mais arriscados como os fundos de hedge por causa da incerteza.”