O maior frigorífico do mundo planeja emitir US$ 400 milhões em títulos em dólar com prazo de oito anos ainda nesta semana (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2012 às 08h10.
Nova York - A JBS SA é a primeira empresa brasileira com classificação “junk”, ou abaixo do grau de investimento, a fazer uma captação no mercado internacional em seis meses para aproveitar a queda nas taxas de referência.
O maior frigorífico do mundo planeja emitir US$ 400 milhões em títulos em dólar com prazo de oito anos ainda esta semana, segundo uma pessoa próxima da transação. A emissão será a primeira de empresas classificadas como junk desde 7 de julho, encerrando o mais longo período de escassez de ofertas entre os maiores mercados emergentes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa dos US$ 900 milhões em papéis da JBS com vencimento em 2018 caiu 409 pontos-base, ou 4,09 pontos percentuais, desde 4 de outubro, para 9,65 por cento.
As evidências de que a crise da dívida europeia está dando um alívio alimentou a recuperação do apetite de investidores por dívida de mercados emergentes. O rendimento médio de papéis com nota inferior a Baa3 pela Moody’s Investors Service Inc. e BBB- pela Standard & Poor’s Ratings Services de países em desenvolvimento caiu 236 pontos-base nos últimos três meses, segundo o JPMorgan Chase & Co.
A JBS está seguindo os passos da polonesa Polkomtel SA e do Rizal Commercial Banking Corp., das Filipinas, em vender dívida de “grau especulativo” no exterior este mês.
“Se você tiver a chance de ir a mercado, você tem que aproveitar essas subidas”, disse Alfredo Viegas, diretor- gerente de mercados emergentes da Knight Capital, em Greenwich, Connecticut. “As janelas de oportunidade para acessar o mercado podem ser muito passageiras. As tesourarias aprenderam isso ano passado.”
Recuperação mundial
Bolsas mundiais, commodities e o euro estão se recuperando enquanto os custos de captação caem para países como Itália e Espanha e a Grécia chega mais perto de um acordo com o detentores de seus títulos de dívida. Autoridades do governo da Alemanha disseram ontem em Berlim que podem estar abertos a aumentar o limite de 500 bilhões de euros para pacotes de ajuda conjunta. Isso pode acontecer a partir de julho, quando um fundo de ajuda permanente for mantido em paralelo a outro fundo temporário.
Os títulos da JBS rendem 527 pontos-base acima do que pagam papéis do governo brasileiro com vencimento similar. Em 4 de outubro, essa diferença chegou ao recorde de 914 pontos-base, segundo dados compilados da Bloomberg. A empresa tem nota de crédito BB pela Standard & Poor’s, dois níveis abaixo do grau de investimento e três abaixo da classificação soberana do País.
A JBS, com sede em São Paulo, contratou o JPMorgan para coordenar sua nova oferta, disse a pessoa, que pediu anonimato porque os termos da emissão não foram fechados. A última vez que a empresa acessou o mercado internacional foi em maio, quando captou US$ 650 milhões pagando taxa de 7,51 por cento.
A assessoria de imprensa da JBS não quis comentar o assunto.
Retomada em captações
O Grupo Virgolino de Oliveira e a Cimento Tupi SA, que têm nota de crédito inferior ao grau de investimento, também estão se reunindo com investidores do mercado de renda fixa esta semana, disseram pessoas familiarizadas com os planos das empresas e que pediram anonimato por não serem autorizadas a falar publicamente.
“O objetivo é a atualização de dados e a atualização da companhia para os investidores”, disse a Cimento Tupi, que tem sede no Rio de Janeiro, em nota enviada por e-mail.
Os títulos de sete anos da emissão de US$ 100 milhões da empresa rendem 9,22 por cento, contra 13,3 por cento em outubro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A empresa tem nota de crédito B pela S&P, cinco níveis abaixo do grau de investimento.
A assessoria de imprensa do Grupo Virgolino, que é sedido em São Paulo e produz açúcar e álcool, não quis fazer comentários.
A taxa dos papéis do Grupo Virgolino que vencem em 2018 acumula uma queda de 248 pontos-base desde 5 de outubro para 10,94 por cento. A nota de crédito está em B.
‘Avançando’
“Parece que a torneira está se abrindo”, disse Sabur Moini, que ajuda a administrar cerca de US$ 2 bilhões em títulos de alto rendimento na Payden & Rygel, de Los Angeles, em entrevista por telefone. “Há uma visão positive de que os europeus estão avançando. As pessoas sentem-se melhor em relação ao cenário macro-econômico.”
Empresas brasileiras com pelo menos uma nota de crédito abaixo do grau de investimento pela Moody’s ou pela S&P emitiram US$ 9,4 bilhões em dívida em 2011, contra o valor recorde de US$ 12,2 bilhões de 2010.
Siddharth Dahiya, analista de crédito da Aberdeen Asset Management em Londres, disse que nem todas as empresas com classificação junk tentando fazer captações no exterior vão conseguir concluir as ofertas.
“Eles estão testando as águas”, disse Dahiya em entrevista por telefone. “Isso não é uma garantia de que eles vão colocar papéis no mercado. Já vimos no passado que roadshows nem sempre terminam em negócios fechados. Fundamentalmente, nada mudou e os assuntos na Europa ainda precisam ser resolvidos.”
Captações internacionais de países em desenvolvimento no início do ano e a recuperação das bolsas abriram caminho para as emissões de títulos junk por empresas brasileiras, disse Viegas, da Knight Capital.
Brasil, Indonésia e África do Sul estão entre países emergentes que emitiram títulos denominados em dólares no exterior este ano. O índice Standard & Poor’s 500 acumula uma alta de 20 por cento desde outubro, enquanto o Ibovespa subiu 23 por cento no mesmo período.
“Tivemos algumas captações soberanas no mercado que foram relativamente bem recebidas e agora as bolsas estão mostrando algum viés de alta, o que abre o pipeline para operações com nota de crédito mais baixa”, disse Viegas. “O medo do quarto trimestre se reduziu.”