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Campos Neto diz que ainda é cedo para estimar impacto fiscal do novo governo

Presidente do Banco Central vê muita incerteza ao redor do tema e recomenda comunicação para unir responsabilidade fiscal e social

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, defende que responsabilidade fiscal e social caminhem juntas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, defende que responsabilidade fiscal e social caminhem juntas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 18 de novembro de 2022 às 13h14.

Última atualização em 18 de novembro de 2022 às 13h18.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, acredita que ainda é cedo para estimar o impacto fiscal dos gastos propostos pelo novo governo Lula, uma vez que ainda existem muitas incertezas na mesa. 

“Precisamos ver o que vai sair das negociações. O que lemos das notícias é que o governo está propondo mais gastos do que o mercado esperava. Mas nós [do BC] não podemos trabalhar com suposições, precisamos esperar para ver”, afirmou Campos Neto em evento da Bloomberg na manhã desta sexta-feira, 18.

A declaração foi dada após dois dias de sangria na bolsa diante do temor dos investidores com a PEC da Transição. A proposta apresentada pelo governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva coloca o programa social Bolsa Família fora do teto de gastos, a principal âncora fiscal do País. 

A estimativa é que a PEC tenha um impacto extra-teto de R$ 200 bilhões de reais. Embora os gastos já estejam postos, ainda não se sabe a duração da medida, o que alimenta as dúvidas. Outro ponto que tem causado aflições é a falta da indicação de um nome para a pasta da Economia.

“A incerteza desempenha um forte papel na atuação do BC. Com menos incerteza, é possível realizar gastos maiores [no campo social] com menos impacto nos mercados e na credibilidade [da disciplina fiscal]. Não ser capaz de comunicar o que será feito, provavelmente fará com que se possa fazer menos”, defendeu o presidente.

Quando se trata do Banco Central, a principal preocupação é que a autoridade monetária mude a trajetória dos juros por conta do risco fiscal. Antes da PEC, a expectativa era de que os juros começassem a cair a partir da segunda metade do próximo ano. A volatilidade dos últimos dias, no entanto, fez o mercado precificar uma nova alta para 2023, com a Selic subindo para 14,50% ao ano.

Campos Neto disse que é difícil estimar em números o quanto de incerteza seria necessário para que o BC mudasse de rota, mas reforçou que a entidade estará atenta que “fará o que for preciso" para acomodar as expectativas e cumprir o mandato de inflação.

Leia também: Entenda de uma vez por todas o que é o teto de gastos

Enquanto não há uma definição, o cenário se traduz em volatilidade na bolsa e no câmbio. Perguntado sobre essa reação, Campos Neto afirmou que o mercado não é um “monstro ou uma entidade”, mas sim uma máquina de alocar recursos que precisa de previsibilidade para funcionar bem. 

O presidente defendeu ainda que a responsabilidade fiscal é indispensável para a continuidade dos gastos sociais. “Caso o aumento de gastos chegue a um ponto de inflexão, cria-se um problema no mecanismo de precificação que resulta na desorganização nos mercados. O saldo disso tudo é prejudicial, principalmente, para os mais necessitados”, disse.

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