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Câmbio e juros podem se recuperar em 2021, diz Evandro Mota, da JGP

Cenário externo oferece oportunidade para mudança, mas país terá que manter o teto de gastos e realizar reformas, afirma gestor

 (André Valentim/Exame)

(André Valentim/Exame)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 05h45.

Última atualização em 9 de dezembro de 2020 às 10h00.

Depois de um ano negativo para o câmbio e os juros, o cenário externo dá oportunidade para que os ativos se recuperem a partir do ano que vem caso o país respeite o teto dos gastos e faça as reformas necessárias. Essa é a visão de um dos sócios e gestores da carioca JGP, Evandro Mota, em entrevista à EXAME Invest.

Mota é um dos principais responsáveis pelo risco de renda fixa e moedas presente nos fundos multimercados da gestora, como o JGP Strategy, JGP Max e JGP Hedge. Para ele, o câmbio é uma aposta atrativa no médio prazo. O gestor também acredita que os juros devem subir, mas não tanto quanto o que está precificado na curva.

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A JGP é conhecida por sua autonomia na decisão de alocação em cada fundo. Há uma discussão sobre o cenário macroeconômico, no qual a maioria dos gestores está alinhado. Mas não existe uma visão da casa que os profissionais devem obrigatoriamente seguir. Cada gestor pode ter uma posição: a cobrança é sobre a rentabilidade do portfólio. "Prezamos pela honestidade nas discussões", diz Mota.

Veja abaixo a entrevista completa feita pela EXAME Invest com o gestor:

Como o mercado está precificando a segunda onda da covid-19?

A crise do coronavírus exigiu uma política fiscal e monetária intensa dos países. Após o desenvolvimento de tratamentos contra a covid-19 e lockdowns, a mortalidade melhorou e houve uma discussão de vacina mais antecipada do que se esperava.

O ano foi marcante também por conta da eleição americana. O grande medo dos analistas do mercado era que o Trump disputasse o pleito com algum democrata mais radical. Mas seu adversário acabou sendo o Joe Biden, que tem uma posição mais ao centro. Essa postura mais centrista, com um eventual Congresso dividido, possibilita que seja um líder menos volátil em relação ao comércio internacional. Então houve uma leitura bastante positiva neste sentido.

Agora, a mortalidade da covid-19 na Europa é menor do que a da primeira onda. O protocolo para cuidar da doença mudou radicalmente desde seu surgimento. Os profissionais de saúde aprenderam muito ao longo do ano. Hoje existe maior conforto com o tratamento do que no início da pandemia.

É, portanto, um ambiente que está endereçado para ser mais positivo do que o registrado na primeira onda. Agora o lockdown é seletivo. Há uma confiança maior em protocolos, não há uma sensação de esgotamento da saúde pública e a vacina parece próxima. Os incentivos seguem sendo discutidos pelos governos. Há intensidade nesses incentivos e proatividade dos legisladores.

Cabe ao Brasil aproveitar o momento e conseguir fazer o dever de casa mínimo, que é endereçar o problema fiscal e manter um cenário positivo para as dívidas, com confiança e serenidade. A condução política do país às vezes é errática, mas esperamos que esse problema seja endereçado. Não sabemos se de forma mediana ou ótima: dependerá da negociação política.

Esse cenário exige uma mudança de posição da carteira?

Passamos a maior parte do ano comprados em dólar contra real. A crise da covid, os juros extremamente baixos e a deterioração fiscal foram os principais vetores para essa posição, além de uma mudança específica na legislação do overhedge, que acabou gerando uma compra significativa de dólar pelos bancos durante este ano.

No médio prazo acreditamos que o câmbio pode ser um ativo interessante se problema fiscal for endereçado da forma como esperamos. Dependendo do nível do câmbio, a moeda pode ser uma aposta positiva.

Quais são as suas perspectivas para juros, câmbio e bolsa?

Para juros e câmbio o ano de 2020 não foi positivo. Foi um bom ano para a bolsa, que recebeu um último impulso pós-eleição de Biden nos Estados Unidos.

Gostamos de separar a análise de cada ativo, pois cada um tem sua peculiaridade. Estamos aplicados em juros pré-fixados e comprados em bolsa, com viés de alocação positiva em real, aguardando um melhor ponto de entrada.

Apesar da fragilidade do real, em grande parte devida ao risco fiscal, acreditamos que o ajuste de conta corrente brasileira, a eventual retirada de parte dos estímulos monetários feitos em 2020 pelo Banco Central e o melhor ambiente externo, decorrente da eleição americana e de a possibilidade da vacina estar disponível nos próximos meses, darão oportunidade à moeda brasileira em 2021.

A inclinação da curva de juros é grande: temos muitas altas de juros precificadas, como reflexo, principalmente, da incerteza fiscal. Se seguirmos com uma agenda de reformas, respeitando o teto, neste ambiente global, este prêmio excessivo deve diminuir ao longo do tempo.

 

Sempre achamos que os juros em 2% ao ano eram muito baixos e poderiam provocar efeitos colaterais, como desvalorizar o real e aumentar a dificuldade em rolar a dívida soberana por meio do Tesouro Selic. Então não vinculamos o aumento de juros a uma eventual crise. Achamos natural ter uma alta de juros, mas estimamos que ela será menor do que a que está precificada na curva. Portanto, ao longo do ano que vem deve haver uma mudança na política monetária em uma intensidade menor do que a da curva.

Além dessas posições citadas temos algumas posições favoráveis em moedas de países emergentes, como rublo, yuan chinês, won sul-coreano e peso mexicano.

Olhando para frente, o ambiente externo positivo pós-eleição americana, a expectativa de vacinas e o crescimento esperado para 2021 para os mercados emergentes são boas notícias para o Brasil. Além disso, o ajuste de conta corrente que tivemos e a expectativa de reversão de parte do estímulo de juros parecem oferecer um ambiente mais positivo para o país em 2021, se o teto de gastos e a agenda econômica forem mantidos.

Como o fundo passou pela crise?

Nosso fundo multimercado Strategy registra retorno de 8,36% no acumulado de 2020 até o dia 30 de novembro, o que é uma boa performance. Viramos 2019 otimistas com a expectativa de crescimento global e da China. Mas identificamos cedo que o vírus poderia causar problemas, já que provocou lockdown, diferentemente da Sars. Nos cobramos para olhar o mercado sem viés. Saímos rapidamente de uma posição otimista e monitoramos esse novo risco.

No primeiro semestre mantivemos posições de viés negativo, majoritariamente devido a covid-19 e suas consequências. Os destaques ficaram por conta das posições compradas em dólar, aplicadas em juros americanos e tomadas em CDS Brasil e nos juros longos no Brasil. As posições negativas foram zeradas no final do primeiro semestre, dando lugar para um segundo semestre mais construtivo, com destaque para posições em bolsa e de trading ativo de juros. As posições táticas em moedas geraram resultados positivos no período.

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