A Caixa tem planos de emitir até US$ 1,5 bilhão em títulos de dez anos até julho (Lia Lubambo/EXAME)
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2012 às 09h14.
São Paulo/Nova York - A Caixa Econômica Federal pode conseguir acessar o mercado a taxas menores que as do Banco do Brasil em sua primeira captação externa diante de sua proximidade com o governo, que melhora a percepção do mercado em relação à sua solvência.
Investidores devem demandar um rendimento menor nos títulos da Caixa considerando que a instituição é totalmente controlada pelo governo e foca suas atividades em crédito imobiliário, enquanto que o Banco do Brasil tem 59 por cento de suas ações com a União, disse Renato Otranto, vice-presidente de mercados de capitais de dívida do BES Investimento do Brasil SA.
A Caixa tem planos de emitir até US$ 1,5 bilhão em títulos de dez anos até julho para diversificar suas fontes de captação, disse o vice-presidente de finanças, Márcio Percival, em abril. O Banco do Brasil paga 5,77 por cento em sua emissão de US$ 1,5 bilhão, com vencimento em 2022, ou 267 pontos-base acima de título do governo com prazo similar, segundo dados compilados pela Bloomberg. Ambos possuem nota de longo prazo Baa2 pela Moody’s Investors Service, a segunda mais baixa no grau de investimento.
A emissão da Caixa seria a quinta de uma instituição ligada ao governo federal no ano, parte do recorde de US$ 25,7 bilhões em captações externas por entidades brasileiras.
“Acredito que ela vai pagar menos do que paga o Banco do Brasil porque não é um banco comercial”, disse Otranto em entrevista por telefone de São Paulo em 11 de maio. “Qualquer investidor que quiser o risco Brasil vai querer participar desta operação.”
A colocação de dívida seria similar àquelas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Banco do Nordeste do Brasil SA e do Tesouro Nacional. Os títulos denominados em dólar do BNDES com vencimento em 2020 têm rendimento de 3,86 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O Banco do Nordeste vendeu US$ 300 milhões em papéis de sete anos em 26 de abril que rendem 4,5 por cento.
Boa possibilidade
A Caixa, criada em 1861 por decreto, depende da poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para financiar suas operações.
“No nosso cenário, a gente ainda prevê neste ano uma possibilidade boa de captar com custo menor do que o interno”, disse Percival, da Caixa, em entrevista por telefone de São Paulo em 9 de abril.
O Banco do Brasil não quis comentar, de acordo com e-mail de sua assessoria de imprensa em Brasília ontem.
Enquanto o volume de captações externas por empresas brasileiras perdeu o ritmo desde o primeiro trimestre com o aprofundamento da crise financeira na Europa, que corroeu a demanda por ativos de maior rendimento, a colocação da Caixa provavelmente atrairá investidores, disse Siddharth Dahiya, analista de crédito em Londres da Aberdeen Asset Management.
“Os mercados têm estado fracos tecnicamente, mas não acho que uma entidade forte e controlada pelo governo como a Caixa terá problemas para emitir bônus”, afirmou Dahiya por e-mail.
"Histórico" no mercado
Para Leonardo Kestelman, diretor da Dinosaur Securities Inc., os investidores podem exigir que a Caixa pague taxa superior à do Banco do Brasil, que é mais conhecido pelas ofertas anteriores no mercado externo. O Banco do Brasil, maior banco da América Latina em total de ativos, acessou o mercado internacional de crédito 12 vezes nos últimos três anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“A taxa do Banco do Brasil ainda seria mais baixa porque o mercado está acostumado com ele”, disse Kestelman em entrevista por telefone de São Paulo. “Eles têm um histórico no mercado. Eles tiveram anos e anos de avaliação por parte do mercado.”