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Bull market reduz dependência das gigantes de tecnologia. Vai durar?

Ações baratas, pequenas e economicamente sensíveis lideram a alta das bolsas, beneficiando-se da expectativa de que o lockdown esteja quase no fim

Touro de Wall Street (David Hogan/Getty Images)

Touro de Wall Street (David Hogan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 06h11.

Última atualização em 19 de dezembro de 2020 às 06h15.

A pandemia de covid-19 vem causando estrago enorme à economia americana – especialmente às partes que só conseguem prosperar quando as pessoas estão dispostas a sair de casa e gastar algum dinheiro. Porém, do modo como Michael Barton encara a situação, “não dá para achatar a montanha Vail”. O famoso destino de esqui “continua aqui, e as pessoas continuam lamentando a volta para casa”, diz o cogestor do fundo Baron Partners, que tem ações dos resorts Vail. “Há muita demanda reprimida por viagens turísticas.”

Este tipo de mentalidade tem dominado Wall Street nas últimas semanas. A economia não voltou de fato, mas o mercado está pronto para presumir que vai. E os avanços promissores nas vacinas fizeram investidores apostar nas empresas que acham que mais se beneficiarão de uma volta ao normal. A Vail Resorts – ativo de longa data do fundo Baron – cresceu quase 19% em novembro, comparado a cerca de 11% no S&P 500. Antes de novembro, a Vail vinha se arrastando no S&P em 2020.

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Profissionais de investimentos estão chamando isso de uma rotação bastante aguardada: longe das megaempresas de tecnologia como Amazon, Facebook e Alphabet (a holding do Google), que têm sido as estrelas incontestáveis deste bull market e na direção da série B com… bem, com quase todo o resto. Além de setores cíclicos do mercado que sobem e descem com a economia, como os de turismo, lazer, energia, financeiro e indústrias, a rotação também vem se traduzindo em desempenho melhor para empresas menores e ações não-americanas.

Ações de valor – isto é, aquelas geralmente negociadas a preços baixos com relação a seus lucros – estão particularmente quentes. O Índice de Valor Russell 1000 acaba de completar seu melhor mês, com alta de 13%. Seu índice equivalente de ações de crescimento de preços elevados subiu 10%. Enquanto isso, o índice Russell 2000 de empresas de pequeno porte se recuperou 18% em novembro.

Fundos de índice negociados em Bolsa -- os ETFs (sigla para Exchange-traded funds) -- que investem em empresas financeiras tiveram seu melhor mês de ingresso de recursos desde 2016. Fundos que acompanham setores industriais tiveram a maior alta desde janeiro de 2018, com os ETFs de energia levando a maior parte do dinheiro novo desde março, à medida que o petróleo se recuperava a seu maior nível em oito meses em 25 de novembro.

Na essência, a rotação se baseia na ideia de que há muito dinheiro na economia no aguardo de ser gasto em coisas diferentes de streaming de vídeo e compras online. O índice americano de poupança pessoal era de 7,2% no fim de 2019. Até abril, ele tinha aumentado para 33,7%, e ainda estava em 13,6% em outubro – quase o dobro do valor inicial no fim do ano passado.

Se os consumidores retomarem os hábitos pré-pandêmicos, isto poderia detonar o que Jim Paulsen, estrategista-chefe de investimentos do Leuthold Group, vem chamando de “bomba de crescimento”, à medida que as empresas se movimentam para substituir inventários mais enxutos.

Gestores de fundos com um viés de valor dizem que ainda há oportunidades de tirar vantagem das mudanças nos gostos dos investidores. Chris Davis, do Davis Funds, indica os bancos Wells Fargo e Capital One, cujos preços foram esmagados quando os lockdowns tiveram início em março e que ainda não se recuperaram totalmente.

Para Davis, investidores estão se esquecendo de como as regulamentações bancárias implementadas após a crise financeira mundial vêm tornando estes credores mais capacitados para lidar com recessões.

“Quando você vê as avaliações deles, o volume de dinheiro que eles produzem, as relações de capital que têm e as reservas que conseguiram juntar – eles de fato têm esse traço de resiliência e durabilidade, e ainda assim são avaliados neste nível surpreendentemente baixo”, afirma ele.

Os gerentes financeiros estrelados do mundo de títulos com crescimento elevado, que surfaram no desempenho alto da tecnologia com retornos espetaculares, também estão notando a mudança de humor. Cathie Wood, cuja empresa ARK Investment Management administra três dos ETFs de melhor desempenho deste ano, disse em um webinar recente que uma recuperação econômica “pode beneficiar muitos setores de valor no curto prazo”. Porém, ela argumenta que, mesmo sem uma pandemia, muitas indústrias tradicionais continuam vulneráveis e podem ser desabrigadas pelas novas tecnologias. “O mundo do valor vai lembrar um pouco um campo minado”, disse ela.

Wall Street já ouviu a música da rotação antes. O que por um momento pareciam ser rotações duráveis de crescimento para valor nos anos recentes acabou perdendo o gás. Além disso, rotações não ocorrem tipicamente de modo perfeitamente ordenado – em alguns dias, as mudanças nos líderes de mercado fazem parecer como se os investidores estivessem mais uma vez preocupados com o vírus, em vez de otimistas quanto às vacinas.

Ainda há um inverno difícil e uma transição presidencial americana pela frente, e a economia pode passar por ainda mais estragos com que os investidores estão contando se Washington não aparecer com incentivos econômicos e auxílios adicionais para trabalhadores demitidos.

Ou seja, quanto tempo mais esta mudança pode durar de fato? “Há anos, todo mundo tenta cravar o momento da mudança de crescimento para valor”, diz Dave Wagner, gestor de portfólio e analista na Aptus Capital Advisors. Desta vez, ele acredita que a reviravolta econômica possibilitada por uma vacina pode ser o suficiente para fazer a rotação vingar.

“Ao contrário das últimas vezes que vimos, há um quadro melhor para o valor”, diz ele. “Você tem uma estrada maior que pode continuar levando o valor adiante no futuro, muito mais do que no caso do crescimento.”

Rob Arnott, fundador da consultora de investimentos Research Affiliates, tem sido há anos um defensor ferrenho dos títulos de baixo valor e cético da disparada das ações de crescimento. “Foi assim que eu ganhei meu apelido de perma-bear”, diz ele (mistura de “permanente” com bear market, os “mercados urso”, em tendência de baixa).

“Mas eu adoro ações – quando estão baratas.” Até recentemente, esta era uma posição difícil de adotar: ao longo da última década, o índice Russell de títulos de valor tem ficado atrás das ações de crescimento a um índice anual de 6,7 pontos percentuais.

Porém Arnott diz que, quando o valor está na moda, pode predominar por um longo período. Após o estouro da bolha de tecnologia 20 anos atrás, o índice de valor Russell 1000 se saiu melhor que o índice de crescimento Russell 1000 de março de 2000 a agosto de 2006. “Na bolha de tecnologia original, de 2000, quantas das 10 maiores ações de capitalização de mercado de tech tiveram índice acima do mercado nos 10 anos seguintes?”, pergunta ele. “Zero. Nenhuma.”

Uma grande diferença em comparação a 2000: Títulos de crescimento e tecnologia não estão exatamente pedindo arrego – só não são as ações que têm crescido mais depressa nas últimas semanas. Ainda assim, Arnott crê que, do mesmo jeito que em 2000, investidores podem finalmente estar começando a ver ações de crescimento como supervalorizadas e ações de valor como um negócio melhor.

“Acredito que vejamos algo entre um desempenho acima do mercado impressionante e estupendo para os títulos de valor nos próximos três a cinco anos”, afirma ele.

Os touros de tecnologia seguem inabalados. Vance Howard, da Howard Capital Management, que tem apostado alto no índice Nasdaq 100, forte em tecnologia, diz que as ações do setor continuam se saindo bem o bastante comparadas às de valor para sugerir que o humor do mercado ainda não mudou. Para ele, parte da empolgação em torno da rotação é resultado de gestores de fundos de valor que perderam grande parte da corrida deste ano e precisam ter uma história para contar aos clientes.

“Grande parte dos gestores quer começar a vender o peixe deles porque precisa inventar uma história para explicar por que está em baixa”, diz ele. Ao menos por enquanto, investidores que pegaram a fila menos cheia tiveram números bons para exibir.

*Tradução de Fabrício Calado Moreira.

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