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Buffett não tem batido o mercado; será que ele perdeu a mão?

Estudo mostra que nem talento especial de Buffett para investir o tem ajudado a superar a média do mercado; reles mortais, portanto, não deveriam nem tentar


	Warren Buffett: para estatístico, não deveríamos buscar profissionais com talento raro para investir, e sim ficar na média do mercado
 (Danny Wilcox Frazier/Redux/LATINSTOCK)

Warren Buffett: para estatístico, não deveríamos buscar profissionais com talento raro para investir, e sim ficar na média do mercado (Danny Wilcox Frazier/Redux/LATINSTOCK)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2014 às 16h56.

São Paulo – Acadêmicos vivem dizendo que é muito difícil superar o desempenho da média do mercado ao investir, e um recente estudo mostra que até para o megainvestidor Warren Buffett a tarefa pode se mostrar hercúlea.

Por 49 anos, o desempenho dos investimentos do bilionário conseguiu superar seu índice de referência (o chamado benchmark), o índice S&P 500 com dividendos.

Porém, em quatro dos últimos cinco anos, Buffett não conseguiu bater o índice, obtendo um desempenho de investidor medíocre.

Tudo isso é mostrado, por meio de uma série de medições estatísticas, em um estudo conduzido por Salil Mehta, um estatístico independente com experiência em Wall Street e que já foi um dos diretores do Tesouro americano.

O estudo, parcialmente disponível no blog Statistical Ideas, sugere que de fato Buffett foi abençoado com o que se convenciona chamar no mercado de alfa – a habilidade para superar um índice sem adicionar risco ao portfólio. Não à toa o megainvestidor recebeu o apelido de Oráculo de Omaha.

Por outro lado, o estudo mostra também que superar a média do mercado é tão difícil que até mesmo Buffett parece estar “perdendo a mão” ultimamente.

O editor de Negócios do jornal americano The New York Times obteve com exclusividade uma parte do estudo de Mehta e conversou com o estatístico.

Mehta afirmou ao jornalista que a análise do desempenho de Buffett mostra como é difícil manter a superação do mercado, mesmo para um mestre como o bilionário.

“E isso sugere que todo mundo deveria simplesmente investir em fundos indexados e sequer pensar em tentar bater o mercado”, disse o estatístico na entrevista.

Mehta não é o único especialista a fazer esse alerta. Muitos estudiosos consideram que superar consistentemente um índice de mercado pode ter um bom componente de sorte – ou acaso, para ser mais técnico – ou de uma habilidade extremamente rara entre os seres humanos.

Em função disso, o mais inteligente para ter retornos consistentes em uma economia saudável seria investir nos fundos passivos ou indexados, aqueles que se dedicam a replicar o desempenho de um índice de bolsa.

Um tipo de fundo indexado são os ETFs (Exchange Traded Funds), que têm suas cotas negociadas em bolsa como se fossem ações.

O próprio Buffett reconhece os benefícios dessa estratégia, chamada de passiva.

Na sua última carta anual escrita aos acionistas da Berkshire Hathaway, sua empresa de investimentos, Buffett conta que instruiu a esposa em testamento a manter seus recursos investidos em um fundo indexado ao S&P 500 de baixo custo e em títulos do Tesouro americano depois que ele morrer.


Bilionário é uma anomalia

Embora seja de conhecimento geral no mercado que Warren Buffett segue os passos de Benjamin Graham e sua estratégia de value investing (algo como “investimento em valor”), é difícil explicar o que, de fato, fez o bilionário ser tão bem-sucedido em sua carreira.

Afinal, por mais que os investidores tentem, é muito difícil replicar sua maneira de investir. Muitos especialistas defendem, inclusive, que seu estilo é impossível de ser imitado por um investidor pessoa física comum.

O estudo de Mehta não se propõe a explicar como Buffett conseguiu bater o mercado por todos esses anos, mas mostra, estatisticamente, que o Oráculo de Omaha é uma anomalia.

Segundo o estudo, do início de 1965 ao final de 2013, Buffett superou o S&P 500 mais dividendos em 9,9 pontos percentuais ao ano em média, algo extremamente raro.

De acordo com Mehta, o megainvestidor se enquadra em um grupo que perfaz 1% da população de investidores. Esse restrito grupo é formado por aquelas pessoas que possuem algum tipo de habilidade, além de meramente sorte, para alcançar um resultado tão acima da média durante um período tão longo de tempo.

Contudo, essa conclusão do estudo também sugere que a maioria esmagadora dos investidores – inclusive os profissionais da área financeira – não possui esse alfa.

Se a habilidade para bater o mercado consistentemente é tão rara, vale a pena buscar uma gestão profissional que se acredite capaz de fazê-lo? Essa é a questão que o estudo coloca.

Segundo Jeff Sommer, para Mehta, o melhor é não buscar esses profissionais, e nem tentar, por si só, superar o retorno médio do mercado.

E agora, Buffett “perdeu a mão”?

O estudo de Mehta mostra que há apenas 3% de chance de que a recente queda de performance de Buffett tenha sido somente azar.

Buffett não quis comentar o fato à coluna do The New York Times. O megainvestidor já explicou, previamente, porém, que o desempenho da Berkshire pode ser inferior ao do mercado em períodos de elevação muito rápida das ações, uma vez que a companhia se baseia nos princípios de investir no valor intrínseco das empresas.

Embora Mehta não arrisque uma explicação do que possa ter ocorrido ao Oráculo de Omaha, ele compara Buffett a Michael Jordan, diz Sommer.

“Houve essencialmente duas carreiras. Na primeira, ele era um superstar. E na segunda, mais tarde, não era mais”, disse Mehta ao NYT. Será que o oráculo perdeu seus poderes?

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