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BRICS Pay: 'Pix do BRICS' está em fase técnica avançada, mas não é consenso no bloco

"Estamos em fase de testes-piloto com parceiros-chave", afirmou especialista da força-tarefa responsável pelo projeto no bloco; iniciativa foi proposta pela Rússia e ainda não tem decisão sobre implementação

Sistema está sendo pensado dentro do bloco para permitir transferências rápidas, com menor custo e risco entre os países-membros (Divulgação)

Sistema está sendo pensado dentro do bloco para permitir transferências rápidas, com menor custo e risco entre os países-membros (Divulgação)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 20 de agosto de 2025 às 17h52.

Última atualização em 22 de agosto de 2025 às 19h46.

(Matéria atualizada em 22 de agosto às 19h05 para corrigir informações*)

O desenvolvimento do BRICS Pay, uma espécie de ‘Pix dos BRICS’ está em fase avançada — ao menos no aspecto técnico. “Estamos em fase de testes-piloto com parceiros-chave e o lançamento está previsto para o final de setembro de 2025”, afirmou à EXAME Andrey Mikhaylishin, que trabalha na força-tarefa de pagamentos e fintechs do grupo de trabalho de serviços financeiros do conselho empresarial do bloco.

A iniciativa do BRICS Pay partiu da Rússia, que tem liderado os esforços para o sistema de pagamento instantâneo, pensado para permitir transferências rápidas, com menor custo e risco entre os países membros do bloco.

Mas a plataforma não foi validada ou internalizada pelos países-membros no âmbito do Conselho Empresarial do BRICS. “Até o momento não existe consenso entre os países-membros sobre o tema, tampouco qualquer decisão sobre implementação de um sistema semelhante a um ‘Pix do BRICS’”, disse em nota a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que secretaria este ano o Conselho Empresarial do bloco (CEBRICS).

“O GT de Serviços Financeiros do CEBRICS trabalha para identificar denominadores comuns, mas o processo segue em fase de discussão.”

Mikhailishin destacou que, apesar de alguns detalhes de infraestrutura ainda precisarem ser resolvidos, os testes iniciais estão sendo realizados em condições controladas para garantir a estabilidade, segurança e uma experiência de usuário fluida antes do lançamento em mais escala.

“O feedback dessas fases iniciais tem sido muito encorajador, e continuamos dentro do cronograma anunciado [de desenvolvimento]”, afirmou.

De acordo com Mikhailishin, o objetivo do sistema de pagamento instantâneo é de complementar os sistemas de pagamento existentes, oferecendo mais segurança e acelerando a redução dos custos das transações internacionais entre os onze países que formam o bloco econômico.

Na prática, a iniciativa poderia diminuir a dependência do dólar, algo que tem gerado preocupações na Casa Branca. O presidente, Donald Trump, chegou a solicitar investigações sobre o Pix brasileiro em julho deste ano.

O BRICS Pay utiliza o Decentralized Cross-border Messaging System (DCMS), uma tecnologia descentralizada (inspirada no blockchain), que permite a validação das mensagens em cada “nó” da rede, ao invés de uma unidade centralizada como o sistema SWIFT.

O BRICS Pay também planeja uma integração com o sistema Pix do Brasil. “Compartilhamos um otimismo cauteloso de que, até o final de 2025, será possível anunciar a criação de um gateway de interoperabilidade BRICS Pay–Pix", afirmou Mikhailishin.

"Isso permitiria que cidadãos brasileiros usassem seu sistema de pagamento digital no exterior por meio de QR code, enquanto visitantes internacionais ao Brasil poderiam realizar pagamentos em comerciantes locais utilizando seus próprios instrumentos de pagamento nacionais através da plataforma BRICS Pay.””

A Confederação, ainda na condição de representante do Conselho Empresarial do BRICS, afirmou que:

  • A iniciativa mencionada não corresponde a uma decisão formal dos BRICS, mas, sim, a conversas iniciais ocorridas no âmbito do Grupo de Trabalho de Serviços Financeiros do Conselho Empresarial dos BRICS (CEBRICS), e, também, no âmbito das discussões do governo, sobre as quais não temos mais informações.
  • Durante a presidência russa, em 2024, algumas propostas e alternativas foram apresentadas, mas trata-se apenas de insumos para discussão, sem validação pelo grupo.
  • As discussões permanecem em nível exploratório, avaliando eventuais prioridades e alternativas para facilitar pagamentos entre os países.
  • Qualquer avanço nesse sentido exigiria diálogo com os reguladores nacionais — no caso do Brasil, o Banco Central — e, até o momento, não houve discussões formais nesse sentido.
  • O governo brasileiro tampouco se manifestou formalmente sobre o tema, limitando-se, nas interações com o CEBRICS, a acompanhar o debate conduzido pelo setor privado de forma preliminar e separada.
  • O setor privado tem, naturalmente, interesse em mecanismos que reduzam custos transacionais e aumentem eficiência, mas as diferenças e complexidades entre os sistemas financeiros dos países exigem cautela.
  • A CNI tem atuado de forma cuidadosa, evitando adotar linguagem de confronto em relação a sistemas existentes e priorizando sempre a cooperação.
  • No Relatório Anual de 2025 do Conselho Empresarial do BRICS, sob a presidência brasileira, o tema foi listado na categoria “under discussion”, justamente para deixar claro que não há consenso, nem decisão

* Correções:

- A versão original da matéria afirmava que o lançamento do BRICS Pay estava previsto para setembro de 2025, sem mencionar que não há consenso entre os países-membros, dando a entender que se tratava de um lançamento em larga escala para o bloco.

- A matéria dizia que Andrey Mikhaylishin era 'chefe de trabalho do grupo de serviços empresariais do Conselho Empresarial dos BRICS'. Na verdade, ele é sublíder de uma das forças tarefas específicas do Grupo de Trabalho de Serviços Financeiros do bloco. Os GTs são instâncias consultivas que discutem e elaboram recomendações.

- A reportagem afirmava que “O projeto recebeu aprovação de todos os capítulos nacionais do grupo de trabalho de Serviços Financeiros do Conselho Empresarial dos BRICS, conforme o relatório Anual de 2025”. Na verdade, ele está “sob discussão”, o que significa que não há consenso, nem decisão.

- Foram incluídos esclarecimentos da CNI, na condição de órgão que está secretariando o Conselho Empresarial do BRICS.

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