Follow-on abre oportunidade para Marfrig aumentar sua participação na BRF | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 17 de dezembro de 2021 às 11h12.
Última atualização em 17 de dezembro de 2021 às 18h33.
As ações da BRF (BRFS3) foram um dos destaques da bolsa nesta sexta-feira, dia 17: fecharam em alta de 5,39% depois que a empresa de alimentos informou ao mercado na noite de quinta que pretende realizar uma oferta subsequente de ações (follow-on). Na abertura, a ação chegou a subir 11,8%.
A operação vai reforçar a estrutura de capital da companhia e atende aos anseios dos investidores, que esperam desde 2018 um alívio para a alta alavancagem da empresa. O destino dos recursos deve ser justamente o pagamento das dívidas, o que permitirá que a empresa retome seus planos de investimento em mercados alternativos.
“O follow-on resolve o problema de estrutura de capital que há anos argumentamos ser o grande limitador da capacidade da BRF de gerar valor para acionistas. Vemos como potencialmente positivo para o múltiplo de lucro por ação (EPS) já no primeiro ano, apesar da diluição [dos acionistas]”, avaliaram em relatório analistas do BTG Pactual (BPAC11).
Anunciada na noite de ontem, a operação pretende captar mais de 6 bilhões de reais, com a emissão de até 325 milhões de ações (6,630 bilhões de reais ao preço de fechamento de quinta-feira, de 20,27 reais por ação). O follow-on ainda precisa ser aprovado pelos acionistas em assembleia marcada para o dia 17 de janeiro.
A oferta também foi encarada por analistas e investidores como uma oportunidade para a concorrente Marfrig (MRFG3) aumentar a sua participação na empresa e assumir o controle. Em 21 de maio, a empresa controlada pelo empresário Marcos Molina adquiriu o equivalente a 24,33% das ações da BRF e, pouco dias depois, em 3 de junho, essa participação foi elevada para 31,66% do capital. Atualmente a Marfrig é a maior acionista da BRF.
As ações da Marfrig (MRFG3) também operaram em alta o dia inteiro e encerraram com ganho de 3,71%.
A compra de novos papéis via follow-on é uma das poucas exceções que permite à Marfrig adquirir ações da BRF sem acionar a chamada “poison pill”. A cláusula prevê que, uma vez adquirido um percentual acima de 33,33% das ações, o adquirente é obrigado a realizar uma oferta pública para aquisição de ações (OPA). O preço da OPA embutiria um prêmio de 40% sobre a média de preço das ações da BRF nos 30 pregões anteriores à oferta.
“De acordo com o estatuto social da BRF, o follow-on não aciona a poison pill, o que dá margem de manobra para a Marfrig comprar uma participação incremental sem estar sujeita ao prêmio de 40% sobre o preço médio dos últimos 30 dias, fixado nas regras da poison pill. Para ter uma participação próxima de 50%, não ficaríamos surpresos se virmos a Marfrig sendo agressiva neste follow-on”, afirmam os analistas do Credit Suisse em relatório.
Se a Marfrig dominar toda a oferta da BRF, sairia com 52% de participação na empresa, nos cálculos do BTG Pactual. A recomendação dos analistas é neutra para os dois papéis.