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Brexit acelera 100 anos de enfraquecimento da libra

À medida que a economia cair, o mesmo poderia acontecer com a influência britânica, o que afetaria mais a libra


	A libra esterlina: a moeda mais antiga do mundo comprava quase US$ 5 durante a Primeira Guerra Mundial. No dia do referendo sobre a UE, ela era cotada a US$ 1,50
 (Chris Ratcliffe/AFP)

A libra esterlina: a moeda mais antiga do mundo comprava quase US$ 5 durante a Primeira Guerra Mundial. No dia do referendo sobre a UE, ela era cotada a US$ 1,50 (Chris Ratcliffe/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2016 às 17h34.

Em 1967, o primeiro-ministro britânico Harold Wilson declarou que a desvalorização não diminuiria a “libra no bolso”.

O Ministro das Finanças do Reino Unido, Norman Lamont, admitiu que o escutaram “cantar no banho” quando a ligação entre a libra esterlina e o marco alemão foi eliminada em 1992, o que provocou uma queda da moeda.

Se a história servir de guia, a certeza do líder do Brexit, Boris Johnson, de que as consequências negativas de sair da União Europeia estão “sendo muito exageradas” também estará errada.

Poucas formas de traçar a queda do Reino Unido desde o império são melhores do que sua moeda. Historiadores, economistas e especialistas em política externa apontam para o declínio de mais de 10 por cento desde o referendo do dia 23 de junho como sinal de mais uma etapa negativa no papel e na influência mundiais do Reino Unido.

“A história da libra frente ao dólar no último século é essencialmente uma escada descendente com grandes degraus permanentes”, segundo Rui Pedro Esteves, professor associado de Economia da Universidade de Oxford.

Cem anos de desvalorização

A moeda mais antiga do mundo – a palavra inglesa “sterling” vem do alemão antigo “ster”, que significa “forte” ou “estável” – comprava quase US$ 5 durante a Primeira Guerra Mundial. No dia do referendo sobre a UE, ela era cotada a US$ 1,50.

A moeda chegou a US$ 1,30 pela primeira vez desde 1985 nesta terça-feira. Analistas do HSBC Holdings Plc estão entre os que projetam US$ 1,20 como destino provável.

O investidor bilionário George Soros sugere US$ 1,15, o equivalente a cerca de um euro – cerca de 60 centavos de dólar abaixo da média desde 1971.

A libra caiu pela primeira vez em 1931, após sair do padrão ouro, no qual estava sobrevalorizada, assim como em 1944, quando entrou no sistema de taxas de câmbio administradas de Bretton Woods. Outra desvalorização de 30 por cento foi engolida em 1949 e depois Wilson promulgou mais uma queda em 1967, em meio aos problemas com a balança de pagamentos do Reino Unido.

Na década de 1970, o FMI foi chamado para ajudar a evitar uma crise da libra, porém a moeda voltou a cair no começo da década de 1980. O Reino Unido se uniu ao Mecanismo de Taxas de Câmbio, um precursor do euro, em 1990, mas foi obrigado a sair apenas dois anos depois porque não conseguia sustentar uma ligação com o marco alemão.

Agora, especula-se que a vida fora da UE custará à libra seu lugar no nível superior das moedas de reserva. Atualmente, a moeda responde por 5 por cento das reservas de moeda estrangeira, segundo o FMI.

É possível que uma moeda mais fraca não ajude muito a fortalecer a economia britânica. Embora deva impulsionar a produção fabril e o turismo, três quartos da economia dependem de serviços como as finanças e seu futuro está sujeito ao acesso à UE que o governo britânico conseguir negociar.

À medida que a economia cair, o mesmo poderia acontecer com a influência britânica, o que afetaria mais a libra. Sair da UE põe em perigo o status do distrito financeiro de Londres como centro mundial e traz o risco de minar a voz do Reino Unido em fóruns de política como a ONU.

“A relevância do Reino Unido e de Londres como centro global vai diminuir”, disse Ian Bremmer, presidente da Eurasia Group. “Não devemos nos enganar, este é um momento crítico. O Brexit é um golpe”.

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