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Brasileira comanda maior fundo hedge gerenciado por mulher

Leda Braga, uma brasileira de 48 anos, gerencia a Systematica Investments, com seu principal fundo valendo US$ 8,4 bilhões


	Leda Braga, da Systematica Investments: seu principal fundo, o BlueTrend, de US$ 8,4 bilhões, deu um retorno de 9,5 por cento em janeiro
 (Denis Balibouse/Reuters)

Leda Braga, da Systematica Investments: seu principal fundo, o BlueTrend, de US$ 8,4 bilhões, deu um retorno de 9,5 por cento em janeiro (Denis Balibouse/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2015 às 16h47.

Londres - Leda Braga subiu ao palco do hotel InterContinental, em Genebra, neste mês e começou a cantar “Happy”.

“Can’t nothing bring me down”, gritou a gerente de fundo hedge, conhecida por alguns como Lady Braga, para cerca de 80 funcionários, entoando com sua voz rouca o sucesso de Pharrell Williams após um dia cheio de reuniões, conforme ela mesma lembraria depois.

“Meu tom é alto demais”.

Braga, uma brasileira de 48 anos com doutorado em Engenharia, tinha bons motivos para estar feliz. Seu principal fundo, o BlueTrend, de US$ 8,4 bilhões, deu um retorno de 9,5 por cento em janeiro, um dos maiores ganhos entre os fundos hedge de todo o mundo.

Este foi o primeiro mês de negociação da executiva desde o desligamento da BlueCrest Capital Management, do bilionário Michael Platt, após 14 anos de trabalho.

Agora, ela gerencia mais dinheiro do que qualquer outro fundo hedge administrado exclusivamente por uma mulher.

A nova empresa de Braga, a Systematica Investments, tem na carteira o BlueTrend, que negocia contratos futuros em mais de 150 mercados, incluindo ações, bonds, moeda estrangeira e commodities, e o BlueMatrix, um fundo de US$ 600 milhões que negocia ações. Ambos dependem de algoritmos de computadores para a realização de negócios e eram supervisionados por Leda Braga quando ela trabalhava para Platt.

“Os negócios da Systematic tiram a emoção das negociações”, disse Braga, que vestia para a entrevista uma camisa listrada, saia lápis cinza e uma gargantilha de ouro, neste mês, em seu escritório em Genebra com vista para os Alpes Suíços.

“Quando um trader utiliza o limite de perdas, ele leva o sistema para casa. A caixa preta não se importa com isso”.

Participação substancial

Braga e Platt, 46, estudaram a divisão “algumas vezes” durante um certo tempo, disse ela. Eles se separaram amigavelmente, disse Braga. A BlueCrest ficou com uma participação “substancial” na empresa dela, segundo um porta-voz de ambos.

“Leda é uma grande amiga minha e nós ainda temos participação na empresa dela”, disse Platt por e-mail. “Meu apreço e admiração por Leda é alto como sempre. A separação ocorreu para maximizar oportunidades e oferecer a Leda o novo desafio de conduzir seu próprio negócio. Isso é bom para os clientes, para nós e também para Leda”.

O momento da mudança foi impulsionado em parte pela preocupação de Braga em relação à publicidade negativa em torno de um fundo interno de proprietary-trading da BlueCrest e aos rebaixamentos das notas da firma de Platt por duas assessorias de fundos hedge, a Aksia LLC e a Albourne Partners Ltd., segundo três fontes familiarizadas com a decisão.

A Aksia apontou a BlueCrest como uma empresa onde não se deve investir e recomendou que seus clientes resgatassem ativos devido à falta de transparência.

Platt preferiu não comentar sobre o fundo interno, nem a respeito dos rebaixamentos. O diretor financeiro da BlueCrest, Andrew Dodd, disse no ano passado que a empresa realizou divulgações “adequadas” para os investidores.

Desde que a Systematica começou a fazer negócios como uma firma independente, seus ativos cresceram de US$ 8,5 bilhões para US$ 9,2 bilhões.

Os investidores alocaram US$ 240 milhões na firma em janeiro, disse Braga. O ganho da BlueTrend naquele mês, o melhor desde 2008, contrasta com uma queda de 6 por cento do fundo principal de Platt, o BlueCrest Capital International, que negocia sobre tendências macroeconômicas e teve problemas quando o franco suíço deu um salto depois que o banco central removeu um limite aos aumentos em relação ao euro.

O BlueTrend teve uma baixa de 2,4 por cento nas duas primeiras semanas de fevereiro e subiu 6,9 por cento neste ano até 13 de fevereiro, segundo uma carta a investidores à qual a Bloomberg News teve acesso.

Essas oscilações são típicas dos fundos sistemáticos, que podem ser vistos como erráticos pelos investidores. O fundo principal da Cantab Capital Partners, por exemplo, estava em baixa de 6,8 por cento no fim de julho, antes de se recuperar e terminar o ano em alta de mais de 39 por cento. Em 2013, o mesmo fundo caiu quase 28 por cento.

‘Ano doloroso’

Braga disse que planeja expandir a Systematica criando novos produtos, como um fundo que usa algoritmos para negociar derivativos no mercado de balcão (fora da bolsa) e oferecer um produto que cobra apenas tarifas de gestão e nada pelo desempenho.

Para se tornar maior, Braga terá que convencer os investidores céticos em relação aos fundos sistemáticos após três anos sem brilho de que a estratégia dela é vencedora e provar que pode gerenciar uma empresa, não apenas um fundo.

Ela também terá que colocar-se à prova em um setor onde poucas mulheres gerenciam o dinheiro e nenhuma na escala de Braga. Jamie Zimmerman, fundadora da Litespeed Management, com sede em Nova York, gerencia cerca de US$ 3 bilhões, e Judith Sciamma-Sabbah, da WyeTree Asset Management, em Londres, supervisiona US$ 536 milhões.

Os ativos da BlueTrend caíram em relação ao pico de US$ 15,4 bilhões de abril de 2013, quando os investidores começaram a sacar dinheiro após dois anos praticamente sem ganhos. O fundo caiu 11,5 por cento em 2013. As empresas que realizam negociações algorítmicas tiveram dificuldades nos últimos anos porque a intervenção governamental nos mercados, como a flexibilização quantitativa, influenciou os modelos computacionais.

“Foi um ano muito doloroso para nós”, disse Braga a respeito de 2013. “Eu gosto de dizer que a vida é feita de ciclos. Por isso, depois de cada tempestade vem a bonança”.

O BlueTrend terminou 2014 em alta de quase 13 por cento.

Estimular a criação

A inovação é crucial para as firmas sistemáticas e parte da função de Braga é estimular o processo criativo para que sua equipe tenha novas ideias, disse ela.

“Há um momento criativo em que você pensa em uma hipótese, talvez de que os dados sobre taxas de juros empurram o câmbio, e então nós pensamos a respeito antes de buscar os dados”, disse ela.

“Nós não buscamos os dados para ter ideias. Dessa forma, você só encontra dados incidentais. Se for apenas um padrão dos números, é uma justificativa fraca. Por isso, é muito melhor dizer que você pode ver por que tal mercado vai cair ou subir, e aí você se apega a essa tese, porque é uma ideia válida”.

Criada no Rio

Braga nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Ela se mudou para Londres em 1987 para estudar na Imperial College, onde obteve seu doutorado. Ela liderou projetos de pesquisa e lecionou na universidade por mais três anos antes de se juntar ao JPMorgan Chase Co. em Londres, onde permaneceu por cerca de sete anos como analista na equipe de pesquisa de derivativos.

Lá, ela conheceu Platt, que estava na mesa de proprietary-trading do banco com sede em Nova York, e Bill Reeves, com quem ela foi para a BlueCrest em 2001 após um breve período como chefe do serviço de avaliação da Cygnifi Derivatives Services LLC, empresa que foi separada do JPMorgan e faliu.

Agora que ela é CEO da Systematica, Braga é, também, seu melhor argumento de venda. Seu desempenho na reunião fora do escritório em Genebra após um dia de apresentações técnicas -- que ela chama de “afiar a serra” -- é um exemplo disso. Dois de seus funcionários se juntaram a ela na cantoria e a banda da firma os acompanhou, disse Braga.

“No começo ninguém queria cantar e eu acredito em liderar de frente, por isso, apesar da minha falta de talento, eu cantei”, disse Braga. “A boa notícia é que agora outras pessoas sobem no palco e cantam”.

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