Mercados

“Brasil? Tô fora!” - Jim Rogers dá conselhos e teme colapso

Enquanto curte sua aposentadoria em Cingapura, megainvestidor cita os setores que lhe atraem e faz críticas ao governo brasileiro


	Jim Rogers: “Gostaria que o governo começasse a fazer coisas melhores para que eu pudesse investir no Brasil”
 (Wikimedia Commons)

Jim Rogers: “Gostaria que o governo começasse a fazer coisas melhores para que eu pudesse investir no Brasil” (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2013 às 10h07.

São Paulo – É numa confortável casa em Cingapura que o americano Jim Rogers colhe os frutos de uma carreira brilhante como grande investidorgestor de um fundo de investimentos notável.

Ao lado de George Soros, Rogers criou um dos fundos de investimentos mais rentáveis da história, o Quantum Fund – com uma valorização de 4.200% ao longo de dez anos, enquanto o índice S&P 500 avançou 50% no mesmo período.

O sucesso financeiro proporcionou a Rogers dois privilégios: se aposentar antes dos 40 e se tornar um prodigioso observador profissional do mercado. Rogers também é autor de diversos livros sobre economia e finanças.

Em entrevista exclusiva a EXAME.com, Jim Rogers revelou quais são seus investimentos preferidos atualmente, fez críticas ao governo brasileiro e alertou sobre um possível colapso financeiro com a iminente retirada de estímulos econômicos na economia americana.

Confira a entrevista a seguir:

EXAME.com – Na última semana, o Fed não anunciou o fim do programa de estímulos econômicos, como era esperado por muita gente. Como o mercado deve reagir quando o Fed começar a tirar essas “muletas” do mercado?

Jim Rogers – Isso já aconteceu. Falaram que não vão encerrar os estímulos e os mercados subiram. Estão colocando mais dinheiro no mercado financeiro, mas isso vai acabar, eventualmente, e quando terminar vai ser muito ruim para todo mundo, no mundo todo, porque pela primeira vez na história os principais bancos centrais (Japão, Europa, Inglaterra, EUA) estão imprimindo dinheiro tentando desvalorizar suas moedas. Há um grande lago artificial de liquidez e estamos todos flutuando neste lago artificial, mas vai acabar. E quando acabar, todos vamos sofrer.

EXAME.com - E quando isso deve acontecer? 

Jim Rogers - Nunca deveria ter começado, foi um erro, mas seguem insistindo no erro. Eu diria que não vai terminar neste ano porque o Bernanke sairá em janeiro e ele não quer ter problemas, deve deixar para a próxima pessoa. Deve terminar no próximo ano ou em 2015. Mas vai terminar, não pode seguir por tanto tempo, porque o mundo não pode mais continuar tomando essa impressão artificial de dinheiro. Eventualmente, o mercado vai parar, vai dizer “não vamos mais aceitar seu dinheiro” ou pela atuação do Banco Central. Eu acho mais provável os mercados dizerem “não queremos mais seu dinheiro”, mas certamente vai acontecer nos próximos anos. Não neste.


EXAME.com - O Brasil ainda é um bom lugar para investir?

Jim Rogers - Não. O governo brasileiro está cometendo erros. Deveria ser um lugar maravilhoso para investir, mas seu governo segue cometendo erros, colocando tarifas especiais contra alguns de seus melhores parceiros, controle cambial e por aí vai. O Brasil segue fazendo coisas que restringem a economia. Por isso, não estou investindo e não quero investir no Brasil, enquanto tiverem um governo anti-capitalismo ou anti-eficiência. Enquanto tiverem um governo que não entenda a economia eu não quero investir aí.

EXAME.com – Então quais países são atrativos para investir?
Jim Rogers -
Estou comprando algumas ações na China. Também estou procurando ações na Rússia. Mianmar não tem bolsa de valores, mas eu gostaria de encontrar investimentos lá. Rússia e China são únicos lugares onde estou encontrando investimentos neste momento.

EXAME.com - O senhor prefere investir na Rússia a investir no Brasil?

Jim Rogers - Eu prefiro investir na Rússia. A Rússia não está tomando medidas para desencorajar a eficiência e os investimentos e o Brasil está. A Rússia tem uma moeda flutuante, o Brasil faz controle cambial.

EXAME.com - Quais setores o senhor está olhando mais?

Jim Rogers - Estou olhando para agricultura, controle de poluição e água na China - a China tem um problema sério de água – turismo na Ásia, porque durante muitas décadas os chineses não puderam viajar, agora podem. Essas são as indústrias que estou olhando na Ásia e Rússia, especialmente agricultura na Rússia. Também estou olhando companhias aéreas, asiáticas em particular. Essas são algumas das áreas em que estou procurando investimentos.

EXAME.com - Nada na América Latina?

Jim Rogers - Não. A Argentina é um desastre, como tem sido por muitos anos. Se eu encontrasse algo na Colômbia ou Peru ou outro país mais bem administrado eu investiria, mas não achei nada. O Brasil é um pais muito empolgante para se estar, gostaria que o governo começasse a fazer coisas melhores para que eu pudesse investir aí de novo. No momento não tenho nenhum investimento na América Latina.


EXAME.com – O México tem chamado a atenção de alguns investidores. O senhor não se interessou?

Jim Rogers - No México, a maior parte das receitas do governo vem do petróleo e o petróleo está caindo. Sei que o governo coloca muito dinheiro na economia, mas o petróleo está secando, então eles terão um grande problema pela frente.

EXAME.com - Por mais de dez anos o ouro mostrou apreciação. O senhor ainda está otimista quanto ao futuro do ouro?

Jim Rogers - Não estou comprando ouro agora. Quando chegar a 1.000 dólares (por onça) eu espero comprar mais ouro, porque espero que suba bem mais nos próximos 10 anos. Mas não sei, pode não ir a 1.000, mas se for, nos próximos dois anos, eu espero comprar mais.

EXAME.com - E o futuro do dólar?

Jim Rogers - Muitas moedas estão mal hoje, então penso no dólar porque as outras também estão mal. Se as coisas piorarem no mundo, e isso pode acontecer, as pessoas recorrerão ao dólar.

EXAME.com - Nos últimos anos, vimos grandes fluxos de investimentos para os mercados emergentes, muito em decorrência da crise nos países ricos. Esse movimento acabou?

Jim Rogers - Eu invisto baseado nos fundamento de cada mercado. Tento investir em mercados que são bons. A ideia de as pessoas investirem em qualquer mercado emergente sem olhar os fundamentos é bem tola.

EXAME.com - Qual o seu conselho para os investidores?

Jim Rogers - Meu principal conselho para qualquer investidor é: investir apenas no que você conhece bem. Se você não conhece, não invista. Não escute o que uma pessoa falou na televisão, no jornal ou na internet. Só invista no que você conhece. Não escute dicas, não escute outras pessoas. Não faça nada na maior parte do tempo e, se você encontrar algo que você conhece e sabe que é bom, invista, caso contrário, fique quieto.

Acompanhe tudo sobre:AçõesB3bolsas-de-valoresgrandes-investidoresImigraçãoJim Rogers

Mais de Mercados

Ibovespa sobe puxado por Petrobras após anúncio de dividendos

Escândalo de suborno nos EUA custa R$ 116 bilhões ao conglomerado Adani

Dividendos bilionários da Petrobras, pacote fiscal e cenário externo: assuntos que movem o mercado

Ação da Netflix tem potencial de subir até 13% com eventos ao vivo, diz BofA