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Brasil Foods põe fim a cinco semanas de seca com títulos

A BRF quer emitir títulos de 10 anos, segundo pessoa com conhecimento da operação

José Antônio do Prado Fay, presidente da BRF: empresa quer aproveitar a demanda por ativos com grau de investimento em meio a receios que a economia global esteja desacelerando (Raul Júnior/VOCÊ S.A.)

José Antônio do Prado Fay, presidente da BRF: empresa quer aproveitar a demanda por ativos com grau de investimento em meio a receios que a economia global esteja desacelerando (Raul Júnior/VOCÊ S.A.)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2012 às 08h22.

Nova York - A BRF - Brasil Foods SA planeja emitir títulos em dólar, encerrando o maior período sem captações de empresas brasileiras no exterior desde setembro, para aproveitar a demanda por ativos com grau de investimento em meio a receios que a economia global esteja desacelerando.

A Brasil Foods, maior exportadora mundial de carne de frango, quer emitir títulos de 10 anos, segundo pessoa com conhecimento da operação. Papéis brasileiros de dívida corporativa com grau de investimento mantiveram melhor seu valor que títulos considerados podres em meio ao desmonte mundial generalizado de posições registrado neste mês. Dívidas classificadas pela Standard & Poor’s com nota BBB- ou superior recuaram 1,1 por cento, enquanto papéis abaixo desse nível despencaram 4,3 por cento, segundo o Credit Suisse AG. Títulos de empresas de mercados emergentes com altos ratings caíram 0,8 por cento, segundo o JPMorgan Chase & Co.

A Brasil Foods, com sede em São Paulo, tenta fazer como outras empresas de mercados emergentes com grau de investimento, como a China Petrochemical Corp. e o Dubai Islamic Bank PJSC, e emitir no exterior neste mês. Nenhuma empresa brasileira captou fora do País desde a oferta de US$ 300 milhões do Banco do Nordeste do Brasil SA em 26 de abril. A seca se explica pela retração na demanda por todos os tipos de ativos, exceto os mais seguros, causada pela piora na crise europeia e pela desaceleração da economia chinesa.

“O mercado tem estado muito volátil e isso afetou o apetite por risco”, disse Doug Chen, chefe de distribuição de renda fixa do Itaú Unibanco Holding SA, maior líder de captações brasileiras no ano, em entrevista por telefone de Nova York. “Se você é um investidor, está sentado em cima de um monte de dinheiro. Você está receoso quanto aos ativos de alto rendimento. Você aplica em algo com o qual você se sente confortável.”

Melhor classificação de risco

O rendimento dos títulos em dólar da Brasil Foods com vencimento em 2020 subiu 20 pontos-base este mês para 5,3 por cento, ou 245 pontos-base acima da dívida pública de prazo similar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A S&P elevou a classificação de risco da Brasil Foods em um nível, para BBB-, um abaixo da nota soberana, em 4 de abril, duas semanas após a Moody’s Investors Service ter melhorado a classificação da empresa, citando sua resistência à volatilidade dos preços das commodities.

A Brasil Foods planeja vender os títulos após reuniões com investidores em Boston, Nova York e Londres, segundo a pessoa a par da questão, que pediu anonimato porque os termos da operação não foram definidos.

Um representante da Brasil Foods não retornou um e-mail e um telefonema da reportagem solicitando comentário.


O Banco Pine SA, focado no crédito a empresas de médio porte, também planeja fazer a primeira emissão internacional de papéis brasileiros com classificação junk desde 30 de março. A instituição pode vender 80 milhões de francos suíços (R$ 166 milhões) em papéis com vencimento em dezembro de 2014, de acordo com uma pessoa familiarizada com a oferta, que pediu para não ser identificada porque os termos finais não foram acertados. O Banco Pine tem classificação de risco BB+ pela S&P, um nível abaixo do grau de investimento.

Início de ano recorde

Assessores de imprensa do Banco Pine não responderam telefonemas e e-mails solicitando comentário para esta reportagem.

A interrupção de cinco semanas nas captações internacionais do Brasil veio após um início de ano que estabeleceu recorde. A emissão de US$ 23,9 bilhões nos primeiros três meses do ano foi a maior registrada em um primeiro trimestre desde que a Bloomberg começou a compilar os dados, em 1999. Com a interrupção, as empresas e o governo levantaram US$ 26,6 bilhões nos mercados internacionais desde 1º de janeiro, comparado a US$ 27,3 bilhões um ano antes.

“Muitos emissores de classificação elevada usaram a forte janela para emissões no primeiro trimestre e não têm necessidades imediatas de recursos”, disse Alexei Remizov, chefe de mercados de capitais para Brasil do HSBC Holdings Plc, por e-mail.

As emissões brasileiras podem se recuperar se houver alívio na crise de dívida europeia, segundo Klaus Spielkamp, operador de renda fixa da Bulltick Capital Market. A Rodopa Exportação de Alimentos & Logística Ltda. cancelou planos de vender US$ 150 milhões em títulos no mês passado, diante da exigência de investidores por rendimento de pelo menos 13 por cento para títulos com prazo de cinco anos, disse o presidente Sérgio Longo em comunicado em 23 de abril.

“Estou certo de que os emissores de alto rendimento vão voltar”, disse Spielkamp em entrevista por telefone de Miami. “Eles visitaram os investidores. Eles estão dispostos, mas não naqueles níveis. A percepção de risco precisa melhorar para os investidores poderem se envolver mais com ativos de alto rendimento.”

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