Mario Mesquita: previsão do Itaú é que a Selic tenha mais duas altas até o final do ano (Sarah Pabst/Bloomberg)
Em um cenário de desaceleração global, o Brasil está bem posicionado. É o que afirmou Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco (ITUB4), após almoço com Paulo Guedes, ministro da Economia, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, nesta terça-feira, 24.
Para Mesquita, o Brasil é visto como uma economia relativamente bem posicionada, por ser exportadora de commodities e alimentos. “Em um cenário mundial complicado, a visão é que o Brasil é uma das economias menos vulneráveis. Não tem uma preocupação grande, como países da África como alguns países do sul da Ásia que podem sofrer mais com essa escassez de alimentos, que pode acabar com a questão da segurança alimentar.”
Questionado sobre o impacto inflacionário causado pela guerra da Rússia e Ucrânia no mercado brasileiro, o economista disse que é uma preocupação. Ele destacou o posicionamento do Banco Central, que tem subido a taxa Selic para tentar amenizar a inflação.
Ele acredita que o BC deve continuar o ciclo de alta da taxa de juros. “A gente acha que ele vai ter que subir um pouco mais, em parte, por conta dos impactos da guerra, que vêm aumentando as pressões inflacionárias em escala global.”
A previsão do Itaú é que a Selic tenha mais duas altas até o final do ano e encerre 2022 em 13,75%. Sobre a inflação, ele afirmou que ficará em 8,5% este ano. Já para o próximo ano, a perspectiva é que haverá queda de juros no país. “Sempre depois de um ciclo, de 6 a 9 meses, a gente tem um ciclo na outra direção.”
Em relação às iniciativas anunciadas pela equipe econômica, como redução de impostos, Mesquita destacou que a carga tributária no país é muito alta e complexa, e que as medidas anunciadas podem ser um alívio momentâneo, assim como a discussão que há no Congresso sobre taxação de energia e telecomunicações. Mas ressaltou que a inflação é um fenômeno monetário e que apenas política monetária resolve.
O economista comentou ainda sobre a privatização da Eletrobras. Para ele, a privatização gera ganhos fiscais, mas o mais importante é o impacto micro. “Ter um setor importante da economia liderado pelo setor privado que, ao fim e ao cabo, é um melhor gestor do que setor público.”
O economista foi questionado também pelos jornalistas na Suíça sobre a posição do estrangeiro no Brasil, já que haverá eleições presidenciais. De acordo com Mesquita, as eleições ainda não são preocupações dos investidores estrangeiros.
“Acho que o estrangeiro não está muito preocupado, por hora, com isso. Existe mais preocupação no curto prazo com o Brasil, impactado pela guerra e preocupações no longo prazo sobre como será o padrão de crescimento do país? Como o Brasil irá lidar com a questão ambiental? A eleição não tem surgido assim com tema tão intenso de preocupação, pelo menos não por hora.”