Repórter
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 06h38.
A América Latina está envelhecendo antes de enriquecer e isso deve mexer com a dinâmica de consumo e o desempenho de diversas empresas listadas, inclusive na B3. A constatação é do Santander que, em relatório recente, aponta que o avanço da idade média na região tende a trazer ganhos para alguns e perdas para outros (confira quem são abaixo).
De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a América Latina é a região que mais envelhece no mundo. A estimativa da instituição é que a proporção de pessoas com mais de 65 anos passe de 10% para 20% da população total, em cerca da metade do tempo da transição na Europa, que levou 56 anos.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos daqui a cinco anos.
Essa velocidade de envelhecimento é considerada uma das mais altas já registradas e ocorre em um contexto de renda média e produtividade ainda baixas na região como um todo.
Apesar de apresentar uma das maiores taxas de produtividade do trabalho entre os mercados emergentes de "onda tardia", atrás apenas do Oriente Médio e do Norte da África, a América Latina tem avançado em ritmo mais lento nesse quesito, o que aumenta o risco do Brasil e seus vizinhos latinos envelhecerem antes de enriquecer.
O estudo compara a tendência demográfica da América Latina com experiências de países onde a transição etária já está mais avançada, como China, Japão, Alemanha e Estados Unidos.
Com base em dados compilados pela consultoria McKinsey, os analistas observam que pessoas com mais de 65 anos costumam destinar uma parcela maior da renda a necessidades essenciais, como saúde, alimentação em casa e moradia, e reduzir gastos com itens discricionários, como roupas, restaurantes e turismo.
Se o comportamento for semelhante na América Latina, o impacto seria positivo para empresas de supermercados com capital aberto que, no Brasil, são Assaí e GPA. O setor de eletrodomésticos e equipamentos domésticos, como Magazine Luiza e Mercado Livre, também são beneficiados, assim como companhias de energia e serviços públicos.
Entre as ações de saúde, o banco destaca o potencial de crescimento de companhias hospitalares como Rede D’Or, farmacêuticas como Hypera, redes de drogarias como RaiaDrogasil e Pague Menos, e empresas de diagnóstico, como Fleury.
Negócios voltados ao tratamento de doenças crônicas, como a Oncoclínicas, e academias, como a Smart Fit, também podem se beneficiar do aumento da demanda por prevenção e bem-estar.
Por outro lado, setores mais dependentes do consumo discricionário devem enfrentar desafios. O relatório cita as empresas de educação, como Anima, Cogna e YDUQS, vestuário — C&A, Guararapes e Lojas Renner — , e bebidas alcoólicas, como Ambev.
Companhias ligadas a alimentação fora de casa, como Arcos Dorados e viagens, ou seja, CVC e Latam Airlines, também compõem a lista dos setores que podem ver uma reversão.
O efeito pode ser misto em empresas verticalizadas de saúde, como a Hapvida. O relatório explica que pode ser positivo por conta das taxas de ocupação nos hospitais, o que pode oscilar por outro lado por conta da utilização dos planos de saúde e índices de sinistralidade médica.
No campo econômico, a América Latina também enfrenta limitações em comparação com outros mercados emergentes.
Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) per capita médio da região foi de US$ 10.369 em 2024, acima da média dos países em desenvolvimento de US$ 6.652, mas o crescimento projetado para os próximos quatro anos é menor, de 3,8% ao ano, contra 5% nos emergentes em geral.
O Santander aponta que o elevado nível de informalidade e a fragmentação dos sistemas de previdência e serviços públicos devem aumentar a pressão sobre as contas públicas.
Ainda assim, o relatório vê oportunidades de longo prazo em setores ligados à produtividade, tecnologia e serviços básicos.
"Para que os países latino-americanos enriqueçam antes de envelhecerem, será essencial aproveitar o dividendo demográfico, investindo em capital humano, inovação e produtividade", afirma o banco.