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Bônus de bancos focados em consignado desabam com medidas do BC

Três dos quatro títulos de bancos com pior desempenho neste ano são de instituições que concedem crédito consignado

Banco Central aumentou depósito compulsório e subiu o adicional para conter a inflação e evitar a formação de uma bolha de crédito (Divulgação/Banco Central)

Banco Central aumentou depósito compulsório e subiu o adicional para conter a inflação e evitar a formação de uma bolha de crédito (Divulgação/Banco Central)

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Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2011 às 10h52.

São Paulo e Nova York - Os custos de financiamento de bancos especializados em crédito consignado têm registrado as maiores altas entre instituições financeiras do País, devido às medidas do governo para conter o crescimento do crédito.

Três dos quatro títulos de bancos com pior desempenho neste ano são de instituições que concedem crédito consignado, que deduz as parcelas diretamente dos salários e pensões dos credores. A taxa dos títulos em dólar para 2020 do Banco Bonsucesso SA subiu 19 pontos-base, para 10,08 por cento. O aumento só não é maior que o salto de 35 pontos-base nos títulos do Banco ABC Brasil SA, controlado em parte pelo governo da Líbia. As taxas em títulos bancários brasileiros com vencimento semelhante caíram 17 pontos-base no mesmo período.

O governo aumentou o depósito compulsório e os requerimentos de capital dos bancos em dezembro para limitar a expansão de 21 por cento no crédito, que ajuda a alimentar a inflação mais alta desde 2005. O Banco BMG SA, que oferece crédito para pensionistas e aposentados, teve sua nota de crédito colocada em revisão para possível rebaixamento pela Moody’s Investors Service na semana passada, com o receio que a compra do Banco Schahin SA poderá agravar as restrições causadas pelo maior custo de financiamento e pelos requerimentos de capital.

“Há uma diferença nas pressões que são introduzidas pelo capital adicional”, disse Celina Vansetti, chefe de pesquisa de bancos da América Latina da Moody’s, em entrevista por telefone de Nova York. Isso afeta as instituições que dão crédito a empresas “muito menos, portanto estamos refletindo isso nas notas”, disse ela.

A taxa dos bônus em dólar com vencimento em 2020 do Banco BMG avançou 13 pontos-base neste ano para 8,63 por cento, ou 502 pontos acima da dívida pública de prazo similar, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Perspectiva negativa

A Moody’s cortou a perspectiva para as notas dos bancos BMG, Cruzeiro do Sul, Bonsucesso e Schahin de estável para negativa em dezembro. A medida veio após o Banco Central ter elevado o compulsório em depósitos a prazo de 15 por cento para 20 por cento, e subido o adicional de compulsório para depósitos à vista e a prazo de 8 por cento para 12 por cento, com o objetivo de impedir a formação de uma bolha de crédito.

As instituições especializadas em crédito consignado também serão forçadas a buscar fontes alternativas de financiamento quando o BC começar a eliminar, no ano que vem, as garantias criadas para ajuda-los durante a crise financeira global.


“É um momento de adequação”, disse Paulo Henrique Guimarães, presidente do Bonsucesso, em entrevista por telefone de São Paulo em 7 de junho. “Portanto não é hora de você pensar em grandes lucros, não é hora de você pensar em crescer, é hora de você preservar seus índices de Basileia e a sua liquidez.”

‘Níveis atraentes’

O Bonsucesso pode levantar recursos no mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios e vender títulos no mercado externo se as taxas caírem para “níveis atraentes”, disse Guimarães. O banco captou R$ 220 milhões por meio de FIDCs nesta semana e planeja emitir mais R$ 380 milhões nesses papéis em agosto ou setembro, disse ele.

Os bônus do Bonsucesso se desvalorizaram porque a emissão totaliza US$ 125 milhões, tamanho que deixa os papéis sem liquidez, disse Guimarães.

A acusação de fraude no Banco Panamericano SA, que veio à tona em novembro, acabou com a liquidez do mercado de compra e venda de carteiras de crédito, que era uma fonte de financiamento para os bancos de varejo. No ano passado, o BMG obteve 67 por cento dos recursos que necessitava através da venda de carteiras de crédito, de acordo com o ING Groep NV.

O Banco BMG restabeleceu a venda de carteiras de crédito à maioria dos bancos que compravam esses ativos antes das acusações contra o Panamericano, disse o diretor financeiro, Ricardo Gelbaum, em entrevista por telefone de São Paulo.

O Panamericano era o 21º maior banco do País e o maior em crédito para compra de veículos usados antes de o BC começar a investigar indícios de fraude contábil no banco no ano passado. O Banco BTG Pactual SA concordou em comprar uma participação de controle no Panamericano em 31 de janeiro, por R$ 450 milhões.

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