CCJ: Paulo Guedes participou da comissão para discussão sobre a Previdência (Cleia Viana/Agência Câmara)
Beatriz Correia
Publicado em 3 de abril de 2019 às 17h19.
Última atualização em 3 de abril de 2019 às 18h10.
A bolsa paulista encerrou em queda nesta quarta-feira, 3, com o Ibovespa tocando mínimas da sessão durante a tarde, em reação de cautela de agentes do mercado diante do impasse sobre a reforma da Previdência em audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,94%, a 94.491,48 pontos, de acordo com dados preliminares. O volume financeiro somou 13,94 bilhões de reais. Na máxima da sessão, principal índice de ações da B3 subiu 1,1 por cento. No pior momento, recuou a 94.124,40 pontos.
Para Nicolas Takeo, analista da corretora Socopa, o mercado vinha acompanhando o movimento de alta do mercado externo e teve uma reação imediata às tensões durante a aguardada audiência na CCJ, mas a tendência futura ainda é positiva.
"Apesar da dificuldade de articulação, a questão econômica falará mais alto e a expectativa é que aos poucos esse jogo vá se definindo melhor", afirmou.
Já na primeira hora de duração da audiência, Guedes recebeu duras críticas à proposta previdenciária apresentada pelo governo federal e conflito acalorado entre as partes necessitou que o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), interviesse na discussão com os parlamentares membros da Comissão.
No exterior, os principais índices de ações norte-americanas fecharam em alta nesta quarta-feira, impulsionados pelo otimismo em torno das negociações comerciais entre Pequim e Washington.
- VIA VAREJO desvalorizou-se 3,7%, liderando as perdas do Ibovespa, em sessão de modo geral negativa para o setor de varejo, com LOJAS AMERICANAS recuando 1,6% e GPA caindo 1%.
- PETROBRAS PN perdeu 2,65% e PETROBRAS ON recuou 2,1%, acompanhando a queda dos preços do petróleo. Na véspera, a companhia recebeu três ofertas pela rede de gasodutos TAG, segundo fontes à Reuters. Investidores também continuam atentos a desdobramentos relacionados à cessão onerosa.
- ITAÚ UNIBANCO PN caiu 0,9%, enquanto BRADESCO PN teve queda de 1,12%, contribuindo para o viés negativo do Ibovespa.
- CEMIG avançou 1,4%, após a elétrica mineira informar que retomou de forma acelerada planos de desinvestir de sua controlada Light, o que poderá envolver o anúncio de uma oferta subsequente de ações (follow-on) da companhia ainda no primeiro semestre.
- VALE subiu 0,3%, acompanhando a alta nos preços de minério de ferro na China em meio a problemas de oferta sinalizados pelos maiores vendedores globais da matéria-prima e a uma forte demanda por siderúrgicas.
- GOL PN valorizou-se 0,3%, tendo no radar que participará do processo de aquisição de ativos da Avianca Brasil, que está em recuperação judicial. A Latam Airlines Brasil, afiliada da Latam Airlines, também entrou no processo. Azul PN, que não está no Ibovespa e havia assinado acordo não vinculante para compra de alguns ativos da Avianca Brasil, subiu 0,4%.
O dólar ensaiou cair pelo quinto pregão consecutivo nesta quarta-feira, mas o clima tenso na CCJ alimentou busca por segurança e levou a moeda norte-americana a fechar em alta e bem perto das máximas do dia.
O dólar à vista subiu 0,57%, a R$ 3,8787 na venda. Na máxima, alcançada na parte da tarde, enquanto Guedes falava na comissão, a cotação subiu 0,60%, para R$ 3,8800. Na mínima, marcada ainda pela manhã, a divisa caiu 0,58%, para R$ 3,8347.
O real teve desempenho pior que vários de seus pares emergentes, como lira turca, rand sul-africano e peso mexicano.
Na B3, a referência do dólar futuro apreciava 0,51%, a R$ 3,8800.
Na CCJ, Guedes ouviu de parlamentares duras críticas à proposta de mudança das regras para aposentadorias, rebateu questionamentos sobre o modelo chileno e ironizou ao dizer que a Venezuela estaria melhor. “Fala mais alto do que eu”, provocou o ministro.
Já na primeira hora de participação, foi necessário que o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), interviesse após aumento da tensão entre Guedes e parlamentares integrantes da comissão.
"Os ativos deram uma 'realizada' (pioraram o sinal), mas muito por causa da reação dos parlamentares do que por algo que foi de fato dito", disse o operador de uma corretora em São Paulo.
Analistas técnicos lembram que o dólar tem operado em torno de sua média móvel de 200 dias e que tem tido dificuldades para cair e se manter abaixo desse patamar. É um claro sinal da falta de conforto com a venda de dólar aquém dos atuais patamares, evidência da maior percepção de risco.
A expectativa de aprovação de reforma da Previdência, porém, ainda ampara projeções de dólar mais fraco nos próximos meses. O UBS, por exemplo, espera taxa de 3,55 reais ao fim de 2019. O BofA projeta taxa de câmbio de 3,60 reais ao término do ano.