(Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
Tais Laporta
Publicado em 15 de agosto de 2019 às 17h18.
Última atualização em 15 de agosto de 2019 às 18h16.
Quase dois meses após atingir a marca histórica dos 100 mil pontos, a bolsa brasileira voltou a fechar abaixo deste patamar. O dia foi de forte volatilidade, com investidores ainda correndo atrás de ativos mais seguros, e com a agenda carregada de balanços no fim da temporada do segundo trimestre.
O índice que reúne as principais ações brasileiras fechou em baixa de 1,20%, aos 99.056 pontos, liderada pelo grupo de combustíveis Ultrapar e a empresa de educação Kroton na ponta negativa. A última vez que o Ibovespa fechou o pregão abaixo dos 100 mil pontos foi no dia 19 de junho.
Na abertura dos negócios, a bolsa até chegou a ensaiar uma recuperação, mas perdeu força pela tarde, sucumbindo à pressão do exterior. No pior momento do dia, caiu a 98.200,36 pontos, após ter alcançado o pico de 101.014,41 pontos mais cedo.
Com a baixa de hoje, o Ibovespa já acumula baixa de 4,66% na semana. O índice levou um forte tombo na véspera, fazendo com que o valor de mercado das 66 empresas listadas caísse 33 bilhões de dólares (o equivalente a 130 bilhões de reais) em uma única sessão, segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica.
As ações globais enfrentam altos e baixos nas últimas duas semanas, afetadas por um coquetel de novas ameaças tarifárias dos EUA à China, seu adiamento, temores de recessão, problemas políticos na Itália e protestos em Hong Kong.
À Reuters, o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, afirmou que os investidores continuam bastante cautelosos com as notícias internacionais, particularmente em relação ao embate comercial EUA-China, o que explica a volatilidade no pregão.
Nesta quinta-feira, a China prometeu contrapor as últimas tarifas norte-americanas sobre 300 bilhões de dólares de produtos chineses, mas pediu a Washington que as duas partes encontrem um meio-termo em um possível acordo comercial. O alerta da China aumentou os temores acerca do impacto contínuo da guerra comercial sobre o crescimento global.
Já o presidente Donald Trump disse que qualquer pacto teria de ser feito nos termos dos Estados Unidos. Ele também disse na quarta-feira que fará um acordo comercial com a China somente depois que o país encontrar uma solução humanitária para semanas de protestos em Hong Kong.
O dólar registrou a maior queda diária em um mês frente à moeda brasileira, caindo abaixo da marca de 4 reais, com investidores ajustando o preço do câmbio diante da perspectiva de injeção direta de liquidez pelo Banco Central. Assista ao Direto da Bolsa.
O Banco Central anunciou na noite de quarta-feira mudanças em sua forma de atuar no mercado de câmbio, com vias a trocar posição cambial em contratos de swap tradicional por dólares à vista, formalizando novo modelo de intervenção cambial para aprimoramento do uso dos instrumentos disponíveis. Entenda o que são swaps cambiais
A correção de baixa do dólar ante outras moedas emergentes respaldou a trégua nas operações locais. O dólar à vista fechou em queda de 1,24%, a 3,9903 reais na venda. É a maior queda diária desde 10 de julho (-1,30%).
As ações europeias atingiram as mínimas em seis meses em uma sessão volátil nesta quinta, com a bolsa de Londres caindo mais de 1%, já que
O índice FTSEurofirst 300 caiu 0,28%, a 1.438 pontos, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 perdeu 0,29%, a 365 pontos, depois de chegar a cair 1% na sessão, para o menor nível desde 11 de fevereiro.
Os índices S&P 500 e Dow Jones fecharam em alta nesta quinta-feira, após dados positivos de vendas do varejo compensarem temores de recessão, apesar de persistentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China.
O índice Dow Jones subiu 0,39%, a 25.579 pontos, enquanto o S&P 500 ganhou 0,25%, a 2.848 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq recuou 0,09%, a 7.767 pontos, sob o peso da baixa nas ações da Cisco Systems.
JBS ganhou 4,64%, a 28,62 reais, mas chegou a subir a 30,43 reais na máxima da sessão, recorde intradia, após lucro líquido de 2,18 bilhões de reais no segundo trimestre, superando expectativas dos analistas. Analistas avaliaram que a empresa está preparada para movimentos de fusões e aquisições, o que o presidente-executivo, Gilberto Tomazoni, deixou em aberto durante teleconferência de resultados.
NATURA subiu 0,3%, também entre as poucas altas da sessão, um dia depois de divulgar que o lucro do segundo trimestre mais que dobrou sobre um ano antes, apoiado em vendas fortes em todos os segmentos e em esforços de controle de custos. A empresa também afirmou que está no caminho para cumprir a previsão de reduzir a alavancagem para 1,4 vez a dívida líquida/Ebitda até 2021.
ULTRAPAR encerrou em baixa de 8,4%, maior queda diária desde maio de 2018, para 16,88 reais, mínima desde maio de 2012, uma vez que viu seu lucro cair praticamente à metade no segundo trimestre, refletindo a queda ou estagnação da receita de todas as principais linhas de negócios. Em teleconferência, o conglomerado disse que quer recuperar margem de Ipiranga sem perder fatia de mercado.
SABESP recuou 5,93%, tendo como pano de fundo queda de 10,9% no resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado no segundo trimestre, para 1,2 bilhão de reais.
VIA VAREJO cedeu 5,18%, após fechar o segundo trimestre com prejuízo líquido de 154 milhões de reais, ante resultado positivo de 14 milhões um ano antes.
VALE perdeu 2,21%, tendo de pano de fundo o declínio dos preços do minério de ferro na China, à medida que o aperto na oferta diminui, mas o esperado aumento da demanda pela China segue indefinido. Siderúrgicas também sofreram. USIMINAS PNA recuou 4,37% e GERDAU PN caiu 3,38%.
PETROBRAS PN recuou 2,77%, enfraquecida pela queda dos preços do petróleo no mercado externo.
BRADESCO PN cedeu 0,69%. ITAÚ UNIBANCO PN caiu 0,28%. Fora do índice, BANCO INTER UNIT cedeu 11,72%, após uma sequência de sete pregões de alta, período em que acumulou valorização de 35%.
OI ON, fora do Ibovespa, desabou 17,93%, após divulgar prejuízo líquido para o segundo trimestre maior do que o esperado por analistas. A empresa também avalia ampliar investimentos neste ano para até 7,5 bilhões de reais.