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Bolsa em novembro: onde investir e quais setores evitar

Pressão por juros altos e disparada do dólar favorecem bancos e exportadoras; Petrobras é caso à parte

Perspectivas para o petróleo são positivas, mas Petrobras sofre com questões políticas | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Perspectivas para o petróleo são positivas, mas Petrobras sofre com questões políticas | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

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Beatriz Quesada

Publicado em 3 de novembro de 2021 às 06h00.

Última atualização em 3 de novembro de 2021 às 09h17.

Se outubro foi um mês conturbado na bolsa brasileira, novembro tem tudo para não ficar atrás. Embora o Ibovespa tenha passado por um movimento de correção, subindo 2% no primeiro pregão do mês, analistas alertam que ainda não é hora para comemorar, uma vez que todos os fatores de risco ainda estão na mesa. Os principais são: cenário fiscal, escalada na taxa Selic, disparada da inflação e alta do dólar.

Do lado fiscal, o mercado está no escuro porque ainda não se sabe como o governo irá pagar os custos de seu novo programa social, o Auxílio Brasil. A PEC dos precatórios, que dribla o teto de gastos e viabiliza o programa, está enfrentando dificuldades para ser aprovada – a votação do texto na Câmara foi adiada para esta quarta-feira por falta de um quórum na semana passada que desse vitória à base governista.

Se o plano “A” falhar, existe o temor que o governo venha a adotar medidas com potencial ainda mais negativo para as contas públicas – como a extensão do auxílio emergencial por meio de crédito extraordinário

“São atitudes que passam uma insegurança muito grande, principalmente para o investidor estrangeiro, que acaba retirando dinheiro do Brasil – principalmente de renda variável – e realocando fora do País, em ativos mais sólidos, ou mesmo migrando de renda variável para renda fixa”, afirma Felipe Vella, analista Técnico da Ativa Investimentos.

A renda fixa, a propósito, tem roubado a cena da bolsa conforme a taxa básica de juros, a Selic, avança. A insegurança fiscal foi o estopim para que o Banco Central adotasse uma postura monetária mais dura, elevando a Selic em 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano. 

E a alta não para por aí. Para 2022, o mercado já espera uma Selic na casa dos dois dígitos, em ao menos 10,25% ao ano, o que não acontece desde 2017. 

Para além dos riscos fiscais, a escalada da inflação também ajuda a manter a Selic nas alturas. Esta semana, economistas aumentaram a previsão para a inflação prevista para 2022 de 4,40% para 4,55%, o que afasta ainda mais o país da meta de 3,5% perseguida pelo Banco Central.

A cereja do bolo é o dólar. Quando a Selic sobe, o câmbio costuma perder força com a entrada de dólares no País. Mas não é o que tem acontecido dessa vez. Isso porque os riscos fiscais estão se sobrepondo aos benefícios de investir no Brasil. O resultado é menos capital estrangeiro fluindo para a bolsa e mais dificuldades para as empresas que têm custos dolarizados.

Diante de tantos desafios, as perspectivas para o Ibovespa são mais conservadoras, mas analistas ainda enxergam boas oportunidades de alocação. A expectativa é de fortalecimento das chamadas blue chips, as maiores ações da bolsa, que são papéis atrelados ao setor bancário – que avança junto com a Selic –, e ao setor de commodities, que ganha com o dólar em alta. 

“São papéis que podem dar um suporte para a bolsa até o final do ano. Se a PEC dos precatórios for aprovada e não tivermos mais nenhuma surpresa no front fiscal, o Ibovespa pode fechar 2021 na casa dos 120 mil pontos”, afirma Renan Vieira, gestor da Taruá Capital. 

Confira abaixo onde investir e quais setores evitar, segundo quatro especialistas ouvidos pela EXAME Invest.

Bancos voltam aos holofotes

O setor bancário é um dos destacados por analistas e gestores como ganhador nesse momento de incertezas. Os grandes bancos, como Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3), são ganhadores naturais de um cenário de juro mais elevado porque conseguem cobrar mais caro pelos empréstimos, aumentando sua margem de lucro.

“Se os bancos conseguirem repassar o spread [do aumento da Selic], irão apresentar uma receita líquida melhor. Além disso, o mix da carteira de crédito também deve ter resultados cada vez melhores com a taxa de juros mais alta”, afirma Rodrigo Crespi, especialista de mercado da Guide Investimentos.

Outro ponto positivo do setor é que as ações bancárias costumam ser boas pagadoras de dividendos, trazendo uma segurança extra para o acionista em tempos de turbulência na bolsa.

Vale lembrar ainda que os papéis dos grandes bancos ainda estão operando em queda no acumulado do ano.

EmpresaCódigo

Retorno em outubro (%)

Retorno em 2021 (%)

ItaúITUB4

-19,43

-22,22

BradescoBBDC4

-4,46

-16,22

SantanderSANB11

-2,74

-19,23

Banco do BrasilBBAS3

-1,38

-24,87

*Fonte: Investing
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Exportadoras surfam a alta do dólar

Enquanto o setor financeiro se beneficia com a elevação da Selic, as exportadoras aproveitam a alta do dólar. Frigoríficos como JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) já apresentam fortes altas no acumulado do ano e devem continuar a apresentar bons resultados – considerando principalmente a operação no mercado americano, uma economia mais recuperada do que a local.

“Além disso, o resultado dessas companhias é dolarizado, o que beneficia a geração de caixa. É um setor muito resiliente”, destaca Crespi. 

EmpresaCódigo

Retorno em outubro (%)

Retorno em 2021 (%)

JBSJBSS3

5,84

62,67

MarfrigMRFG3

3,27

75,33

MinervaBEEF3

-6,89

-3,83

BRFBRFS3

-14,25

4,81

*Fonte: Investing

O cenário também pode ser positivo para as empresas associadas ao minério de ferro, como a mineradora Vale (VALE3). Nos últimos meses, a commodity sofreu fortes baixas após o governo chinês impor restrições à indústria siderúrgica do país. O minério acumula queda anual de 33,15% até o final de outubro, com queda de 10% apenas no último mês.

É possível, no entanto, que o cenário melhore até o final do ano. Segundo análise da Toro Investimentos, a commodity pode passar por um cenário de correção em novembro, “em meio à expectativa de que o pico da demanda chinesa no outono ajude a recuperação imediata dos preços”.

Já Vieira, da Taruá, defende que o minério deve encontrar um patamar de equilíbrio próximo dos 100 dólares a tonelada – na máxima, atingida em maio, a commodity chegou a ser negociada acima da marca de 200 dólares por tonelada.

“Mesmo que a commodity volte a cair, acreditamos que a queda não deve passar do patamar de 100 dólares por tonelada. E isso somado a um dólar na casa de 5,60 reais, deixa a Vale barata. É um bom momento para estar posicionado na empresa”, diz. 

A gestora também acredita que as siderúrgicas devem se beneficiar, com destaque para a Gerdau (GGBR4), que tem grande parte de suas operações nos Estados Unidos.

EmpresaCódigo

Retorno em outubro (%)

Retorno em 2021 (%)

GerdauGGBR4

-0,74

8,79

ValeVALE3

-6,07

-17,30

UsiminasUSIM5

-17,80

-10,34

CSNCSNA3

-20,71

-27,32

*Fonte: Investing

Petrobras: um caso à parte

Entre as commodities, o cenário é ainda mais favorável para o petróleo que, diferente do minério de ferro, vem em uma trajetória de alta. O preço dos contratos futuros do petróleo Brent, usado como referência no Brasil, avança 63% no acumulado do ano, com alta em torno de 15% apenas nos últimos dois meses. 

O cenário seria perfeito para a Petrobras (PETR3/PETR4), não fossem as ameaças de intervenção que pairam sobre a empresa. De um lado, o presidente Jair Bolsonaro fala em privatizar a companhia, enquanto, de outro, afirma que a empresa não deve dar “tanto lucro”, e acena para uma necessidade de contenção nos repasses dos preços.

Para Vieira, o governo não deve intervir na estatal e ela continua sendo uma boa aposta. “Se fosse para acontecer uma intervenção, já teria ocorrido. Os preços do petróleo estão subindo e a empresa vem repassando os aumentos. Os papéis estão muito atrativos, considerando o patamar de preço atual do petróleo e do dólar”, diz.

Já os analistas do BTG Pactual digital preferem apostar em ações de empresas privadas do setor, como PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3).

EmpresaCódigo

Retorno em outubro (%)

Retorno em 2021 (%)

PetrobrasPETR4

0,07

-1,20

PetrobrasPETR3

-1,71

-0,52

PetroRioPRIO3

-6,20

66,69

3R PetroleumRRRP3

-24,08

-6,45

*Fonte: Investing

Consumo, techs e aéreas na lanterna?

Entre os analistas consultados pela EXAME Invest, é unânime a percepção de que os setores mais prejudicados da bolsa são os que são diretamente afetados pelo aumento da Selic ou do dólar.

No caso do câmbio, as aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), que tem seus custos dolarizados, devem ter suas operações impactadas pela alta da moeda americana.  

Já as companhias de crescimento acelerado, como as de tecnologia e consumo, tendem a sofrer uma forte correção nos preços em cenários de juros elevados. Isso porque essas empresas dependem de mais financiamento para crescer e os juros mais altos encarecem o crédito usado para a expansão.

No caso das varejistas e dos shoppings, a alta da Selic e a disparada da inflação também prejudicam o resultado das vendas, uma vez que os consumidores têm menor acesso ao crédito enquanto os preços dos produtos ficam ainda mais caros.

Ainda assim, é possível encontrar oportunidades no setor. Para Bruno Lima, analista de ações do BTG Pactual Digital, algumas empresas do setor estão muito descontadas. “Começa uma discussão sobre quão pessimista acaba sendo o fluxo de caixa dessas companhias para justificar o preço a que estão sendo negociadas”, afirma.

Para aproveitar o momento de baixa, o banco colocou na carteira as ações da varejista Arezzo (ARZZ3) e da companhia de shopping centers Iguatemi (IGTA3) – ambas associadas ao consumo de alta renda, que tem sido um subsegmento com forte resiliência em tempos de incerteza.

EmpresaCódigo

Retorno em outubro (%)

Retorno em 2021 (%)

AzulAZUL4

-31,69

-31,04

GolGOLL4

-26,70

-34,04

ArezzoARZZ3

-10,82

11,48

IguatemiIGTA3

-5,07

-16,42

*Fonte: Investing
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