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Bolsa da Argentina fecha em alta e consegue recuperação após escândalo entre Milei e criptomoeda

Ontem, o principal índice da bolsa de Buenos Aires, o Merval, caiu 5,6%

A queda da bolsa de Buenos Aires aconteceu após Milei recomendar a compra de uma criptomoeda chamada Libra. (Tiziana Fabi/AFP)

A queda da bolsa de Buenos Aires aconteceu após Milei recomendar a compra de uma criptomoeda chamada Libra. (Tiziana Fabi/AFP)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercado Imobiliário

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 12h58.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 18h54.

O feriado nos Estados Unidos adiou para esta terça-feira, 18, o impacto que o escândalo envolvendo o presidente Javier Milei e a criptomoeda Libra pode causar na bolsa da Argentina. Ontem, o principal índice da bolsa de Buenos Aires, o Merval, caiu 5,6% em pesos. O índice subiu 6,10% na tarde desta terça-feira, 18, anulando suas perdas.

Durante o pré-mercado, as ações argentinas apresentavam quedas de até 6%. Os ADRs do Supervielle Group perderam 6,2%, os do Galicia Financial Group 5%, e os do BBVA e da YPF quase 3%. Os títulos do país cotados em dólar também caíram. O com pior desempenho foi o GD35, com queda de 1%. O restante perdeu entre 0,5 e 1%.

Segundo o jornal argentino Clarín, impacto que o preço do título terá no risco-país será de fato conhecido hoje. Esse é um índice que mede a diferença na taxa paga pela dívida argentina em relação à dos Estados Unidos. Com o feriado de segunda-feira (Dia do Presidente nos EUA), esse valor se manteve em 675 pontos, que foi o preço de fechamento da última sexta.

Analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) enxergaram uma reação negativa do mercado, mas nada que seja "muito dramático". Nem os investidores individuais, nem os institucionais correram para o dólar. "Mas eles venderam ações e títulos até que foi anunciado que Milei daria uma entrevista à noite. Vemos poucas chances de não ver derramamento de sangue quando o mercado abrir novamente hoje. A questão de um milhão de dólares é se esta será uma oportunidade de compra. Pode até ser, mas antes que o mercado volte a comprar a Argentina, o governo terá de provar que o escândalo acabou e que não há informações adicionais que possam reduzir a sua capacidade de gestão", afirma o banco em relatório.

O banco também não vê razão para entrar em desespero, apesar de não adiantar fingir que nada aconteceu. "Este foi um incidente sério. As lesões provavelmente irão sarar, mas a Argentina precisará sentir algumas dores. Ninguém disse que seria fácil", finaliza o relatório.

O que aconteceu na Argentina?

A queda da bolsa de Buenos Aires na segunda aconteceu após o presidente da Argentina, Javier Milei, recomendar a compra de uma criptomoeda chamada Libra através de uma postagem na rede social X.

Na ocasião, Milei explicou que a criptomoeda era "um projeto privado" para "incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos". O presidente afirmou que "o mundo quer investir na Argentina" e forneceu o nome e o link para a página da criptomoeda.

Com a divulgação do presidente, a cotação da criptomoeda, que era de US$ 0,45, disparou, atingindo um pico de US$ 4.978 (cerca de R$ 28.512), segundo informações da AFP. Horas depois, no entanto, o valor do ativo despencou, em meio a acusações de fraude e pedidos de um impeachment da oposição.

À tarde, a criptomoeda voltava a disparar após um novo post do presidente argentino, com um passo a passo de compra do ativo em cinco etapas. Com isso, o token acumula alta de 103,5% nas últimas 24 horas, cotado em US$ 0,7386. Apesar da nova alta, o ativo ficou distante do pico de preço registrado no último sábado.

Segundo informações do jornal argentino Clarín, as consequências disso tudo devem ser conhecidas nesta terça-feira, quando o mercado internacional retorna às operações normais.

Milei, acusado pela oposição de um suposto golpe ou esquema de pirâmide, apagou a publicação que promovia a criptomoeda. "Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e após tomar conhecimento dele decidi não continuar a divulgá-lo", escreveu Milei no sábado, no X.

O gabinete presidencial informou que decidiu encaminhar o assunto ao Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente. As empresas envolvidas com a criptomoeda também serão investigadas.

Segundo o jornal La Nacion, quase 80% do ativo estava nas mãos de poucas pessoas antes do apoio de Milei, e o site para promoção da moeda foi criado instantes antes da publicação do presidente argentino.

Os deputados do partido União pela Pátria anunciaram que vão apresentar um pedido de impeachment contra Javier Milei pelo escândalo desencadeado pela promoção da criptomoeda. "A participação de Milei em crime de fraude com criptomoedas é gravíssima", disseram os deputados, antes de confirmar que seguirão adiante "na apresentação do pedido de impeachment contra o presidente", disseram.

Milei e a criptmoeda

Para os analistas do BTG Pactual, este erro atinge Milei em duas áreas onde ele pontua bem. "Ele tem a reputação de estar mais bem preparado do que a maioria dos políticos. E como economista treinado que fala sobre política monetária até mesmo para crianças do ensino primário, as finanças são, em muitos aspectos, a sua área. Em segundo lugar, Milei é visto como um homem honesto que acabaria com a corrupção e todos os negócios (sujos) que envolvem a política", afirmam em relatório.

Mesmo assim, analistas políticos não esperam que a tentativa de impeachment ganhe força e consideram que as repercussões na popularidade do presidente da Argentina devam ser limitadas, já que o mercado de criptografia é um tema distante de muitas pessoas. A inflação está em baixa e a atividade econômica está melhorando, o que deverá tirar a atenção de quaisquer aspectos negativos.

"No entanto, o erro não forçado enfraqueceu o governo nas suas negociações com outras partes. Forneceu alavancagem para pessoas como o ex-presidente Macri, que normalmente diz que apoia Milei, mas critica as pessoas próximas a ele. Portanto, as negociações deveriam ser mais difíceis. Em geral, a comunidade empresarial tem estado satisfeita com o ajustamento fiscal e a política econômica. Apenas alguns reclamaram da política cambial, um detalhe técnico. Este episódio os torna mais desconfiados em relação a outros possíveis 'acidentes'", afirmam os analistas.

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