Mais negociações: aumento do giro financeiro está atrelado à queda da Selic, à alta do Ibovespa e às novas captações no mercado de capitais (Jesada Wongsa/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de junho de 2020 às 15h16.
A bolsa brasileira deve bater novo recorde em junho. Até o momento, o volume diário médio de negociação de ações, fundos e demais ativos é de 35 bilhões de reais, valor mais alto que todos os meses de 2020 e 2019, de acordo com dados da B3 até o dia 22. O giro financeiro supera, inclusive, o registrado em março em 2,9%, quando o pânico do mercado financeiro desencadeou uma onda de compra e de venda de papéis.
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De acordo com dados do sistema de informações financeiras Economatica, o volume de negociação médio de junho era de 30,803 bilhões de reais, até o último dia 23. O número é 25,9% superior ao registrado no mês anterior e 0,7% acima do volume médio de março.
O aumento do volume financeiro da bolsa, segundo Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, se deve à queda da taxa de juros, que já sofreu quatro cortes somente neste ano e já caiu mais de 10 pontos percentuais desde 2017.
“Com a taxa de juros cada vez mais baixa, a renda fixa fica menos atraente. Então há uma migração em massa para a renda variável. É um volume de dinheiro novo entrando na bolsa”, comentou. Isso acontece tanto no caso de pessoas físicas quanto em fundos multimercados que estão migrando seus portfólios para ações e fundos imobiliários, por exemplo.
Laatus também atribuiu o aumento do volume de negociação à entrada de pessoas físicas na bolsa. Somente até o fim de maio, mais de 800.000 CPFs foram cadastrados na bolsa, totalizando 2.483.286. O número é 340% maior do que o registrado no fim de 2016, quando a taxa Selic era de 13,75% ao ano. Naquela época, o volume de negociação médio era cerca de 360% menor.
Para além da queda da Selic, a alta do Ibovespa tende atrair investidores que costumam investir quando o vento é favorável. Desde que atingiu o piso de 63.569,62 pontos, em 23 de março, até ontem, o índice já subiu 51%. Esse cenário impulsionou companhias a fazer emissões de ações (primárias e secundárias). Só neste mês Centauro, Via Varejo e Natura movimentaram 7,35 bilhões de reais.
Segundo EXAME IN, da lista de cerca de 20 (IPOs) que hibernava na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) devido à pandemia, quatro já reativaram seus pedidos e garantiram sua posição no grid de largada: a companhia de tratamento de resíduos Ambipar, o grupo de moda e varejo têxtil Soma (dono das marcas Farm, Animale, Fábula e Cris Barros, entre outras) e, mais recentemente, a construtora e incorporadora You Inc. Além dessas, a Aura Minerals, de exploração de ouro e cobre, também já está atualizando os documentos na CVM. Negociada na bolsa de Toronto, a empresa fará a oferta de estreia aqui com recibos brasileiros de ações (BDRs). Só essas companhias, juntas, devem “solicitar” aos investidores algo entre 4 bilhões e 5 bilhões de reais.
Em última instância, esse quadro otimista é bom para a B3. Tanto é que o UBS coloca a empresa como a favorita do setor financeiro fora dos bancos. "A tendência positiva para o volume de ações deve continuar sendo sustentada pelas baixas taxas de juros (nossos economistas esperam outro corte de 0,25 ponto percentual em agosto para 2% ao ano). Além disso, após oito meses de saídas, os investidores estrangeiros tornaram-se compradores líquidos de ações em junho (2 bilhões de reais); o que também pode ser um fator importante para volumes futuros", escrevem os analistas Mariana Taddeo e Kaio Prato.