Painel de cotações da B3: investidor estrangeiro evitou queda maior das ações no ano de 2021 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 4 de janeiro de 2022 às 10h26.
Última atualização em 4 de janeiro de 2022 às 10h50.
Compre na baixa, venda na alta. Esse é um dos axiomas do mercado financeiro. E foi levado a sério pelo investidor estrangeiro, que fez grandes apostas na bolsa brasileira em 2021: eles compraram 102,5 bilhões de reais em ações a mais do que venderam. Em dezembro, a entrada de capital externo na bolsa foi de 14,547 bilhões de reais, dos quais cerca de 1 bilhão de reais somente no último pregão do ano. No mesmo dia, o dólar despencou 2%.
O movimento ocorreu em meio à sequência de recordes em bolsas internacionais e ao aumento da percepção de que a bolsa brasileira ficou barata considerando os múltiplos atuais versus o histórico.
O S&P 500, principal índice das bolsas americanas, subiu 27,3%, em 2021, enquanto o Ibovespa caiu 11,9%.
No início de dezembro, bancos internacionais, como JP Morgan e HSBC, emitiram opiniões favoráveis às ações brasileiras. Segundo relatórios citados pela Bloomberg, o Ibovespa pode subir para 133.000 pontos neste ano, enquanto corretoras brasileiras como Guide Investimentos e Ativa não veem espaço para o índice superar os 120.000 pontos.
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O investidor institucional brasileiro, por sinal, foi quem mais vendeu em dezembro de 2021, encerrando o mês com saldo negativo de 13,6 bilhões de reais. São gestoras com fundos de ações e multimercados e fundos de pensão, entre outros.
O pessimismo -- ou ceticismo -- sobre a economia local e as perspectivas para o mercado acionário brasileiro se escancara em cartas de algumas das principais gestoras do Brasil.
Após ter aumentado a aposta no mercado local ao longo de 2021 -- e sofrer duros prejuízos --, a Verde Asset inverteu a mão e passou a vender ações. "Acreditávamos que havia bastante notícia ruim no preço e que os agentes políticos tinham incentivos razoáveis para não romper o teto dos gastos. Essa visão se provou errada", afirmou a casa do renomado gestor Luis Stuhlberger em sua carta mensal divulgada em novembro.
Na Kairós Capital, a equipe do CEO e CIO (head de investimentos) Luiz Fabiano Godoi ressaltou as preocupações sobre a inflação brasileira ainda em suas primeiras linhas da carta mensal de dezembro. "As perspectivas para a variação do IPCA no Brasil assustam muito, ainda mais quando enxergamos os números projetados para 2021 e 2022."
Entre outros aspectos que têm levado à maior cautela do investidor brasileiro também estão as perspectivas de baixo crescimento, que não passam de 0,40% para este ano em muitas casas, e a aproximação do período eleitoral. Segundo a Ibiúna Investimentos, esses fatores têm mantido a postura defensiva da gestora desde meados de 2021.
"Essa incertezas [fiscais e eleitorais] demandam o reforço da única âncora que restou ao sistema, a monetária, resultando em significativa desaceleração ou possível contração do crescimento econômico durante o ano eleitoral -- combinação que deixa o país vulnerável a mudanças de humor nos mercados globais", afirma a Ibiúna em seu último relatório de gestão.