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Bovespa altera modelo de acesso

Expectativa é que, a partir do ano que vem, corretoras se unam mirando a redução de custos e dando espaço para a especialização


	Operadores da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa
 (Marcos Issa/Bloomberg)

Operadores da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa (Marcos Issa/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2014 às 16h29.

São Paulo - As corretoras deverão passar por um movimento intenso de consolidação no próximo ano, tentando driblar um cenário de baixos volumes negociados na bolsa e de fuga do investidor pessoa física da renda variável.

A expectativa é que, a partir do ano que vem, corretoras se unam mirando a redução de custos e dando espaço para a especialização. Algumas instituições destacam que poderão, até mesmo, aumentar o foco na pessoa física.

Essa nova fase da vida das corretoras acontece como consequência da implantação do novo modelo de acesso à Bolsa, que vem sendo desenvolvido há mais de um ano e meio e resultou de uma própria demanda do segmento, que cria as figuras de participante de negociação pleno (PNP) e o participante de negociação (PN) e retirará, da última, a obrigação do depósito de uma garantia de R$ 25 milhões na Bolsa, que é exigida de todas as corretoras plenas.

"Assim elas poderão usar esse valor para investimentos e desenvolvimento do negócio", disse o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.

Segundo corretoras consultadas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o modelo recém divulgado pela BM&FBovespa está sendo visto com bons olhos, embora ainda existam algumas dúvidas sobre alguns detalhes do novo modelo.

Mas a percepção geral é de que as instituições participantes do mercado poderão ter maior capacidade de atrair novos investidores, diminuir os custos e conseguir se manter competitivas no mercado.

Vale lembrar que em 2013 muitas corretoras independentes fecharam o ano no vermelho.

"Essa é a primeira vez na história que temos um acesso diferenciado à Bolsa. Isso é, de fato, uma evolução e vai proporcionar a chance para que as corretoras se tornem mais especializadas e se foquem em atender os clientes", afirma Alexandre Atherino, sócio-fundador da Guide Investimentos.

O novo modelo de acesso deverá estar em pleno funcionamento no início de 2015, segundo a Bolsa.

A Guide, segundo Atherino, já mantém algumas conversas com instituições que devem optar em ser PNs.

As instituições com essa opção farão o atendimento ao cliente, mas a liquidação e o acesso ao ambiente de negociação da bolsa, no entanto, serão realizados por intermédio de uma corretora PNP.

"Queremos ter PNs plugadas a nós, mas como isso andará ficará mais claro a partir do ano que vem", disse o sócio da Guide. Segundo Atherino, hoje, na estrutura atual da Guide, entre cinco e 10 PNs poderão ser "facilmente plugadas".

Os atuais intermediários que estão hoje autorizados a atuar na Bolsa, os PNPs, poderão migrar para o modelo PN, se fizer sentido ao negócio, e, após o descredenciamento como PNP, solicitar a retirada das garantias.

O movimento contrário também será permitido, "a qualquer momento", desde que sejam atendidas as condições estabelecidas pela Bolsa.

Na visão do diretor da Alpes Corretora, Expedito Araujo, o novo modelo de acesso permitirá que as PNs busquem nichos de clientes ou usem sua expertise em determinados segmentos e operações e, até mesmo, aumentem sua capilaridade e prospectem mais clientes.

"Do lado das PNPs, algumas delas podem, como já vem ocorrendo, centralizar as operações das PNs, melhorando a escalabilidade dos custos pra ambos os lados", destaca Araujo.

Atherino, da Guide, concorda que para as corretoras plenas a diluição de custo trará ganhos e ajudará, assim, nos negócios.

Além disso, afirma, a sua expectativa é de que, com o novo modelo, a Guide possa oferecer aos PNs que estejam ligados a ela uma série de produtos, como os de renda fixa, de forma que essas corretoras possam ter um leque maior de opções a seus clientes.

Esse processo, em sua visão, já poderá ser considerado, em si, um movimento de consolidação do mercado.

Terceirização

As instituições que atuam hoje "por conta e ordem", ou seja, que terceirizam parte de execução de ordens, usando a estrutura tecnológica de outras instituições para realizar operações para seus clientes na bolsa de valores, terão até o fim deste ano para se enquadrarem às regras do novo modelo de acesso.

Todas essas instituições, assim, terão de ser no mínimo PN.

O modelo de conta e ordem foi uma estratégia usada pelas instituições para conseguirem reduzir custos e obterem de volta a garantia depositada na Bolsa, em um movimento que antecedeu, assim, a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do novo modelo de acesso, que ocorreu há poucas semanas.

Tendo como um dos motivos a redução de custos, há cerca de um ano, a Magliano Corretora tomou a decisão de operar por conta e ordem e, assim, passou a terceirizar a estrutura da CGD Securities.

"Com isso, conseguimos nos estruturar mais, focar no core business. Nos Estados Unidos, essa estrutura já é muito comum", destaca o diretor-presidente da Magliano, Raymundo Magliano Neto.

A corretora, por exemplo, fará parte da lista de Pns. Magliano conta que com a retirada da garantia, por exemplo, a corretora investiu no escritório e aperfeiçoou o relacionamento com os clientes.

Algumas corretoras já bateram em sua porta para saberem mais sobre essa estrutura, mas Magliano acredita que muitas delas estavam esperando o aval da CVM para o novo modelo de acesso à Bolsa para tomarem a decisão.

Ele acredita que hoje há espaço no mercado brasileiro para seis PNPs atuarem, sem contar as corretoras de bancos, e que as PNPs que decidirem se tornar PNs deverão levar cerca de seis meses para se prepararem para a transição.

Esse foi o tempo que a Magliano levou para conseguir operar por conta e ordem, destaca.

O presidente da Associação Nacional de Corretoras e Distribuidoras (Ancord), Carlos Alberto Souza Barros, disse que o modelo PN e PNP é uma "evolução" que contou com a participação das corretoras, sendo que o modelo de acesso começou a ser revisitado entre os anos de 2012 e 2013, quando muitos bancos e distribuidoras optaram em operar por conta e ordem.

"Com isso, todo o sistema - Bolsa, Corretoras, Distribuidoras - fica mais robusto e os clientes que são atendidos pelo PN passarão a ter acesso ao Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízo", destaca.

Souza Barros destaca que, a partir do próximo ano, cerca de 60 corretoras que atuam hoje por conta de ordem deverão fazer parte a lista de PNs.

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