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Bolsa ainda pode disparar se fundos locais pararem de vender, diz Volpon

Estrategista-chefe da WHG explica por que não espera que as eleições sejam um grande risco para o mercado brasileiro

Tony Volpon, estrategista-chefe da WHG e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (WHG/Divulgação)

Tony Volpon, estrategista-chefe da WHG e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (WHG/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 11 de abril de 2022 às 07h20.

Última atualização em 11 de abril de 2022 às 09h09.

A entrada acentuada de capital de investidores estrangeiros, que chegou a R$ 64 bilhões na bolsa brasileira até o fim de março, tem contribuído com a alta do Ibovespa e com a queda do preço do dólar neste ano. Para Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG), as ações ainda podem disparar na bolsa.

"A bolsa está subindo, mas não está explodindo, porque tem alguém vendendo. O [investidor] local está vendendo, porque está indo para os juros. As gestoras estão perdendo dinheiro. Então, o movimento da bolsa tem sido mais discreto", afirmou Volpon em entrevista à EXAME Invest. "Não sei até quando vão vender [bolsa]. Se pararem de vender, os preços vão disparar."

Volpon disse que não espera que as eleições presidenciais deste ano, marcadas para outubro, representem um grande risco para o mercado local. "Com os principais candidatos buscando o centro, não vejo essa eleição como um fator de grande volatilidade." Segundo o ex-diretor do Banco Central, o cenário internacional deve favorecer a economia brasileira nos próximos anos, com alta de commodities e inflação nas principais economias do mundo.

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O petróleo ainda deve ganhar força, de acordo com o estrategista-chefe da WHG. "Olhando apenas para os fatores que sabemos que vai acontecer, como o aumento sazonal da demanda, o petróleo pode operar entre US$ 130 e US$ 150 [o barril]." O maior risco, disse na primeira parte da entrevista à EXAME Invest (leia aqui), é o Federal Reserve (Fed). 

Confira a entrevista com Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance.

Apesar da entrada massiva de estrangeiros, a bolsa tem apresentado altas apenas moderadas. O que tem segurado um movimento mais forte?

A bolsa está subindo, mas não está explodindo, porque tem alguém vendendo. O local está vendendo, porque está indo para os juros. As gestoras estão perdendo dinheiro. Então, o movimento da bolsa tem sido mais discreto. 

No câmbio, o impacto é maior. O estrangeiro está comprando real para comprar bolsa. Quem estava comprando dólar eram as gestoras, mas agora é muito mais caro ficar comprado no dólar. É preciso pagar 1% ao mês, que é o CDI mensal. Então a gestora precisa ganhar 1% do estrangeiro na batalha do dólar para empatar. 

Além disso, os preços das commodities estão subindo, as contas externas brasileiras vão ficar melhores e o estrangeiro voltou. Não tem demanda por dólar, tem oferta. Então o preço despenca. 

Até quando os fundos locais devem continuar vendendo bolsa? 

Não sei até quando vão vender. Se pararem de vender, os preços vão disparar. Mas isso ainda não está acontecendo.

Como as eleições deste ano podem afetar o mercado? 

Esta eleição é muito diferente da anterior, quando o eleitor queria mudança, ruptura. Tivemos a terceira via, que foi o Jair Bolsonaro. De lá para cá, foi um período de crescimento econômico fraco e com muito dano ao mercado de trabalho. Não dá para culpar o governo Bolsonaro por tudo isso, porque houve uma pandemia nessa história. 

Agora, o eleitor quer normalidade, alguém capaz de pensar em questões econômicas, como emprego e renda. Há dez anos, a vida do brasileiro não vai para frente. O candidato que conseguir endereçar essa demanda ganha a eleição. Para isso, precisa ter uma abordagem mais centrista.

Já se vê uma mudança de comportamento do Bolsonaro, que está muito menos radical em seus discursos do que no ano passado. Acho que ele entendeu que precisava mudar para ser um candidato competitivo. Isso tem dado resultado nas pesquisas.

O [ex-presidente] Lula também entendeu isso. Toda a estratégia de trazer o [Geraldo] Alckmin é uma sinalização de que ele será um cara de centro. Com os principais candidatos buscando o centro, não vejo essa eleição como um fator de grande volatilidade.

A onda é muito boa, não precisa fazer muita coisa. Mas sempre tem como estragar. A Rússia estava em um bom momento econômico, mas o Vladimir Putin estragou tudo.

Acho que o Lula, em seu primeiro mandato, conseguiu potencializar o choque positivo. Já tinha uma onda boa vindo da China naquele momento e ele fez várias coisas positivas, foi muito responsável do ponto de vista fiscal no primeiro momento. Dá para potencializar ou fazer nada, mas o que não pode é radicalizar, como o Putin. 

O petróleo perdeu força desde que bateu em US$ 140 no início da guerra entre Rússia e Ucrânia. O preço deve voltar a subir?

Parte da oferta oferta do petróleo russo será retirada, e a dúvida é sobre o tamanho, porque ainda estão vendendo para Índia, China e para alguns lugares. A alta deve continuar, especialmente se o Fed não puxar o tapete.

A demanda vai aumentar no verão do hemisfério Norte, principalmente nos Estados Unidos, onde a demanda por gasolina aumenta muito devido ao período de férias. O americano está pagando US$ 5 ou US$ 6 por galão, mas não está deixando o carro parado, porque tem dinheiro neste momento.

Não há queda de demanda acontecendo e a oferta está ainda mais restrita. Se a Europa parar de comprar petróleo russo e o cortar gás, pode puxar ainda mais o preço. Mas, olhando apenas para os fatores que sabemos que vai acontecer, como o aumento sazonal da demanda, o petróleo pode operar entre US$ 130 e US$ 150.

Isso pode ser uma péssima notícia para o Banco Central. Achei muito perigoso atrelar a política de juros ao preço do petróleo [no comunicado do Copom].

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