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Bolha do gás de xisto dos EUA já estourou, segundo especialistas

Setor de produção e exploração registrou um dos piores desempenhos do mercado acionário americano no ano passado

Gás de xisto: no Texas, número de plataformas ativas caiu 24% (Bronte Wittpenn/Bloomberg)

Gás de xisto: no Texas, número de plataformas ativas caiu 24% (Bronte Wittpenn/Bloomberg)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 16 de fevereiro de 2020 às 07h00.

Última atualização em 16 de fevereiro de 2020 às 07h00.

No mês passado, dois dias antes da mais recente projeção do governo de que a produção de gás de xisto nos EUA atingiria um novo recorde, uma conferência da indústria petrolífera em Houston foi aberta com um clipe do personagem Bisonho, da turma do Ursinho Pooh, que trazia um de seus sombrios enunciados: “Fim da estrada, nada a fazer e sem esperança de as coisas melhorarem”.

Fazia sentido começar com um tom tão pessimista. Como Kim Bourgeois, diretor-gerente com foco em energia na HOS Investment Partners, disse à plateia reunida: “A maioria de nossas manhãs de segunda-feira tem sido assim.”

Para as empresas de exploração e produção por trás do crescimento espetacular do petróleo dos EUA, a bolha estourou. Muitas estão queimando caixa e se esforçando para atender às expectativas dos investidores. No Texas, o maior estado produtor de petróleo e com a maior parte da prolífica Bacia do Permiano, o número de plataformas ativas caiu 24% no ano passado. Os preços do petróleo acumulam queda de 19% este ano sob o impacto do surto de coronavírus que reduz a demanda chinesa por petróleo.

Como as produtoras de gás de xisto lidarão com esse mais recente obstáculo será uma questão crucial à medida que os balanços trimestrais sejam divulgados nas próximas semanas. O setor também enfrenta pressão de Wall Street para agir sobre as mudanças climáticas, algo que a BP tentou abordar na quarta-feira com seu compromisso de reduzir as emissões de carbono.

“A América do Norte está cheia de empresas que, no lado de E&P, provavelmente não deveriam mais estar aqui”, disse Marcel Hewamudalige, diretor-gerente da Evercore, em Houston. “Há muita dívida no sistema, e essas empresas não sobreviverão.”

A revolução do gás de xisto desbloqueou reservas anteriormente inacessíveis de petróleo e gás natural, fazendo com que os EUA se tornassem líderes mundiais na produção dos dois produtos. Mas essa abundância também ajudou a criar um excesso global, limitando a alta dos preços.

Além disso, o setor de gás de xisto enfrenta um desafio. Os poços de petróleo e gás fraturados registram declínios acentuados de produção em comparação aos poços convencionais, obrigando os produtores a continuarem perfurando simplesmente para manterem os níveis de produção e geração de caixa, mesmo diante de preços estagnados.

Essa estratégia elevou o endividamento das empresas, uma preocupação crescente para os investidores. Dezenas de petroleiras faliram e o mercado de capitais está praticamente fechado para todas, exceto algumas empresas capazes de oferecer títulos de alto risco. O setor de E&P dos EUA registrou um dos piores desempenhos do mercado de ações no ano passado, em meio a dúvidas sobre a capacidade de alcançar fluxos de caixa sustentáveis.

A consolidação pode não ocorrer tão cedo, pois o mercado de fusões e aquisições está “quebrado”, de acordo com Kyle Kafka, sócio da empresa de private equity EnCap Investments. A Halliburton e a Schlumberger, as duas maiores empresas de serviços de petróleo, disseram que o boom do gás de xisto é coisa do passado.

Para muitos no Texas, uma desaceleração já é aparente. A criação de empregos na Bacia do Permiano ficou aquém do crescimento do emprego estatal pela primeira vez desde 2016, de acordo com o Fed de Dallas.

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