BofA: apesar das incertezas, banco americano continua comprado em Brasil (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)
Natália Flach
Publicado em 6 de abril de 2020 às 10h27.
Última atualização em 6 de abril de 2020 às 20h26.
O banco Bank of America (BofA) revisou para baixo as expectativas para o principal índice da bolsa brasileira até o fim do ano. Até a escalada da crise do coronavírus, a estimativa era de que o Ibovespa encerrasse 2020 em 87.000 pontos; agora, a projeção é de 76.000 pontos. Apesar da diferença de 11.000 pontos entre um nível e outro, ainda assim trata-se de uma valorização de 9% em um ano que começou no vermelho.
No primeiro trimestre, o Ibovespa recuou 29,9%, no que se mostrou o pior desempenho desde agosto de 1998, quando a crise econômica da Rússia ameaçava a sustentabilidade da economia mundial. Desta vez, a crise não foi gerada por falta de dinheiro, e sim pela potencial devastação econômica mundo afora.
"No nosso cenário base, a economia recua significativamente e aos poucos vai se recuperando a partir do fim do ano. Mesmo assim, o lucro das empresas vai ser menor em 2021 do que em 2019. O lucro por ação [do grupo de empresas que compõem] do Ibovespa deve cair 20% em 2020, e se recuperar em 2021 com alta de 15%", escrevem os analistas do BofA David Beker, Nicole Nui, dentre outros, em relatório enviado a clientes.
Caso as incertezas continuem sendo a tônica dos mercados, a projeção pessimista do BofA é que o Ibovespa encerre o ano em 60.000 pontos, o que representa uma queda de 14%. Neste caso, o lucro por ação deve cair 25% em 2020, contração similar à de 2009, e ficar no zero a zero em 2021.
Já se imperar o otimismo nas bolsas, o principal índice brasileiro deve recuperar o 89.000 pontos - ante um patamar de 100.000 pontos projetados até então. Neste caso, a recuperação econômica se dará no segundo semestre do ano, com o lucro por ação das companhias listadas caindo apenas 15%.
Projeções para o Ibovespa
Cenário | Meta anterior (em mil pontos) | Meta atual (em mil pontos) | Variação |
Otimista | 100 | 89 | 28% |
Base | 87 | 76 | 9% |
Pessimista | 63 | 60 | -14% |
Fonte: BofA Global Research, Bloomberg
Mesmo com tanta incerteza, o BofA está comprado em Brasil, "devido a cortes de juros, agenda microeconômica e reformas estruturais que combatem gargalos em setores como crédito, sistema tributário e ambiente de negócios", escrevem os analistas em relatório. Os riscos vêm principalmente do cenário externo, mas também da demora para aprovar a agenda de reformas essenciais para o país.
A carteira de ações do banco americano segue agora uma estratégia defensiva. Neste mês, os analistas aumentaram a exposição ao setor financeiro ao incorporar papéis do Itaú e manter as alocações de Bradesco e B3. No entanto, "removemos o Banco do Brasil devido aos esforços do governo para que os bancos públicos ajudem a amortecer a crise", afirmam em relatório.
Entre as principais apostas para o trimestre estão, as empresas de telecomunicações Telefônica (Vivo), de energia Taesa, a farmacêutica Hypera Pharma e educacional Arco (que se beneficia de iniciativas de ensino a distância). Também ganham espaço a Raia Drogasil (farmácias permanecem abertas durante a quarentena) e BRF (aumento do consumo no varejo e sub oferta global de proteínas). "Mantemos nossa alocação em Vale, dada a depreciação cambial e os preços mais baixos do petróleo."
Em contrapartida, retiraram do portfólio TIM, Qualicorp, Anima, Minerva, Neoenergia e BR Properties.