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Efeito Arezzo: por que o setor de moda vive uma onda de negócios

Papéis do setor disparam com notícias sobre aquisições: Renner sobe 11% ao confirmar que estuda oferta de ações e em meio a rumores que pode fazer oferta pela C&A ou pela Marisa

Loja da Renner, que anunciou que estuda fazer uma oferta subsequente de ações para bancar o crescimento (Germano Lüders/Exame)

Loja da Renner, que anunciou que estuda fazer uma oferta subsequente de ações para bancar o crescimento (Germano Lüders/Exame)

PB

Paula Barra

Publicado em 16 de abril de 2021 às 19h30.

Última atualização em 16 de abril de 2021 às 22h39.

O setor de varejo de vestuário, que parecia esquecido pelos investidores, ainda pressionado pelos efeitos da pandemia, virou a bola da vez do mercado: depois da disparada da Hering (HGXT3) após anunciar, na quarta-feira à noite, 14, que rejeitou uma proposta de fusão com a Arezzo (ARZZ3), o holofote recai agora para a Lojas Renner (LREN3).

A companhia confirmou, por meio de fato relevante divulgado nesta tarde de sexta, 16, que avalia a possibilidade de realizar uma oferta de ações de distribuição primária (quando os recursos vão para o caixa da empresa), com esforços restritos. Mas que, até o momento, não há definição sobre o montante.

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Pouco antes, o site Brazil Journal noticiou que a operação poderia chegar a até 4,5 bilhões de reais, com objetivo de financiar o plano da companhia de crescimento orgânico e eventualmente para deixá-la com caixa para uma operação de fusão e aquisição.

Com a confirmação dos planos para a oferta, as ações da Renner subiram 11,91% nesta sessão de sexta, sendo cotadas a 46,90 reais, com a maior alta do Ibovespa no dia.

No mercado, há rumores de que na mira da empresa podem estar a C&A (CEAB3) ou a Lojas Marisa (AMAR3). Os papéis da C&A saltaram 8,23%, e os da Marisa, 14,73% nesta sexta.

"Após ficar largado, pelos investidores, nos últimos meses, o setor de varejo volta a ficar super aquecido e com possíveis fusões e aquisições à vista", comentaram os analistas da Ativa Investimentos.

Também nesta sexta, o Grupo Soma (SOMA3), dono de marcas como Animale e Farm, confirmou que avalia uma combinação de negócios com a Shoulder, de moda feminina, com a ressalva de que as conversas estão em fase preliminar.

No fato relevante, a companhia disse que não há nenhum documento assinado.

Os papéis do Grupo Soma chegaram a subir 4% na máxima do dia, mas fecharam em leve alta de 0,20%, em 14,84 reais.

Moda em consolidação

A consolidação no setor de vestuário, um dos mais impactados pela crise da covid por causa do fechamento das lojas físicas e do isolamento social da população, já era aguardada por especialistas do mercado. O primeiro passo nesse sentido foi dado pela Arezzo, que comprou em outubro passado a marca carioca Reserva.

Com o movimento, a empresa, até então concentrada em sapatos femininos, deu "start" em seus planos de criar uma plataforma de marcas, ampliando sua área de atuação.

"Essa é uma característica de crises. As empresas com melhor gestão acabam se preservando no primeiro momento e depois aproveitam concorrentes ou empresas complementares baratas para fazer aquisições", comentou o estrategista Gustavo Cruz, da RB Investimentos.

Há dois dias, a Hering, que vinha enfrentando queda nas vendas mesmo antes da pandemia, informou que recusou uma proposta de união de negócios com a Arezzo uma semana antes.

Para o mercado, no entanto, a negativa não foi um ponto final na história. Nesta sexta os papéis da companhia subiram mais 6,7%, fechando a semana como a maior alta do Ibovespa.

Isso porque o mercado acredita que a empresa irá receber uma nova rodada de oferta da Arezzo. "Para ambas as empresas, o negócio é visto como vantajoso", avalia Eduardo Rebouças, sócio da Helius Capital. A gestora possui posição nas ações ARZZ3.

Isso porque, para a Arezzo, a aquisição da Hering complementaria seu plano de construir um ecossistema de marcas, com escala em roupas básicas, enquanto, para a Hering, poderia ajudar a companhia a acelerar o crescimento.

Disparada das ações

Em meio a perspectivas positivas de avanço da vacinação e consequente melhora da economia, o mercado já vinha olhando para os setores mais afetados pela crise em busca de oportunidades. Faltava, no entanto, um gatilho, que parece ter vindo com os rumores sobre aquisições.

"Internamente estavamos olhando os setores que ainda não se recuperaram da crise, ou seja, que estão descontados para os valores pré-pandemia. Com várias notícias sobre aquisições surgindo, as atenções se voltam para as varejistas. Além disso, temos alguns IPOs recentes que se provaram boas histórias", comentou Cruz.

Depois de meses esquecido, o setor de varejo volta a ganhar destaque com as notícias sobre fusões e aquisições, comenta Bruno Lima, head de research da EXAME Invest Pro.

Lima aponta, no entanto, que, a disparada nos preços das ações do setor pode ter sido intensificada por um "grande short squeeze" no setor.

O short squeeze ocorre quando investidores que estão vendidos (short) na ação, ou seja, apostando na queda da cotação, se veem obrigados a entrar no mercado comprando porque os preços vão na direção oposta.

"Como esses papéis estavam praticamente largados no mercado, muitos investidores estavam 'short' (posicionados na venda), ou seja, apostando na queda das cotações. Com essa sobrevida (para a ação manter o preço ou até se valorizar), esses investidores começaram a desmontar suas posições", explicou.

Os analistas da Ativa apontaram que têm uma visão positiva para o setor de moda com a volta ao normal puxando significativamente as vendas das companhias no conceito "mesmas lojas". Além disso, "essa consolidação do setor por meio de fusões e aquisições deve fortalecer cada vez mais as companhias no longo prazo", comentaram.

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