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BMG dispara no mercado de dívida com aposta em troca de controle

Há especulações de que a instituição financeira será adquirida como parte do processo de consolidação de um setor

Banco BMG: a taxa dos títulos em dólar com vencimento em 2014 afundou 404 pontos-base (Divulgação)

Banco BMG: a taxa dos títulos em dólar com vencimento em 2014 afundou 404 pontos-base (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2012 às 08h15.

São Paulo/Nova York - O Banco BMG SA protagoniza o maior ganho no mercado de dívida com especulações de que a instituição financeira será adquirida como parte do processo de consolidação de um setor, o de bancos de médio porte, fustigado por restrições de recursos e investigações de irregularidades.

A taxa dos títulos em dólar do BMG com vencimento em 2014 afundou 404 pontos-base, ou 4,04 pontos percentuais, na semana passada para 12,99 por cento, de acordo com dados levantados pela Bloomberg. A taxa média de bancos com classificação junk no mundo, como o Royal Bank of Scotland Group Plc e o Ally Financial Inc., caiu 43 pontos-base na semana passada, para 7,3 por cento, segundo dados do Bank of America Corp.

Especulações de que o Banco Bradesco SA, segundo maior da América Latina em valor de mercado, ou o Banco BTG Pactual SA do bilionário André Esteves possam adquirir o controle do BMG repercutiram em seus títulos depois que pelo menos cinco processos de fusão e aquisição no segmento desde 2010 reduziram a confiança dos investidores nos bancos de médio porte do País. O concorrente de menor porte Banco Cruzeiro do Sul SA sofreu intervenção do Banco Central em 4 de junho. Clive Botelho, diretor financeiro do BMG, disse que o banco não está negociando a venda de uma parcela para o BTG.

“O mercado acordou para o fato de que o BMG é muito maior que o Cruzeiro do Sul, três vezes maior, e que o governo deve buscar uma solução para um banco dessa importância”, disse Carlos Gribel, diretor de vendas da Tradewire Securities LLC.

A colunista Sonia Racy, do jornal O Estado de S.Paulo, disse em 28 de junho que o Bradesco está comprando o BMG, sem dizer como obteve a informação. O Valor Econômico disse em 29 de junho que o BTG estava em conversas para adquirir o controle do BMG.

"Desperta o interesse"

“O banco não está em leilão,” disse Botelho em entrevista por telefone. O BMG “tem valor que desperta o interesse” de outros bancos, ele afirmou.

O BTG, sediado em São Paulo, se recusou a comentar.

Um representante da assessoria de imprensa do Bradesco também se negou a comentar.

O Bradesco é o maior originador de crédito consignado, em que o pagamento é descontado diretamente do salário ou da aposentadoria do tomador do recurso.


O foco do BMG nesse tipo de empréstimo, que costuma ter taxa de inadimplência inferior à dos financiamentos tradicionais ao consumidor, faz dele um alvo atraente de aquisição à medida que os calotes aumentam e o crescimento econômico perde fôlego, afirmou Heiner Skaliks, que detém bônus do BMG como gestor de carteira do Strategic Latin America Fund.

"Mais tática"

O BMG “oferece acesso a um tipo diferente de carteira de empréstimos e a um segmento diferente da população brasileira”, disse Skaliks em entrevista por telefone de La Paz. “A maneira mais tática para os bancos maiores acessarem esses mercados é comprando bancos que já estão nessa linha de negócios e é isso o que estamos vendo com o BMG.”

Os maiores bancos do país têm aumentado as provisões contra créditos de recebimento duvidoso. A taxa de inadimplência nos empréstimos a pessoa física subiu para 8 por cento em maio, o maior nível em 30 meses, de acordo com dados divulgados na semana passada pelo Banco Central. Um ano antes, a taxa estava em 6,4 por cento. Os calotes aumentaram mesmo com a queda dos juros cobrados nos financiamentos ao consumidor para o menor nível histórico de 38,8 por cento.

O ritmo de expansão do crédito no Brasil e em outros mercados emergentes tem “superado em muito” o crescimento econômico nos últimos anos, o que “frequentemente serviu de presságio para grave estresse financeiro”, afirmou em relatório de 24 de junho o Banco de Compensações Internacionais, conhecido como BIS e sediado na Basileia.

Bancos brasileiros com patrimônio inferior a R$ 2,2 bilhões têm dificuldades para ampliar suas fontes de financiamento no mercado local, por causa da cultura de investimento avessa a risco de longo prazo -- produto da hiperinflação, que passou de 6.000 por cento em 1990, e da terceira maior taxa de juro real do Grupo dos 20.

"Grave violação"

O rendimento dos títulos do BMG disparou 12,56 pontos percentuais na semana encerrada em 8 de junho, como parte de uma onda de vendas de ativos de bancos de médio porte após o BC ter anunciado a intervenção no Cruzeiro do Sul, citando “grave violação de normas”.

O Fundo Garantidor de Créditos está administrando o Cruzeiro do Sul, 27º maior instituição financeira do País pelo critério de ativos. De acordo com o BC, o banco sediado em São Paulo violou regras do sistema financeiro e as autoridades encontraram “insubsistência em itens do ativo”. Foram observados sinais de aparente fraude em uma carteira do banco de R$ 1,3 bilhão, afirmou no mês passado o diretor executivo do FGC, Antônio Carlos Bueno.

Desconfiados

O BTG fechou a compra do Banco Panamericano SA em janeiro de 2011, após a instituição ter sido acusada de fraude e o FGC ter liberado R$ 1,3 bilhão para ajudar a financiar a aquisição.


Para Alfredo Viegas, diretor gerente para mercados emergentes da Knight Capital, esses desdobramentos levaram investidores a rejeitar títulos do BMG.

“Os investidores estão hiperdesconfiados com o setor”, disse Viegas em entrevista por telefone de Greenwich, Connecticut.

“Eles precisam ser confortados e precisam entender melhor o que está no balanço patrimonial desses bancos, mais do que no seu passado. Precisamos ver se a fraude é uma questão individual ou algo com potencial sistêmico.”

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