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Bitcoin se torna opção para países em crise como Zimbábue

Cerca de um terço dos clientes que fazem fila nos caixas em Paris não está especulando. Eles estão mandando dinheiro digital para seus países na África

Crise: a bitcoin está se tornando o método preferido de habitantes de economias falidas para transferir dinheiro sem lidar com bancos (SANA/Reuters)

Crise: a bitcoin está se tornando o método preferido de habitantes de economias falidas para transferir dinheiro sem lidar com bancos (SANA/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 19 de novembro de 2017 às 08h03.

Última atualização em 19 de novembro de 2017 às 08h03.

(Bloomberg) -- Cerca de um terço dos clientes que fazem fila nos caixas de La Maison du Bitcoin em Paris não está especulando com o valor da moeda criptografada. Eles estão mandando dinheiro digital para seus países na África.

“Em muitos países da África, existem muito mais celulares do que contas bancárias”, disse Manuel Valente, cofundador de La Maison. “Para a bitcoin, você só precisa de um celular.”

O Zimbábue, onde o preço da bitcoin disparou até dobrar a taxa internacional após o golpe militar desta semana, mostra a Jamie Dimon, a Axel Weber e a outros que duvidam das moedas criptografadas onde está o uso da bitcoin na vida real e, possivelmente, seu futuro.

A bitcoin está se tornando o método preferido de habitantes de economias falidas para transferir dinheiro sem lidar com bancos, proteger suas poupanças contra turbulências políticas e evitar a moeda local quando o valor dela cai por causa da inflação.

Não há dados sobre quanto dinheiro digital sai dos países industrializados para o mundo em desenvolvimento. Parte do apelo do dinheiro eletrônico é a possibilidade de transferi-lo anonimamente. Porém, como foi confirmado pelo acontecido no Zimbábue, a bitcoin, a moeda criptografada mais popular do mundo, é mais atraente quando a confiança nas instituições diminui.

“A bitcoin é um refúgio seguro para pessoas de todo o mundo que não confiam em seu governo”, disse Andrew Milne, diretor de investimentos e cofundador do Altana Digital Curreny Fund, um hedge fund de US$ 22 milhões que investe em ativos de moedas criptografadas. “Existem muitos países onde as pessoas procuram um ativo que não seja vulnerável ao colapso dos bancos.”

Ceticismo

O Zimbábue abandonou sua própria moeda em 2009, o mesmo ano em que o bitcoin nasceu, depois que uma hiperinflação levou o país a imprimir uma nota de 100 trilhões de dólares do Zimbábue. O país usa o dólar americano, o rand sul-africano e dinheiro digital.

As pessoas compram e vendem bitcoins em uma rede interpessoal segura que não depende de nenhum governo nem banco central.

Os líderes de três dos maiores bancos do mundo expressaram ceticismo em relação à estabilidade e à resistência do bitcoin. Em setembro, Dimon, CEO do JPMorgan, ameaçou demitir qualquer trader do banco bobo o suficiente para apostar na bitcoin. No mês passado, Weber, que dirige o UBS Group, disse que a bitcoin não tem valor intrínseco porque ninguém garante a moeda.

Neste mês, o CEO do Credit Suisse Group, Tidjane Thiam, disse que “atualmente, o único motivo para comprar ou vender bitcoin é ganhar dinheiro, a própria definição de especulação e de bolha”.

Recurso

Algumas pessoas, especialmente os habitantes do Zimbábue e da Venezuela, onde a taxa de inflação anual acumulada é de 825%, poderiam discordar.

Na África, a conversão de bitcoins à moeda local muitas vezes é administrada por empreendedores locais, em pontos de câmbio licenciados parecidos com La Maison du Bitcoin de Paris, ou, em menor escala, através de indivíduos com um celular e dinheiro vivo, disse Valente.

“É uma espécie de ponto de câmbio ambulante”, disse Valente. “É muito descentralizado.”

 

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