Operador na Bolsa de Nova York: eleição americana pode dar início a novo período de incertezas (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)
Marcelo Sakate
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 3 de novembro de 2020 às 15h37.
Investidores em todo o mundo aguardam o desfecho das eleições americanas para reposicionar os seus portfólios. Nos últimos dias, bancos, consultorias e economistas passaram a apresentar as suas visões sobre o que esperam que aconteça nos mercados de acordo com o resultado nas urnas nesta terça-feira, 3 de novembro.
Nos Estados Unidos, a avaliação consensual de última hora aponta que uma vitória do democrata Joe Biden por ampla margem poderá desencadear uma valorização das ações no curto prazo, diante da expectativa de aprovação de um novo pacote de estímulos à economia, mais generoso do que com o atual presidente, Donald Trump. Isso seria válido especialmente se o Partido Republicano conseguir manter o controle do Senado.
Mas em caso de uma "onda azul", nome dado para o cenário em que Biden vence, o Partido Democrata assume o controle também do Senado e mantém a maioria na Câmara, as ações poderiam recuar 5% até o fim do ano, segundo um dos principais estrategistas do Morgan Stanley, Andrew Sheets. A razão? Uma ampla vitória democrata tornaria altamente provável a aprovação de um aumento de impostos sobre empresas, impactando os resultados.
Por outro lado, embora uma vitória de Donald Trump faça parte do desfecho com menor probabilidade de acontecer -- cerca de 10%, segundo o (ainda) prestigiado estatístico Nate Silver, do site FiveThirtyEight --, isso certamente não pode ser descartado. Para estrategistas do JPMorgan, em análise há pouco mais de uma semana, a reeleição do republicano levaria a uma valorização de 14% no S&P 500 até o fim do ano, para o patamar de 3.900 pontos -- o índice fechou próximo a 3.300 pontos na segunda, 2. A análise foi liderada pelo estrategista-chefe em ações nos Estados Unidos, Dubravko Lakos-Bujas.
Mas há outros desfechos na mesa. E um deles é o que mais assusta os investidores. Uma batalha judicial em que qualquer um dos dois candidatos -- mas potencialmente Trump, que já ameaçou diversas vezes tomar essa atitude se perder -- decida não reconhecer a vitória do adversário. "Esse cenário de pesadelo deve ser levado a sério, ainda que atualmente pareça improvável", escreveu o economista Nouriel Roubini, professor da Escola de Negócios Stern, da Universidade de Nova York, em artigo para o Project Syndicate.
O experiente economista, um dos poucos a antecipar a crise financeira global de 2008, relembra os efeitos da indefinição do vencedor na disputa eleitoral de 2000, entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore. A incerteza se arrastou por mais de um mês, período no qual as bolsas americanas recuaram perto de 7%.
"Esse nível de instabilidade política pode desencadear um quadro de redução de risco nos mercados financeiros em um momento em que a economia (americana) já está desacelerando e as perspectivas de curto prazo de um novo pacote de estímulos são sombrias", escreveu Roubini. Em um cenário em que a disputa nos tribunais se arraste até o início do próximo ano, as ações poderiam recuar 10%, enquanto o rendimento dos Treasuries -- os títulos do Tesouro americano -- cairia ainda mais, como reflexo do movimento global de aversão a risco e busca por ativos mais seguros. O dólar acabaria se fortalecendo.
Mas a compra adicional de Treasuries não faz parte da estratégia de um dos maiores investidores do mundo. Para Ray Dalio, fundador e executivo-chefe de investimentos do Bridgewater Associates, o maior fundo hedge do mundo, independentemente de quem vencer a eleição, investidores deveriam comprar títulos da dívida da China. À Bloomberg, Dalio disse que o governo americano terá déficits fiscais cada vez maiores e terá que se endividar mais seja qual for o desfecho, o que levará investidores que já estão expostos demais aos títulos americanos a buscar diversificação nos bonds chineses.