Mercados

BC sinaliza menor atuação no mercado de câmbio com medida

Ao pedir compulsório das posições vendidas, autoridade mostra intenção de reduzir compras para além do fluxo cambial

O diretor Aldo Mendes: medida não tem ligaçação com a política monetária (Elza Fiúza/AGÊNCIA BRASIL)

O diretor Aldo Mendes: medida não tem ligaçação com a política monetária (Elza Fiúza/AGÊNCIA BRASIL)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2011 às 19h18.

São Paulo – A exigência de compulsórios dos bancos com posição vendida em dólar no mercado à vista pode sinalizar uma menor atuação do Banco Central na compra da moeda americana, sinalizam analistas. Dados publicados ontem pela autoridade monetária revelam que o BC comprou US$ 41,417 bilhões no mercado em 2010, acima do fluxo cambial positivo de US$ 24,354 bilhões no período. “Ele provocou que os bancos ficassem em posição vendida”, destaca Sidnei Moura Nehme, economista da NGO Corretora.

O BC irá recolher sob a forma de depósito compulsório, 60% sobre o valor da posição de câmbio vendida que exceder o menor dos seguintes valores: US$ 3 bilhões ou o patrimônio de referência (PR). As instituições financeiras terão 90 dias para se adequar à nova regra. A medida começará a valer a partir do dia 4 de abril. Segundo o BC, a exigência visa “reduzir as posições vendidas do sistema que em dezembro de 2010 alcançaram o valor de US$ 16,8 bilhões”, revela nota. (Leia a norma)

Com as posições vendidas em dólar acima do necessário para o hedge das operações, os bancos se financiavam em dólar e depois os entregavam para o Banco Central, para então utilizá-los com uma taxa de juro maior. Para Nehme, a estratégia do BC, portanto, não era a de conter a disponibilidade de dólares e, desta forma, valorizá-lo ante o real. Na verdade, a estratégia estava sendo usada como uma ferramenta monetária pois, ao comprar além do fluxo, incentivava a posição vendida dos bancos no mercado à vista. Desta forma, o dólar continuava baixo e garantia o controle de preços que é o objetivo principal do BC ao lado da estabilidade do sistema financeiro.

Os bancos, contudo, poderão encontrar uma maneira de driblar o compulsório e começarem a realizar as operações no mercado derivativo, sugere a analista do Itaú BBA, Regina Sanchez. “Os bancos atualmente com grandes posições vendidas em dólar irão provavelmente retirá-las nos próximos 90 dias e conduzir operações similares no mercado derivativo”, ressalta em relatório.

Para Marcelo Salomon, do Barclays, o governo poderá ainda surpreender com novas medidas. “Acreditamos que deverá ser a primeira de uma série de medidas que a nova administração irá usar para conter as entradas de capital de curto prazo no mercado financeiro brasileiro. Ainda não há detalhes, mas isso levanta a possibilidade de medidas como uma quarentena, o que poderia impor custos significantes para os fluxos de capital de curto prazo e também fazer parte das ferramentas de intervenção de Mantega”, afirma. Confira abaixo as opiniões do mercado:

André Perfeito, economista da Gradual Investimentos

“Talvez esteja se consolidando no governo uma leitura de que os juros não podem subir sob hipótese nenhuma, e que o instrumental de Política Monetário até hoje utilizado (SELIC) deve ser substituído por outros de ordem quantitativa, onde se destacam o aumento do recolhimento compulsório e o aperto fiscal.

Se for esse o objetivo estamos vendo em curso uma alteração importante na condução da política econômica do país. De um lado vemos o controle do câmbio, e por outro a utilização de instrumentos novos de política monetária. O Governo nunca vai admitir isso, mas é exatamente isso que ele está comunicando ao mercado”.

Marcelo Salomon, economista-chefe do Barclays

“Vemos isso como um novo passo para limitar o carry trade e prevenir o real de maior apreciação. Isso deve exercer alguma pressão de curto prazo na taxa à vista, com os bancos adaptando-se à nova legislação, mas ainda mais importante pode ajudar a diminuir o apetite por novas posições em real. Com a nova exigência de reserva, os bancos comerciais locais deverão, em média, ter menos incentivos para internalizar os recursos e vender dólar no mercado à vista para o Banco Central. Além disso, não vemos esse anúncio como um movimento isolado. Acreditamos que deverá ser a primeira de uma série de medidas que a nova administração irá usar para conter as entradas de capital de curto prazo no mercado financeiro brasileiro”.

Regina Sanchez, analista do Itaú BBA

“Acreditamos que a nova medida terá apenas um impacto limitado nos resultados dos bancos. Os bancos atualmente com grandes posições vendidas em dólar irão provavelmente retirá-las nos próximos 90 dias e conduzir operações similares no mercado derivativo. Caso novas regras afetando as posições derivativas de câmbio sejam lançadas no futuro, acreditamos que o overhedge seja também excluído, assim como foi excluído para as exigências de capital, dado que o overhedge não é considerado uma posição especulativa no mercado de câmbio”.

Sidnei Moura Nehme. Economista da NGO Corretora de Câmbio

“As posições vendidas foram forjadas a partir da ação do Banco Central, que é participante. O fechamento de ontem do fluxo cambial mostra que tivemos um ingresso líquido de US$ 24 bilhões e o BC tirou US$ 41 bilhões. Os bancos ficaram vendidos em US$ 17 bilhões. O BC tira além do fluxo. Assim ele provoca que os bancos fiquem em posição vendida. Essa atuação aprecia o real, o que controla a inflação. Agora, o Banco Central sugere que não irá comprar além do fluxo e assim ele pode liberar o dólar para buscar um preço de equilíbrio, que acredito estar em torno de 1,85 real. Quando o BC criou o compulsório foi uma sinalização de que vai se limitar ao fluxo ou até comprar um pouco menos que isso para deixas os bancos cobrirem as posições”.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCâmbioDólarMercado financeiroMoedas

Mais de Mercados

Por que a China não deveria estimular a economia, segundo Gavekal

Petrobras ganha R$ 24,2 bilhões em valor de mercado e lidera alta na B3

Raízen conversa com Petrobras sobre JV de etanol, diz Reuters; ação sobe 6%

Petrobras anuncia volta ao setor de etanol