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BC puxa hedge cambial e captação externa por bancos médios cai

Norberto Zaiet, do Banco Pine, afirma que medidas do Banco Central, junto com o cenário exterior desfavorável, tornaram as captações "não atrativas"

Alexandre Tombini, presidente do BC: com medidas, venda de títulos corporativos caiu (Antônio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

Alexandre Tombini, presidente do BC: com medidas, venda de títulos corporativos caiu (Antônio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 22 de março de 2011 às 09h58.

Nova York/São Paulo - As intervenções do Banco Central no mercado futuro de câmbio estão influenciando os custos de hedge e tornando mais caras as captações no exterior de bancos médios, como Banco Pine SA e Banco Mercantil do Brasil SA.

A taxa baseada no dólar que os bancos recebem em contratos de proteção contra a variação do câmbio, o chamado hedge cambial, declinou 89 pontos-base, ou 0,89 por cento este ano, de acordo com os dados compilados pela Bloomberg. O custo do hedge está aumentando à medida que o Banco Central amplia as intervenções no mercado por meio das ofertas de leilões de swap cambial reverso, um dos instrumentos usados pela autoridade monetária para amenizar a apreciação do real ante o dólar, que chega a 39 por cento desde março de 2009.

Os bancos brasileiros de médio porte buscam no exterior fonte de recursos para compensar a oferta limitada de capital de longo prazo no Brasil, aponta Norberto Zaiet, vice-presidente financeiro do Banco Pine, baseado em São Paulo. Mas ele disse que os custos crescentes do hedge tornaram as captações no exterior “não atrativas” neste momento. Junto com o desastre natural no Japão e a instabilidade política no Oriente Médio, o hedge mais caro é o fator que mais influencia a formação do preço das captações no exterior. Esses lançamentos de títulos no exterior por companhias brasileiras declinaram nos últimos dois meses depois de terem chegado ao recorde em janeiro.

‘Componente importante’

“Não se trata de uma posição fixa, mas de uma variável que oscila de acordo com o que o governo faz”, disse Zaiet durante entrevista dada em São Paulo na sede do banco. “Trata-se de uma componente muito importante para quem quer que esteja atuando no mercado e tenha que equilibrar o balanço em reais. Nós vamos voltar ao mercado externo quando o custo de captação for interessante para o banco.”

A venda de títulos corporativos atingiu US$ 2,8 bilhões em fevereiro e março, com queda em relação a janeiro quando atingiram US$ 10,4 bilhões, de acordo com os dados reunidos pela Bloomberg. As ofertas no mercado americano atingiram US$ 153 bilhões no mesmo período, também com declínio ante janeiro, quando chegaram a US$ 160 bilhões.

O Banco BMG SA, baseado em Belo Horizonte e especializado em crédito consignado para o setor público e para empresas, vendeu US$ 300 milhões de papéis com três anos de prazo e taxa de 6,75 por cento, levando as captações feitas por bancos de médio porte entre fevereiro e março deste ano para R$ 345 milhões, de acordo com os números da Bloomberg. O Banco Pine, com R$ 9,2 bilhões em ativos, levantou US$ 125 milhões em seu primeiro lançamento externo feito em fevereiro de 2010.


Swap cambial reverso

O Banco Central do Brasil atuou em janeiro no mercado futuro de câmbio pela primeira vez em 21 meses. As ofertas de swap cambial reverso atingiram R$ 15,97 bilhões este ano.

No swap cambial reverso, o Banco Central paga aos investidores a variação da taxa de juros básica, em reais, enquanto a outra ponta, onde estão os bancos, assume uma taxa de juros fixa em dólar, ou seja, a variação do dólar ante o real, o cupom cambial. A taxa do cupom cambial para o contrato de cinco anos caiu de 5,8 por cento no começo de 2010 para 4,91 por cento ontem.

As intervenções do Banco Central dão alguma sustentação ao dólar e puxam para baixo o cupom cambial, disse Diego Donadio, estrategista no BNP Paribas SA, em São Paulo. Um cupom cambial mais baixo torna mais caro para os tomadores de recursos fecharem o contrato do swap que funciona como hedge de uma captação de recursos no exterior, disse Zaiet.

‘Não é boa’

“A questão fundamental é que a volatilidade não é boa para os bancos médios”, disse Ricardo Gelbaum, diretor financeiro do Banco BMG, em entrevista dada no escritório da instituição em São Paulo. “Os bancos médios no Brasil estão procurando formas de diversificar o funding, mas sem aumentar a exposição ao mercado do cupom cambial. Definitivamente, esse não é o nosso negócio”.

Alguns bancos brasileiros conseguem obter lucro captando recursos em dólar, com taxas de juros inferiores às praticadas no Brasil, de acordo com Marjorie Hernandez, analista de câmbio da HSBC Holdings Plc em Nova York. O Itaú Unibanco Holding SA, maior banco privado nacional, e o Banco Santander SA não responderam aos pedidos de entrevista feitos pela Bloomberg. O Banco Bradesco SA disse por meio da assessoria de imprensa que a instituição não comentava as estratégias do grupo.

O custo extra que agentes de mercado cobram para assumir o risco de papéis brasileiros contra títulos do governo americano subiu 21 pontos-base desde o dia 8 de fevereiro para 260 pontos- bases, em reflexo aos conflitos na Líbia, que puxaram para cima os preços do petróleo, e também devido ao terremoto no Japão. Esse fator aumentou a preocupação com o ritmo de crescimento econômico global, de acordo com o JP Morgan Chase & Co.

Proteção

Os papéis soberanos do Brasil tiveram em relação aos títulos do governo americano de mesmo prazo uma variação de sete pontos base para 177.


O custo para proteção contra um calote de um emissor brasileiro recuou quatro pontos básicos para 114, de acordo com a CMA DataVision. O Credit-default swaps garante ao detentor do contrato o pagamento do valor integral de face de um título, cujo custo depende da desvalorização que haveria com o papel caso o não pagamento de fato ocorresse.

O contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2012, subiu 3 pontos-base ontem para fechar no maior nível desde 9 de março. Ontem, o dólar fechou próximo da estabilidade, a R$ 1,6660.

O custo do swap, que torna hoje a captação no mercado externo uma operação pouco atrativa para os bancos brasileiros de médio porte, não vai ser forte o suficiente como argumento para manter esse segmento financeiro longe dos investidores de fora, avalia Robert Carlson, diretor de mercados de dívida do Barclays Plc em Nova York.

‘Ainda interessante’

“Quando você olha para o pacote como um todo, trata-se de uma operação ainda interessante para os bancos captarem no mercado externo”, disse Carlson em entrevista por telefone.

Os custos de tomar recursos emprestados no Brasil subiram com as medidas chamadas pelo Banco Central de macroprudenciais, que visam desaquecer o ritmo de expansão do crédito na economia brasileira e, assim, segurar as pressões inflacionárias que levaram a inflação a superar o centro da meta. Outro fator que tornou os custos de captação mais elevados no Brasil foi o episódio do Banco Panamericano, que precisou de socorro bilionário do Fundo Garantidor de Crédito, disse em entrevista por telefone Natalia Corfield, analista do ING Groep NV, de Nova York.

IOF

O governo brasileiro ainda considera taxar as operações de venda de títulos no exterior com o Imposto sobre Operações Financeiras como mais uma medida no sentido de frear a entrada de dólares e, assim, atenuar o movimento de apreciação do real ante a moeda americana, de acordo com uma fonte do governo em entrevista dada à Bloomberg de maneira confidencial por causa da política do governo.

O Banco Mercantil do Brasil SA, que trabalha com uma carteira de crédito para pessoas físicas e empresas, com R$ 9,5 bilhões em ativos, também está descartando por enquanto qualquer captação no exterior por causa dos custos do hedge impostos pelo preço do swap, disse o diretor financeiro da instituição, Cristiano Gomes, durante entrevista por telefone dada de Belo Horizonte.

Captar no exterior é a alternativa mais cara das três opções disponíveis exatamente por causa do custo do hedge, que subiu cerca de 20 por cento ao longo dos últimos 12 meses, disse Gomes. É mais caro captar fora do que buscar recursos por meio da cessão de crédito com o Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE) ou através de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), disse o executivo. “Dessas três alternativas, o mercado externo é o mais caro exatamente por causa do custo do swap.”

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