Nota de um dólar (Karen Bleier/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2011 às 19h38.
SÃO PAULO - O dólar subiu pelo décimo dia seguido nesta quarta-feira, provocando o primeiro dia sem intervenções do Banco Central (BC) na gestão de Alexandre Tombini como presidente.
A alta chegou a diminuir no final da tarde, após comunicado conjunto de Alemanha e França garantindo a presença da Grécia na zona do euro e exigindo o cumprimento das medidas fiscais combinadas com os credores internacionais.
A moeda norte-americana avançou 0,63 por cento, a 1,7230 real para venda. É o maior nível desde 29 de novembro passado, quando a moeda fechou a 1,724 real para venda. Em dez sessões, o dólar acumula alta de 8,45 por cento.
Dados do BC divulgados nesta quarta revelaram que a intervenção já era praticamente nula em setembro, com a compra de apenas 214 milhões dos 8,120 bilhões de dólares que entraram no país no mês até dia 9.
O último dia em que a autoridade monetária deixou de intervir no mercado à vista de câmbio foi em 24 de dezembro do ano passado, véspera de Natal. Antes disso, o BC deixou de atuar também no dia 22 de dezembro.
Tombini assumiu o BC no início do ano, junto com a chegada de Dilma Rousseff à Presidência da República.
Profissionais de mercado ouvidos pela Reuters consideraram natural a postura do BC diante da alta recente do dólar, e afirmam que o mercado de câmbio tem preservado boas condições de liquidez. "Nada demais. Somente que o câmbio está num patamar bom para o governo, e com o cenário global conturbado, o câmbio tem menores riscos de cair muito novamente", disse o operador de uma corretora em São Paulo.
Operadores têm relatado uma demanda firme por dólares por parte dos investidores estrangeiros, principalmente por causa da deterioração da crise da dívida na Europa.
Segundo dados da BM&FBovespa, os investidores não residentes tinham posição comprada líquida de 44.581 contratos de dólar futuro na terça, o que, consolidando com os 280.846 contratos de venda em cupom cambial (DDI), representava a menor posição vendida em dólares de estrangeiros desde março.
Os bancos também têm mostrado bastante demanda por dólares, mas no mercado à vista. O banco francês BNP Paribas estima que as instituições financeiras tenham agora posição comprada de 1,5 bilhão de dólares no mercado de câmbio, ante posição vendida de 6,257 bilhões de dólares no fim de agosto.
O mercado teme que a Grécia seja obrigada a declarar moratória. O país não tem conseguido cumprir as metas definidas em um programa de ajuda internacional.
No Brasil, a perspectiva de juros menores nos próximos meses contribuía para acelerar o processo de desvalorização do real. Hoje, a Selic está em 12 por cento ano ano mas, segundo a pesquisa Focus do próprio BC, o mercado prevê que ela fechará 2011 a 11 por cento.
O estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, recomenda a venda da moeda brasileira ante uma cesta de divisas da América Latina, apostando na queda relativa do real dentro da região.
"Vemos razões muito boas para esperar que essa dinâmica permaneça nos próximos meses", escreveu em relatório.
O Citigroup também recomenda a compra de dólares, com alvo a 1,744 real em contratos a termo para 21 de dezembro. Além dos juros menores, o banco avalia que a moeda norte-americana "tende a subir em períodos de retração econômica".
Na opinião do secretário do Tesouro, Arno Augustin, a subida recente do dólar "está em linha com o que a gente considera adequado".
A taxa Ptax, calculada pelo BC e usada como referência para os ajustes de contratos futuros e outros derivativos de câmbio, fechou a 1,7288 real para venda, em alta de 0,94 por cento.