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BB antecipa Basileia III e pode pagar taxa maior em captação

Novos papéis do banco permitem que a empresa mude os termos da emissão sem o consentimento dos detentores

O Banco do Brasil está fazendo a captação para aumentar seu capital após ter ampliado seu crédito em 21% nos 12 meses até 30 de setembro (Wikimedia Commons)

O Banco do Brasil está fazendo a captação para aumentar seu capital após ter ampliado seu crédito em 21% nos 12 meses até 30 de setembro (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2012 às 06h52.

Nova York - O Banco do Brasil SA está fazendo uma captação externa por meio de papéis que permitem que a empresa mude os termos da emissão sem o consentimento dos detentores, uma cláusula que, segundo o Citigroup Inc. e o Thornburg Investment Management, vai elevar a taxa dos títulos.

O maior banco da América Latina em ativos pode fazer uma emissão “benchmark” em dólar ainda hoje com taxa próxima de 10 por cento, segundo uma pessoa familiarizada com o plano, que pediu para não ser identificada porque os termos ainda não foram fechados. Os papéis renderiam cerca de 200 pontos-base a mais do que os títulos perpétuos que o banco vendeu em 2009 e 160 pontos-base acima de dívida similar vendida pelo holandês Rabobank Nederland, em novembro, segundo dados da Bloomberg.

O Banco do Brasil está fazendo a captação para aumentar seu capital após ter ampliado seu crédito em 21 por cento nos 12 meses até 30 de setembro. O banco estatal pode ser autorizado a alterar os termos dos papéis para se adequar às chamadas regras de Basileia III, que buscam aumentar a capacidade das instituições financeiras do mundo todo para gerenciar riscos. Seria a primeira oferta de uma empresa da América latina dessa forma, segundo a Standard & Poor’s.

Essa estrutura vai acrescentar “vários pontos percentuais” ao rendimento pedido pelos investidores para comprar os títulos, disse Lon Erickson, diretor-gerente da Thornburg Investment Management Inc., que ajuda a administrar US$ 9 bilhões em ativos de renda fixa. “Deixar isso nas mãos do emissor nos deixa nervosos. Vai depender de que outras proteções acessórias eles vão oferecer dentro da estrutura. Mas, diretamente, vai custar bastante”, disse Erickson, em entrevista por telefone, de Santa Fé, no estado americano do Novo México.

Retomada das emissões

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil em Brasília não quis fazer comentários antes da conclusão da emissão.

A oferta do Banco do Brasil ocorre em meio à disparada das colocações de dívida por emissores de mercados emergentes este ano. Governos e empresas de países em desenvolvimento já levantaram US$ 21 bilhões em dívida denominada em dólares em 2012 até ontem, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Apesar de a nota de crédito do Banco do Brasil ser BBB na escala da S&P, o segundo menor grau de investimento, a empresa classificou a oferta subordinada júnior como BB, três níveis abaixo, para refletir o maior risco para os investidores. Papéis subordinados geralmente entram como capital regulatório, quando o emissor tem o direito de adiar pagamentos de juros sem que isso configure calote. O Acordo de Basileia III, proposto pelo Comitê da Basileia para Bancos e Supervisão, exige que os bancos aumentem seus índices de capital.


O Rabobank, que tem nota de crédito AA, o terceiro maior grau de investimento, captou US$ 2 bilhões em títulos sob o Acordo de Basileia III a um cupom de 8,4 por cento em 2 de novembro. Foi a primeira colocação deste tipo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Cláusula ausente

Os títulos do Banco do Brasil não têm uma provisão que eleva o cupom se os títulos não forem resgatados pela instituição após um período determinado, de acordo com a S&P. As notas serão resgatáveis após 11 anos, enquanto os títulos perpétuos emitidos pelo banco em outubro de 2009 poderão ser resgatados após 10 anos.

A ausência dessa cláusula deu aumento automático do cupom, chamada step-up, e a permissão para que o banco dispense o consentimento dos detentores de títulos significam que os papéis provavelmente serão vendidos com taxa pouco abaixo de 10 por cento, disse Bevan Rosenbloom, analista de dívida corporativa do Citigroup Inc. em Nova York, em entrevista por telefone. “Vai haver uma certa diferença em relação aos últimos bônus perpétuos.”

Mesmo que o Banco do Brasil emita os papéis com prêmio em relação aos bônus perpétuos existentes, a colocação dos títulos sairá mais barata do que emitir ações para aumentar o capital, disse Rosenbloom.

As ações do Banco do Brasil subiram 0,2 por cento no último mês para R$ 24,25 na Bolsa de Valores de São Paulo.


‘Bem barato’

“Eles provavelmente consideram a colocação como ação e em relação ao preço do capital, está bem barato”, disse Rosenbloom. “É dinheiro para sempre, basicamente o que são as ações. Não é necessário pagar de volta e o cupom é basicamente um dividendo.”

Outros bancos brasileiros podem acompanhar o Banco do Brasil com emissões que atendem às novas exigências da Basileia, disse Sergio Garibian, analista da S&P.

“Há um cenário de forte crescimento no Brasil e bancos estão se preparando para lidar com essa expansão e precisam de capital”, disse Garibian em entrevista por telefone de Buenos Aires. “Quando houver mais clareza sobre como as autoridades vão implementar Basileia III, veremos mais dessas transações e emendas.”

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