Bayer: empresa teve herbicida considerado cancerígeno (Sean Gallup/Getty Images)
AFP
Publicado em 20 de março de 2019 às 16h25.
O grupo farmacêutico e agroquímico alemão Bayer afundou na bolsa, nesta quarta-feira, depois que um júri americano declarou seu herbicida Roundup, à base de glifosato, cancerígeno.
O produto, comercializado pela subsidiária Monsanto, já havia sido considerado cancerígeno no ano passado em um julgamento similar.
O grupo declarou estar "desapontado" com essa nova decisão, embora tenha assegurado que "a ciência confirma que os herbicidas à base de glifosato não causam câncer".
O título perdeu 9,61% e fechou a 63 euros a ação na Bolsa de Frankfurt.
Em junho de 2018, a Bayer comprou a Monsanto, especialista americano em produtos fitossanitários e sementes geneticamente modificadas, por 63 bilhões de dólares, uma aposta no papel cada vez mais importante que a química deve ter na alimentação mundial.
Mas a compra também significou para a Bayer herdar vários processos legais. Em fevereiro, 11.200 processos sobre a toxicidade do herbicida estavam pendentes nos Estados Unidos.
"Quando somamos os números, não é bonito", ressalta à AFP o analista da IG Chris Beauchamp, que afirma que os lucros do grupo podem ser "gravemente afetados nos próximos anos" pelas despesas judiciais.
Na terça-feira, na primeira audiência federal do ano, um júri americano determinou que o Roundup era "um fator importante" no câncer sofrido por Edwin Hardeman, um homem de 70 anos que processou a Bayer em 2016.
Este é o fim da primeira fase judicial deste processo que começou em 25 de fevereiro.
A pedido da Bayer, o julgamento foi organizado em duas etapas: uma "científica", dedicada à responsabilidade do Roundup sobre a doença, e uma segunda que tratará a eventual responsabilidade do grupo.
"Estamos confiantes de que [a segunda fase] mostrará que a Monsanto se comportou adequadamente e que a empresa não precisa ser responsabilizada" pelo linfoma não Hodgkin (LNH) de Hardeman, disse a Bayer em um comunicado.
A segunda fase do julgamento começa já nesta quarta-feira e deve responder à pergunta sobre se a Monsanto sabia dos riscos, se os escondia e, em caso afirmativo, que indenização deve pagar.
O grupo foi condenado no ano passado a pagar US$ 289 milhões a Dewayne "Lee" Johnson, pai de dois filhos pequenos e que tinha um LNH terminal.
A justiça decidiu que o Roundup foi a causa de sua doença e que a Monsanto agiu de forma maliciosa, escondendo os riscos de seus produtos com o glifosato. A multa foi então reduzida para 78,5 milhões de dólares por um juiz, mas a Bayer recorreu da sentença.
O julgamento de Hardeman, que ainda pode durar duas semanas, é o que na lei americana é chamado de "julgamento teste", que servirá de base para centenas de outros similares.
Por esta razão seu resultado é crucial e permitirá que as partes determinem se é melhor assinar um acordo econômico fora dos tribunais, como é feito frequentemente nos Estados Unidos.
Edwin Hardeman, um aposentado que mora ao norte de São Francisco, explicou no tribunal que usou o herbicida Roundup por 25 anos para eliminar hera venenosa de sua propriedade, que causa urticária. "Muitas vezes", explicou ele, o Roundup entrou em contato com sua pele.
Na primeira fase do julgamento, os dois lados apresentaram estudos científicos complexos e convocaram especialistas para testemunhar por horas.
A acusação e a defesa acusaram-se mutuamente de submeter estudos manipulados, incompletos ou não significativos.
O Centro Internacional de Pesquisa do Câncer da OMS considera desde 2015 que o glifosato é um "provável carcinógeno", ao contrário da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) e das agências europeias Efsa (segurança alimentar) e Echa (substâncias químicas).