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Barsi: a bolsa e o impeachment

Vai longe o tempo em que o investidor Luiz Barsi, de 77 anos, perdia o sono com o sobe e desce da bolsa. Há cinco décadas aplicando dinheiro em ações, Barsi é hoje um dos maiores e mais respeitados investidores do Brasil. Ainda assim, usa diariamente o metrô para chegar ao escritório, no centro da […]

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Letícia Toledo

Publicado em 10 de maio de 2016 às 19h29.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h49.

Vai longe o tempo em que o investidor Luiz Barsi, de 77 anos, perdia o sono com o sobe e desce da bolsa. Há cinco décadas aplicando dinheiro em ações, Barsi é hoje um dos maiores e mais respeitados investidores do Brasil. Ainda assim, usa diariamente o metrô para chegar ao escritório, no centro da cidade de São Paulo. Ele chega às 10 e sai às 15 horas. A estratégia de investimento também nunca muda: a busca é por ações com histórico de bons dividendos. Por isso, Barsi diz que não saiu comprando ações com a possibilidade de impeachment. Barsi concedeu a seguinte entrevista a EXAME.

No ano passado, muita gente fugiu de ações e investiu em renda fixa. Neste início de ano, a possibilidade de um impeachment da presidente fez muita gente a voltar. Afinal, a bolsa é ou não uma boa opção para ganhar dinheiro?
A bolsa é uma ótima opção. Mas não dá para fazer investimento do jeito que o brasileiro faz. O cidadão hoje, quando compra uma ação, é como se tivesse comprado uma batata quente. Ele quer se livrar da batata, aí vende e fica com o dinheiro na mão e depois volta lá em busca de outra batata quente. Falta a cultura do investimento no brasileiro. Sem essa cultura é difícil ganhar dinheiro na bolsa.

E como seria essa cultura do investimento?
O brasileiro precisa aprender a estudar uma empresa e a entrar no negócio para ser parceiro dela. Aqui, ninguém vai em assembleia de acionistas, por exemplo. Eu vou, eu conheço todas as empresas em que invisto, acompanho seus projetos. Outra coisa que o brasileiro tem de aprender é que ações são um investimento de longo prazo, é preciso montar um portfólio previdenciário. Afinal, você monta uma empresa para ficar rico no longo prazo, e não para ficar rico de repente. É preciso ter a mesma visão em relação às ações.

O problema é só com o investidor?
Não, o problema é sistêmico. O boom dos IPOs nos últimos anos também machucou o investidor. Os cidadãos foram incentivados a investir em empresas que estavam se lançando no mercado acionário, como as construtoras. Pouca gente alertou os investidores sobre os riscos que corriam. Nunca invisto em empresas em lançamento porque muitas delas trataram os acionistas minoritários como algo descartável, usaram esses acionistas para obter dinheiro no IPO e depois não pensaram mais neles, como se fossem descartáveis.

E como mudar isso?
Primeiro é preciso ensinar o cidadão sobre o mercado de valores. Mas as instituições financeiras têm um interesse muito grande de que você não tenha uma cultura do investimento e continue investindo com elas. A CVM e a bolsa também precisam fiscalizar mais as empresas. Mas a bolsa não tem interesse em angariar investidores como eu, que ficam anos com o mesmo papel. Ela lucra com corretagens de gente que compra e vende papéis o tempo todo. Quanto mais operações, mais dinheiro para a bolsa.

Em relação às estratégias para o mercado, quais papéis o senhor diria que são bons para comprar no momento? Sobrou alguma ação barata neste período pré-impeachment?
Ainda existem ações que estão tecnicamente baratas. É o caso de Cemig, Eletrobras, Banco do Brasil, que têm bons dividendos. É importante sempre procurar setores perenes. Além de ações de energia, água e telecomunicações são uma boa opção. Ninguém vai deixar de beber água, parar de usar a geladeira ou o celular por causa da crise.

Um novo governo deve beneficiar as empresas da bolsa?
Vai depender da capacidade e da competência da nova equipe econômica. Eles terão de implementar mecanismos que estimulem a atividade econômica com o corte das despesas públicas, a redução da taxa de juro, a revisão no processo de previdência. A meu ver, Henrique Meirelles, que deve ser o novo ministro da Fazenda, apresentará boas propostas. Agora o difícil é saber se o Michel Temer terá apoio suficiente para aprovar as medidas necessárias.

E qual seu portfólio atual de ações? Mudou muito com a euforia pré-impeachment?
Tenho ações de Banco do Brasil, Taesa, Banco Santander, Klabin, Suzano, Ultrapar, Eletropaulo, Cemig, Unipar Carbocloro e Eternit. Não comprei nenhuma ação diferente por causa do impeachment, o que fiz foi comprar mais ações das empresas que eu já tinha, que são boas pagadoras de dividendos. Muita gente diz que são poucas ações, mas são as melhores da bolsa, não preciso das outras.

O senhor tem papéis do Banco do Brasil, então não considera um problema investir em estatais?
O Banco do Brasil é uma estatal, mas é diferente da Petrobras e da Eletrobras. O Banco do Brasil tem um estatuto blindado. O estatuto da Petrobras é uma casa de Irene, um monte de funcionários lá não precisam existir, estão lá por interesse político. Para entrar no Banco do Brasil é preciso prestar concurso, então ele tem uma blindagem estatutária que não permite fazer o que fazem com as outras. É a única estatal blindada.

(Letícia Toledo)

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