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Banqueiro explora apostas asiáticas às vésperas da Copa

A Samvo é uma corretora de apostas cujos clientes estão entre os mais ricos consórcios de apostas de esportes profissionais do mundo


	Jogadores: o que a Samvo está vendendo é o acesso aos mercados asiáticos
 (Divulgação / Adidas)

Jogadores: o que a Samvo está vendendo é o acesso aos mercados asiáticos (Divulgação / Adidas)

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Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2014 às 22h39.

Dentro de um edifício de escritórios indescritível no centro de Londres, em uma sala repleta, homens e mulheres estão sentados diante de telas de computadores e conversam por Skype com gente de todo o mundo.

Um cantonês afiado inunda o ar e uma TV de tela plana emite um barulho contínuo. É o coro de uma multidão das Midlands que canta no Estádio Villa Park, em Birmingham, Inglaterra: Liverpool e Aston Villa estão em campo. O jogo acabou de começar.

O nome da companhia, Samvo Entertainment Ltd., dá poucas pistas sobre o negócio que está sendo realizado aqui, reportará a Bloomberg Pursuits em sua edição do terceiro trimestre de 2014.

A Samvo é uma corretora -- uma corretora de apostas -- cujos clientes estão entre os mais ricos consórcios de apostas de esportes profissionais do mundo.

Quatro telas estão instaladas em cada mesa, com listas de preços atualizados em tempo real. E nesse momento -- 15 horas de um sábado no final de agosto, a segunda semana da temporada 2013-2014 da Premier League inglesa -- os corretores da Samvo estão recebendo pedidos da clientela da empresa.

Fundada há uma década pelo ex-banqueiro de investimentos de Hong Kong, Frank Chan, a Samvo atua como intermediária. A empresa busca as probabilidades mais favoráveis com agentes de apostas ao redor do mundo, apresenta as apostas em nome de seus clientes e cobra uma tarifa por seu trabalho.

A aposta média de um cliente da Samvo é talvez de 25.000 libras (US$ 42.000), segundo Yan Tang, a gerente-geral da empresa. Contudo, as apostas frequentemente excedem um milhão de libras, diz Chan.

Mercados asiáticos

O que a Samvo e um punhado de outras corretoras ocidentais de apostas estão vendendo realmente é o acesso aos mercados asiáticos, com agenciadores que operam em lugares como a Cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã; Jacarta; Manila; Phnom Penh, no Camboja; Taipé e Vientiane, no Laos.

Na última década, os mercados asiáticos passaram a estar entre aqueles com as operações mais altas e líquidas de agenciamento de apostas que o mundo já conheceu.

Os três maiores -- IBCBet, SBOBet e Singbet -- geram cada um acima de US$ 2 bilhões em apostas por semana, estima Chris Eaton, ex-chefe de segurança da Fifa e agora diretor do Centro Internacional para a Segurança do Esporte, um órgão criado pelo governo do Catar antes da preparação para a Copa do Mundo de 2022 do emirado.

Não é incomum que equipes populares globalmente em torneios de alto nível -- como a Liga dos Campeões ou a Copa do Mundo -- atraiam mais de US$ 1 bilhão em apostas em um único jogo, diz Eaton, que, como ex-investigador principal de combinação de resultados da Fifa e atual do Catar, está em posição de saber isso.

Nova carreira

Em 2003, Chan começou a busca por uma nova carreira. Aos 32 anos de idade e na época atuando como banqueiro de investimentos na Core Pacific-Yamaichi International (H.K.) Ltd., Chan tinha se cansado do campo escolhido. A epidemia de SARS havia assustado os investidores internacionais e a liquidez na Bolsa de Hong Kong havia secado.

Em uma longa viagem ao Reino Unido, lembra Chan, ele se deparou com um dos setores mais aquecidos do país naquele momento: as apostas on-line. Recentemente uma enxurrada dessas empresas tinha aberto capital e ganhado as manchetes.

“Quando eu olhei na página de finanças encontrei um setor que ainda estava em crescimento”, diz Chan, em seu inglês com um ligeiro sotaque de Hong Kong.

No meio da tarde, no dia da visita à empresa, a conversa girou em torno da partida no Villa Park. Mais cedo, vários grupos de clientes haviam instruído a Samvo a apostar no time da casa, o azarão Aston Villa. Desta vez, contudo, a companhia não repassará essas apostas a outras agências de apostas.

Em vez disso, Tang, 31, anuncia despreocupadamente: “Decidimos derrubar essas apostas porque preferimos o Liverpool”.

Em outras palavras, a Samvo havia tomado o outro lado da aposta em sua totalidade. Tang (que desde então deixou a companhia) não revela quanto exatamente estava em jogo, dizendo apenas tratar-se de centenas de milhares de libras.

Ilhas do Canal

Em uma sala adjacente à mesa de corretagem, e também em um escritório satélite no paraíso fiscal de Guernsey, nas Ilhas do Canal, equipes de operadores de capital tomam decisões sobre como e onde alocar o capital da Samvo (que é cuidadosamente separado dos fundos dos clientes em concordância com as regulações britânicas de apostas, como pontua prontamente Victor Gomes, diretor de compliance da companhia).

De forma semelhante, um modelo de predição de criação própria da Samvo dirige uma considerável operação de um programa de negociação. Como aqueles dos grandes consórcios de apostas esportivas, o modelo da Samvo processa resmas de dados históricos de desempenho de jogadores e equipes e então roda dezenas de milhares de simulações de jogos para cada confronto futuro.

A divisão de pesquisa da Samvo reúne parte dessa informação; o restante vem de fornecedores que surgiram para servir a indústria de apostas esportivas do Reino Unido. A informação entra; as probabilidades saem.

Aposta quantitativa

O fato de a Samvo ter decidido enfrentar uma aposta quantitativa não preocupa Tang, nem ninguém no escritório.

Por uma razão, diz ela, a Samvo tem o cuidado de espalhar sua tomada de riscos por muitas apostas em muitas partidas de muitas ligas; sua carteira, em outras palavras, é diversificada.

Também por outra razão: Tang tem uma fé inabalável no modelo da Samvo, que previu que o Liverpool cobrirá a diferença de três quartos de ponto porcentual.

Usando os termos de Tang, o modelo acredita que o mercado precificou mal o valor de uma vitória do Liverpool. Enquanto Tang explicava isso, o Liverpool marcou.

Um operador chamado Sam Fleming, que estava sentado à mesa havia 14 horas, deu um grito de comemoração. O gol surgiu pelos pés do atacante Daniel Sturridge e Fleming exclama: “Ele é um gênio!”.

Longo prazo

A empolgação de Fleming não é totalmente pelo fato de a Samvo agora estar propensa a ganhar várias centenas de milhares de libras e sim porque ele é nativo de Liverpool. Quanto à participação da Samvo, o resultado de qualquer previsão é insignificante, diz Fleming.

O que importa é o desempenho total do modelo ao longo de milhares de partidas e dezenas de milhares de apostas durante o curso completo de uma temporada: a capacidade de explorar confrontos mal precificados a longo prazo. “Trata-se simplesmente de estar certo mais frequentemente do que errado”, diz Fleming.

Nessa ocasião, pelo menos, o modelo funcionou: quando o tempo acabou no Villa Park, o Liverpool havia vencido por 1 a 0. Contudo, a vitória provoca apenas silêncio: os corretores e operadores da Samvo, concentrados em seus terminais, já estão em outra atividade --assim como sua chefe.

Apesar do sucesso, Chan acredita que o negócio de corretagem de apostas como ele existe agora deixou para trás seu tempo de glória.

Em seu lugar, ele deseja construir uma plataforma de operações eletrônicas de grande volume que transformaria a Samvo no equivalente em apostas esportivas à ICAP Plc -- a intermediária digital gigante que troca apostas entre grandes investidores e, assim, engraxa as engrenagens de alguns dos mercados financeiros mais importantes do mundo.

Chan, que hoje viaja frequentemente entre Londres e sua Hong Kong natal, diz que o bebê já deu seus primeiros passos ao contratar programadores de computadores à altura da tarefa. Seu herói, diz ele, é Michael Spencer, CEO da ICAP.

“Ele criou um dos maiores serviços de corretagem eletrônica no mundo”, diz Chan, com admiração. “E ficou tão rico!”.

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