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Bancos são principais compradores no mercado de dívida local

Empresas buscam reforço de liquidez para enfrentar crise econômica gerada pela pandemia; economistas preveem uma retração econômica de 2%

Dívida: títulos com vencimento de um a dois anos foram precificados com spreads entre 150 e 296 pontos-base (CarlaNichiata/Thinkstock)

Dívida: títulos com vencimento de um a dois anos foram precificados com spreads entre 150 e 296 pontos-base (CarlaNichiata/Thinkstock)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 19 de abril de 2020 às 07h32.

Última atualização em 19 de abril de 2020 às 07h32.

Os bancos têm sido os principais compradores dos títulos de dívida local emitidos pelas empresas brasileiras após a onda de vendas que fez os retornos dispararem e causou resgates recordes dos fundos de crédito.

Empresas em busca de liquidez para enfrentar a crise estão optando por vender novos títulos diretamente para os bancos, que frequentemente cobram juros mais baixos que aqueles que seriam demandados pelos investidores institucionais. No mercado secundário, os spreads dos títulos de dívida local chegaram a quadruplicar.

“Os bancos têm encarteirado tudo isso”, disse Ulisses Nehmi, CEO da Sparta Fundos de Investimento, que administra R$ 4 bilhões. Bancos tendem a aceitar rendimentos mais baixos do que outros investidores porque têm interesse em manter o relacionamento com essas empresas, disse ele.

Empresas estão em busca de reforço de liquidez para enfrentar a crise econômica gerada pela pandemia, já que economistas preveem uma retração econômica de 2% neste ano. A demanda por crédito corporativo atingiu um pico dez vezes acima do volume típico antes de voltar ao normal, segundo o Banco Bradesco.

Nomes do varejo como Magazine Luiza e Lojas Renner e do setor de energia como Transmissora Aliança de Energia Elétrica e Eneva venderam títulos locais neste mês, após queda de 60% das novas emissões em março. Títulos com vencimento de um a dois anos foram precificados com spreads entre 150 e 296 pontos-base.

Os títulos que foram encarteirados pelos bancos foram precificados com spreads “bem abaixo” do nível observado no mercado secundário, de acordo com Laurence Mello, gestor e responsável por crédito privado da AZ Quest Investimentos, com R$ 15,5 bilhões sob gestão.

Bancos brasileiros também são os principais compradores do mercado secundário, ocupando o espaço deixado por fundos de crédito após a sangria que assustou investidores de varejo. Grandes retiradas obrigaram gestores a vender posições para compensar os resgates, deixando-os com menos dinheiro para comprar.

Os investidores, em busca de caixa em resposta à crise do coronavírus, tiraram R$ 9,6 bilhões de fundos de crédito em março, após os resgates de R$ 1,5 bilhão em fevereiro, segundo estimativas da JGP Gestão de Recursos. As retiradas representam cerca de 12% do total de ativos sob gestão pela indústria de fundos de crédito independentes.

“O investidor pessoa física tem saído dos investimentos,” disse Marcia Lima, responsável pelo relacionamento com investidores da Quasar Asset Management, que administra R$ 3 bilhões. “Quem está aproveitando essa oportunidade de comprar títulos de boa qualidade de crédito pagando spreads relativamente muito altos têm sido as tesourarias dos bancos.”

Títulos com melhor qualidade de crédito oferecem uma boa oportunidade, disse Marcia, pois sofreram mais na onda vendedora simplesmente porque são mais líquidos do que os títulos mais arriscados. Empresas classificadas como AAA e AA, que pagavam spreads de 1 a 1,5 ponto percentual acima do CDI, atualmente são negociadas no mercado secundário com spreads de 4 a 5 pp, disse Marcia.

A Eneva, que tem rating em dívida local AA+ pela Fitch ratings, vendeu R$ 410 milhões em debêntures de um ano esta semana pagando um spread de 250 pontos sobre o CDI. Um ano atrás, a empresa vendeu títulos de cinco anos pagando menos da metade desse spread. A Diagnósticos da América vendeu R$ 365 milhões em debêntures pagando 195 pontos sobre o CDI, comparado aos 120 pontos pagos em dezembro por notas de cinco anos.

Salvação

A possibilidade de o Banco Central comprar títulos de empresas pode ajudar a reduzir os spreads no mercado secundário, segundo os investidores.

“Nos EUA onde o banco central já tem essa permissão, os spreads ainda não voltaram para o patamar inicial, mas já reduziram em mais de 100bps com a atuação do banco central, então a gente espera que isso acabe ocorrendo no nosso mercado,” disse Carlos Lima, responsável pela equipe de gestão de fundos da Quasar Advantage.

“A dinâmica do BC mostra a maturidade do mercado, convergindo para países de primeiro mundo,” disse Mello, da AZ Quest.

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