Itaú Unibanco (ITUB4) (Pilar Olivares/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 18h45.
Última atualização em 14 de dezembro de 2020 às 22h54.
Com alta acumulada de 22% desde o início de novembro, o Ibovespa ganhou destaque entre os principais índices de ações do mundo nas últimas semanas. Motivados pelos avanços das vacinas, que melhoraram a perspectiva para os mercados emergentes, investidores estrangeiros colocaram 40,8 bilhões de reais na bolsa brasileira desde o início de novembro. E uma das principais portas de entradas foram os grandes bancos.
Até então tidos como as maiores barganhas da bolsa, no período, os papéis de Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) tiveram respectivas altas de 31,7%, 29,4%, 37,2% e 31,4%. Para Bruno Lima, analista-chefe da Exame Research, a valorização foi suficiente para tornar cara parte do setor.
“Hoje, o valuation do Itaú está caro no patamar de preço em que está. Já Bradesco e o Santander talvez não estejam caros, mais deixaram de ser pechinchas”, afirma Lima.
Embora as ações dos quatro principais bancos ainda acumulem desvalorização em 2020, a análise pelo indicador preço/lucro (P/L) revela que Bradesco e Itaú já estão com múltiplos mais elevados do que quando iniciaram o ano. O P/L do Itaú está em 15,67x, contra 13,6x do começo de janeiro. Segundo dados da consultoria Economatica, o P/L máximo até o fim de dezembro era de 15,1x, sendo que, em outubro, seu P/L era de 12,2x.
Bruno Lima também chama atenção para o indicador de preço/valor patrimonial (P/VP), em que o Itaú está em 2,35x, o Santander em 2,17x, o Bradesco em 1,72x e o Banco do Brasil em 0,98x. “O Banco do Brasil ainda está barato. Historicamente, o P/VP do Banco do Brasil é de 30% em relação aos bancos privados e está em torno de 50%. Mas parte disso se deve ao risco fiscal. Isso tem gerado alguma reticência nos investidores”, diz.
Por outro lado, parte do mercado ainda vê o setor com otimismo. Para Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos, a recomendação para os papéis de Itaú, Bradesco e Banco do Brasil é de compra.
“Os grandes bancos são bons pagadores de dividendos e sempre têm bons resultados. Principalmente o setor privado, com Itaú e Bradesco, está sempre em uma trajetória de crescimento”, diz. No entanto, Panonko acredita que, até devido às recentes valorizações, o potencial de alta do setor foi reduzido. “Não os considero caros, mas não dá pra falar que estão uma barganha.”
Gustavo Bertotti, economista da Messem, também vê otimismo o setor, embora considere que alguns bancos “parecem caros por indicadores fundamentalistas”. “Eles ainda estão extremamente desvalorizados. Boa parte da retomada da economia brasileira passa pelos grandes bancos e a expectativa pelo [boletim Focus] é de crescimento de 3,5% no ano que vem.”
Bertotti ainda destaca o desempenho dos bancos no terceiro trimestre, quando os resultados superaram as estimativas do mercado. “Os bancos fizeram um dever de casa importante, com boas provisões [dinheiro reservado para arcar com possíveis calotes]. É um setor muito bem administrado e que já tem dado sinais sólidos de recuperação”, diz.
Por outro lado, ainda há algumas incertezas no horizonte dos bancos. No momento, a principal talvez seja a possibilidade de o fim do auxílio emergencial, em meio a um cenário de desemprego real em torno de 20%, elevar a inadimplência no próximo ano.
Embora veja uma maior clareza sobre a carteira de crédito dos bancos e a possibilidade de reversão das provisões, Lima acredita que o mercado tenha “passado por cima do risco do fim do auxílio”. “O mercado pagou o que pagou [pelos papéis dos bancos] muito mais por liquidez global e por notícia de vacina. A economia ainda não pegou tração e a inadimplência segue como uma fonte de risco importante.”
No longo prazo, o maior risco dos bancos tem sido o crescimento de bancos digitais e fintechs. Principal representante desse movimento na bolsa, o Banco Inter tem surfado nessa onda e, desde o início do ano, seus papéis preferenciais acumulam alta de 89%, enquanto, até agora, nenhuma ação dos grandes bancos zeraram as perdas de 2020.