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Por que os Bancos Centrais estão trabalhando para gerar uma recessão econômica

O objetivo é claro: lutar contra uma inflação criada por políticas monetárias e fiscais ultraexpansionistas durante a pandemia de Covid-19

Sede do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos (Leah Millis/Reuters)

Sede do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos (Leah Millis/Reuters)

Os Bancos Centrais do mundo inteiro estão lutando contra o tempo para contrastar um inimigo comum: a inflação.

O maior temor dos banqueiros centrais nesse momento é que a inflação elevada que está atingindo as economias de todo o planeta possa se tornar "pegajosa", - ou seja, mais permanente - contaminando todos os setores da cadeia econômica. Com o risco que se chegue ao pior dos cenários: a indexação entre preços e salários. Um desastre que prejudicaria de forma definitiva qualquer política monetária.

A inflação atual é considerada como "artificial", ou seja, foi criada pelos excessos de expansão monetária e fiscal durante e depois da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). Por isso, deve ser combatida criando uma recessão artificial. Elevando os juros o quanto for possível pelo tempo que for necessário, interrompendo qualquer outra política de estímulos econômicos, como a compra de títulos da dívida pública.

Bancos Centrais com problema diferentes

Entretanto, se a opinião entre os Bancos Centrais é comum, os contextos de atuação das políticas monetárias são muito diferentes. Por exemplo, se o Federal Reserve (Fed) enfrenta uma economia americana superaquecida, com desemprego abaixo do nível natural, o Banco Central Europeu (BCE) deve considerar que boa parte da Zona do Euro está em plena crise energética. Um cenário muito mais complexo.

A chave para entender o problema do Fed e o dólar, a moeda com a qual as commodities são negociadas mundialmente. Se o Banco Central americano atuar de forma dura demais, o dólar se fortalece e outros países "importam" mecanicamente mais inflação pagando mais para os produtos importados. Sem contar o risco sistêmico de um "super-dólar" para as contas públicas de países emergentes que tem sua dívida externa denominada na moeda norte-americana.

A saída desse círculo vicioso começará a aparecer assim que as taxas de juros norte-americanas encontrarem o nível “pivô”, ou seja, aquele pico de agressividade capaz de infligir o golpe final na inflação.

Juros dos EUA sobem sem parar e a curva se inverteu

Enquanto isso, as taxas de juros dos EUA continuam subindo sem parar. E são precisamente essas taxas, que aparecem ao longo de toda a curva, que indicam claramente como começou a contagem regressiva para a chegada de uma recessão. A indicação mais clara ocorreu já há alguma semanas, com a inversão abaixo de zero do spread de 10-2 anos e está se confirmando nos últimos dias com o spread de 10 anos - 3 meses se aproximando do zero. Um sinal ainda mais preditivo de uma iminente enfraquecimento da atividade econômica. A história mostra que nas últimas oito vezes que esse segundo spread mergulhou em território negativo, a recessão apareceu.

Desde 1900, a curva de rendimentos entre os prazos de 2 e 10 anos inverteu-se 28 vezes e foi seguida por uma recessão 22 vezes. No início de julho, o spread de 10 a 2 anos tornou-se negativo e atingiu níveis inéditos desde 2001. Profundidade e duração são dois aspectos cruciais para ter um sinal confiável de recessão.

Diminuindo os prazos obtemos sinais com maior probabilidade e precisão. Assim, a aproximação da inversão da curva de juros entre os vencimentos de 3 meses e 10 anos não se torna apenas um sinal de previsão de recessão, mas também um sintoma de forte estresse no sistema financeiro e desacelerações econômicas repentinas. Pois com isso, o refinanciamento de crédito de curto prazo se torna praticamente impossível, e as margens dos bancos acabam ficando apertadas.

Por outro lado, os mercados já estão precificando as baixas expectativas de crescimento de longo prazo, o Fed eleva as taxas de juros e faz uma política de endurecimento quantitativo. Um mix perfeito para a desaceleração do motor econômico e para desenvolver uma espiral negativa.

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