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Banco suíço não recomenda investir na China agora. Mas aponta alternativas

Para especialista, ante um maior nível de incertezas com a política de covid zero, existem outras opções na região

Matthews: empresas de Hong Kong são apostas em um momento no qual o principal índice de ações da região administrativa especial está subvalorizado (Julius Baer/Divulgação)

Matthews: empresas de Hong Kong são apostas em um momento no qual o principal índice de ações da região administrativa especial está subvalorizado (Julius Baer/Divulgação)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 11 de maio de 2022 às 06h00.

Última atualização em 12 de maio de 2022 às 19h21.

"Uma caixa preta". É esta a definição da China para o chefe de pesquisa para a Ásia do banco suíço Julius Baer, Mark Matthews.

O grau elevado de incertezas que envolve o país por questões políticas ficou ainda maior recentemente por causa da lei de 'covid zero'. Sem previsão para terminar, os severos lockdowns no país provocam problemas logísticos graves, e afetam a economia.

Para Matthews, a política de covid zero é compreensível. Afinal, um país continental, repleto de idosos, pode ter um alto pico de mortes repentinamente.

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"Além disso, a China não deseja ser dependente das vacinas do Ocidente e pode estar buscando vacinas locais que funcionem. Sem contar que passaram os últimos dois anos dizendo que fizeram um bom trabalho no combate à pandemia. Se relaxarem agora, essa imagem será arranhada".

Apesar de estar no centro das atenções, a política de covid zero não é o imbróglio que mexe com o mercado financeiro no país. Mas, sim, como a China irá responder aos efeitos dessas restrições, que vêm freando o crescimento da sua economia.

No mês passado, o país registrou queda de pedidos tanto de produtos manufaturados como não-manufaturados, aponta Matthews. "Parece que não haverá um grande estímulo à economia na China. Revisamos o crescimento do PIB chinês para 4,5% este ano. Mas é difícil prever o que irá acontecer"".

Interferência do governo pesa sobre ações

Empresas de tecnologia, bastante correlacionadas ao crescimento da economia do país, registravam as melhores performance na bolsa nos anos 2000. Por conta da Grande Firewall, projeto de vigilância e de censura operado pelo governo chines, as redes sociais e plataformas da China são nacionais, e se tornaram gigantes.

Mas, a partir de 2010, esse bom desempenho começou a desacelerar, explica Matthews. "Desde então, a China se tornou uma economia de 2 trilhões de dólares. Ficou mais difícil sustentar o crescimento".

Além disso, a interferência do governo na economia afeta os negócios dessas empresas, diz o especialista. Recentemente, o governo multou o site de delivery de comida local, Meituan (HKD), por abusar de sua posição dominante no mercado. Como resultado, as ações da companhia despencaram 30%.

Histórico das ações da empresa de delivery chinesa Meituan

Histórico das ações da empresa de delivery chinesa Meituan (Bloomberg/Reprodução)

Atualmente, os papéis do Alibaba (BABA34), a terceira maior ação do índice de Hong Kong, o Hang Seng, negociam 2x acima do seu valor patrimonial. É um valor bem abaixo das ações da Alphabet (GOGL34), que negocia 5,7x acima desse número, e mais semelhante ao nível de negociação de empresas como a indústria de sopas Campbell (CPB, NYSE), cujo preço fica 1,8x acima do seu valor patrimonial.

Comparação do valor das ações do Alibaba, Alphabet e Campbell Soup

Comparação do valor das ações do Alibaba, Alphabet e Campbell Soup (Bloomberg/Reprodução)

Existem atualmente 8 mil empresas listadas na China, cita o especialista. "Tenho certeza que centenas delas são boas. Mas não sabemos quais são. Quem investe na China precisa ser sofisticado. O mercado no país responde atualmente unicamente à política, e não aos fundamentos. Não me sinto confortável aplicando dinheiro lá atualmente",

O fim da política contra a covid mudaria a visão do analista? Matthews diz que sim. "Podemos revisar o investimento no país no segundo semestre deste ano".

Hong Kong: a alternativa 'barata e com menor risco'

Em um momento de incertezas ainda maiores sobre a China, o especialista do Julius Baer recomenda comprar ações de empresas de Hong Kong, a região administrativa especial chinesa. O principal índice acionário do país, o Hang Seng, está, em sua opinião, subvalorizado.

Histórico do índice Hang Seng, de Hong Kong

Histórico do índice Hang Seng, de Hong Kong (Bloomberg/Reprodução)

Entre os papéis recomendados, o especialista cita o banco local Standard Chartered, a empresa AIA. Veja abaixo as recomendações do banco:

  • HSBC Holdings (banco)
  • AIA Group Limited (seguradora)
  • BOC Hong Kong (Holdings) Limited (banco)
  • Sun Hung Kai Properties Limited (mercado imobiliário)
  • Link Real State Investment Trust (mercado imobiliário)
  • Whar Real State Investment Co Ltd. (mercado imobiliário)
  • Power Assets Holdings Limited (utilities)
  • HKT Trust and HKT Ltd (telecom)

Para Matthews, mercados no continente, especialmente o de Hong Kong, se beneficiam do crescimento do país continental, mas oferecem riscos políticos menores. "A posição de Hong Kong como a cidade global da Ásia foi desafiada pela covid-19. Muitas empresas deixaram o país. A identidade local pode mudar, mas não significa que seu atrativo acabou. E Hong Kong está começando a reabrir".

A aplicação na região, contudo, é uma aposta de longo prazo, ressalta o especialista, "para comprar e segurar por anos".

A possibilidade de fusão de Hong Kong com a China no futuro não é empecilho para a aplicação, complementa. "Essas empresas privadas de boa qualidade poderão fazer mais negócios lá. Não vejo uma possibilidade de interferência da China nessas empresas agora".

Matthews desaconselha, contudo, investir em ETFs que replicam o índice Hang Seng. "Metade do índice hoje é composto por empresas chinesas. Portanto, o investidor estaria muito exposto ao país e ao seu risco atual".

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