Banco do Brasil (BBAS3): empresa supera pares privados ao controlar inadimplência (Adriano Machado/Bloomberg)
Beatriz Quesada
Publicado em 10 de novembro de 2022 às 15h59.
O Banco do Brasil (BBAS3) é o grande destaque positivo da temporada de balanços do setor bancário até o momento. Em seu resultado divulgado na noite passada, o banco estatal superou as expectativas e registrou alta de 62,7% no lucro líquido, que saltou para para R$ 8,36 bilhões.
O valor ficou bem acima dos pares privados que já mostraram seus números. O Santander ficou abaixo das expectativas, com queda de 28% no lucro no período, para R$ 3,12 bilhões.
Já o Bradesco foi a maior decepção entre os bancões, e perdeu R$ 30,7 bilhões em valor de mercado após apresentar seu balanço do terceiro trimestre. O segundo maior banco privado do País registrou um lucro de R$ 5,2 bilhões – queda de 22,8% na comparação anual. O Itaú, por sua vez, apresenta seu balanço na sexta-feira.
A explicação para a discrepância entre os resultados está em dois fatores correlatos: composição da carteira de crédito e inadimplência.
O Banco do Brasil é, historicamente, mais conservador que seus concorrentes na hora de conceder crédito, buscando opções mais cautelosas e menos rentáveis. E neste trimestre, a cautela foi um trunfo que pode ser observado nos números.
O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) do BB, que indica sua capacidade de rentabilizar seu capital, saltou para 21,8% no terceiro trimestre. O resultado ficou bem acima dos 15,6% do Santander e dos 13,4% do Bradesco registrados no mesmo período.
“O resultado é fruto da nossa estratégia para crescer em linhas de crédito mais seguras. Não existe mágica: optamos por uma concentração muito grande em produtos e segmentos com menor inadimplência”, explicou Fausto Ribeiro, presidente do BB, em coletiva nesta quinta-feira, 10.
O que derrubou o Bradesco, por exemplo, foi a alta inadimplência na linha de pessoas físicas e pequenas e médias empresas, que representam 40,1% e 19,9% da carteira de crédito do banco, respectivamente. São operações com maior retorno, mas que precisam de maiores provisões em momentos em que a população se encontra mais endividada.
Foi o que aconteceu neste trimestre. A inadimplência total do Bradesco subiu de 2,6% em setembro do ano passado para 3,9% no mesmo mês deste ano. Como resultado, o banco teve de expandir em 116,4% as despesas com provisões contra a inadimplência.
O BB está na ponta oposta. A linha de pessoas físicas representa menos de 5% do mix de crédito do banco. O Banco do Brasil tem forte participação em mercados com opções mais seguras de concessão, como o setor do agronegócio – que é tradicionalmente um bom pagador. O resultado foi um índice de inadimplência que subiu de 1,82% em setembro do ano passado para 2,34% neste ano.
Cerca de 30% da carteira de crédito do banco estatal está voltada para o agronegócio, segmento que apresenta uma inadimplência baixa. Para efeito de comparação, a taxa de inadimplência no crédito agro do BB foi de apenas 0,47%. A forte participação do setor na carteira ajudou o banco a segurar o indicador de empréstimos não pagos.
A carteira de pessoas jurídicas também colaborou. O banco tem boa parte de sua concessão para empresas voltada para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), onde existem garantias, tornando o empréstimo mais seguro. O índice de inadimplência na linha de crédito PJ foi de 1,47%.
O resultado foi essencial para que o BB não sofresse tanto quanto os pares com a piora da inadimplência no segmento de pessoas físicas. O banco foi sim afetado, tanto que o índice de cobertura foi de 234,9% – forte queda em comparação aos 323,3% registrados em setembro de 2021. O baque, no entanto, foi bem menor do que o observado na concorrência.
Leia mais: Bradesco sofre queda histórica e perde R$ 30,7 bi em valor de mercado