Ibovespa: Bolsa registra maior entrada de capital estrangeiro para um 1º semestre em 3 anos (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 2 de julho de 2025 às 06h00.
A migração de recursos dos Estados Unidos para países emergentes, os valuations atrativos e a visão sobre início do ciclo de corte de juros são alguns dos motivos que trouxeram capital estrangeiro para cá. O resultado? É que a entrada de dinheiro gringo por aqui foi a maior em três anos quando observados primeiros semestres.
Do começo do ano até sexta-feira passada, 27 de junho (data mais recente com informações disponíveis), os aportes estrangeiros superaram os resgates em R$ 26,21 bilhões na B3. Trata-se do maior volume líquido para o período desde o primeiro semestre de 2022, quando o saldo ficou positivo R$ 68,75 bilhões, de acordo com a consultoria Elos Ayta.
No mesmo intervalo de 2024, o saldo havia sido negativo em R$ 38,86 bilhões. Já em 2023, o fluxo foi positivo em R$ 23 bilhões. Ao observar os segundos semestres, o primeiro semestre de 2025 também ultrapassa os valores de julho a dezembro de 2024, quando foi registrado a entrada de R$ 14,66 bilhões.
Os dias de glória chegaram para o Ibovespa, que atingiu seu recorde em maio aos 140 mil pontos, subindo 15% no semestre – e a entrada do gringo tem peso nisso, aponta o relatório do Itaú BBA, que reitera a rotatividade de recursos dos EUA como um dos principais motivos.
Em junho, mês em que o Ibovespa subiu 1,3%, a dinâmica não foi diferente. O fluxo trazido pelo gringo foi de cerca de R$ 4 bilhões – mesmo sem qualquer mudança relevante nos fundamentos internos capaz de motivar um ingresso deste porte, escrevem os analistas da casa.
Willian Castro, estrategista-chefe da Avenue, diz que essa vinda de capital estrangeiro agrega toda essa desconfiança em relação às políticas que estão sendo adotadas nos Estados Unidos e o impacto delas em termos de crescimento econômico.
“Quando os EUA crescem bastante, isso atrai capital para ele, as empresas querem vender lá, querem estar lá, e valoriza o dólar. Quando o mundo tem uma recessão, também, o mundo corre para segurança da Treasury e do dólar”, pontua.
Mas e quando o dólar não vai bem? No momento atual, em que se espera que o crescimento dos Estados Unidos desacelere – e que o crescimento em outras regiões do globo possa permanecer resiliente – alternativas de alocação em outros lugares que crescem.
Mas não é a queda do dólar que contribui para a saída de capital dos Estados Unidos – é uma consequência. “Você sai dos Estados Unidos, vende dólar, compra real e investe no Brasil. Sai dos Estados Unidos, vende dólar, compra euro e investe na Europa, e por aí vai.”
Junto a isso, segundo Castro, há uma desconfiança em relação aos impactos das políticas tarifárias, políticas migratórias, ou seja, as incertezas que o governo Trump vem promovendo. “Isso, obviamente, afetam e geram esse incentivo a uma realocação de capitais”, completa.
Entretanto, os Estados Unidos seguem como a principal alocação global — os investidores estão reduzindo de 65% para 60% a alocação, por exemplo. Mas são esses 5% liberados que buscam destino em outros mercados, como Europa e emergentes. E, nesse movimento, o Brasil ganha destaque: faltam opções de tamanho relevante na América Latina, e o diferencial de juros elevado acaba atraindo parte desses recursos.
No primeiro semestre, o investidor estrangeiro se frustrou com o ritmo lento dos cortes da Selic, que impactou negativamente seus posicionamentos na curva de juros, explica Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Mas, se o Banco Central sinalizar estabilidade nos próximos encontros, reforçando o diferencial em relação aos juros dos EUA, isso pode reaquecer o interesse por Brasil, especialmente pelo carry trade.
Os valuations baratos – apesar de estarem baratos há muito tempo – também podem ser um dos motivos que também atrai capital estrangeiro. Setor de saúde, setor financeiro, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) – que chamam a atenção por conta da sua liquidez – são alguns dos setores que os gringos gostam.
“Sobre o estrangeiro ignorar o fiscal, ele não ignora. Tanto que se não fosse isso a gente estaria com certeza com uma Bolsa com valores bem maiores, com fluxo bem maior, investimentos no Brasil em outro patamar”, comenta Cruz.
Segundo ele, o estrangeiro em diversas esferas penaliza o Brasil por ter um fiscal com um nível de endividamento elevado e um fluxo que fecha todo ano devendo mais do que a receita. “Acho que se tivesse uma melhora fiscal, teria um acréscimo considerável de fluxo estrangeiro vindo para o Brasil.”