Azul: a companhia conclui, assim, o processo de reestruturação financeira (Divulgação/Site Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 13 de julho de 2023 às 17h33.
Última atualização em 13 de julho de 2023 às 17h40.
Com demanda de três vezes o ofertado, a emissão de dívida da Azul (AZUL3) conseguiu levantar US$ 800 milhões, dando "pista para a companhia levantar voo de novo", nas palavras do CEO, John Rodgerson. A captação de recursos era uma espécie de conclusão do processo de reestruturação financeira da companhia, como explicou o CFO da empresa, Alex Malfitani, em entrevista à EXAME Invest no último dia 3.
Apresentada a investidores na segunda-feira, 10, a oferta chegou a mais de US$ 2 bilhões de demanda no seu auge, com mais de 110 ordens de fundos. A companhia apresentou detalhes da oferta em coletiva à imprensa na tarde desta quinta-feira, 13. "Começamos a janela com os investidores na segunda-feira, fizemos cinco calls de conferência com entre 50 a 100 interessados e nossos bancos nos falaram que era um momento bom e também ajudou o mercado a notícia do CPI [índice de inflação americana] saindo mais baixo", explica Malfitani.
A emissão com vencimento em 2028, o pacote de garantia da oferta compreende certos recebíveis gerados pelo programa de fidelidade da companhia (TudoAzul), pelo negócio de pacotes de viagens (Azul Viagens) e outras propriedades intelectuais usadas pela companhia aérea, excluindo a unidade de negócios de logística, a Azul Cargo. A oferta saiu com um cupom de 11,93% e um yield mature de 12,25%, que é o retorno para quem compra hoje e segura o ativo até o fim.
Além da emissão a companhia renegociou a dívida e as condições comerciais com os arrendadores de aeronaves, bem como negociou a extensão do prazo de vencimento dos bonds de 2024 e 2026 para 2029 e 2030. Com os arrendadores, todos os contratos já estão assinados ou prestes a serem assinados, restando apenas um arrendador para fechar a negociação, segundo os executivos da companhia. Além disso, a companhia e essas empresas já estão operando em condições comerciais estabelecidas após essa negociação.
Já com os bondholders, a negociação foi concluída nesta semana com pouco mais de 86% deles. Com as novas condições, além dos credores terem garantia da dívida pelos recebíveis da TudoAzul e da Azul Viagens como é com os credores da nova emissão, os cupons ficaram mais vantajosos para quem está emprestando o dinheiro para a empresa.
O CEO da Azul reiteroiu o otimismo da companhia após a oferta e as perspectivas futuras da companhia. Com a nova estrutura de capital, a empresa prevê uma alavancagem de 3,5 vezes em 2023 e de 3 vezes em 2024. "Neste ano ainda vamos receber mais seis Embraer E2 e vamos investir mais capex. Quando se está gerenciando em crise, se está gerenciando por caixa. Agora a gente volta a gerenciar uma empresa para ser rentável e crescer. Com certeza vocês vão ver a gente voando mais por causa do combustível e pelas novas aeronaves", diz.
Na discussão da reforma tributária na Câmara, a inclusão das companhias aéreas nos grupos de alíquota especial ficou apenas para a aviação regional, que teria um corte na carga de tributos a ser paga. Todo o restante, em especial das grandes companhias de aviação comercial, estaria sob a alíquota total do IVA, ainda indefinida, mas prevista na casa dos 25%.
A Abear estima um incremento médio de impostos a serem pagos de R$ 3 bilhões a R$ 3,7 bilhões por ano para cada empresa aérea. "Não dá para saber qual vai ser o impacto ainda, mas se for o valor de R$ 3 bilhões para cada empresa aérea é destruir a indústria", argumenta Rodgerson. O executivo afirma, porém, que o governo tem olhado com bons olhos para o setor aéreo. "Eu acho que não terminou ainda. O governo tem olhado com bons olhos para a aviação. Veja o Voa Brasil, por exemplo", diz. "Para que estimular o setor para depois botar uma carga é tributária de R$ 3 bilhões a mais? Não faria sentido", acrescenta Malfitani.
Apesar disso, a companhia também poderia ser beneficiada pela malha regional de voos, considerando o texto mais recente do projeto de reforma tributária aprovada na Câmara.