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Atentado a Trump fortalece o dólar e impulsiona novo trade na bolsa, diz economista-chefe da Avenue

William Castro avalia que tentativa de assassinato aumenta favoritismo de ex-presidente em corrida pela Casa Branca: "a diferença é muito grande"

William Castro, economista-chefe da Avenue

William Castro, economista-chefe da Avenue

Publicado em 15 de julho de 2024 às 15h32.

A tentativa frustrada de assassinato contra o ex-presidente Donald Trump e candidato à Casa Branca pegou o mundo de surpresa no fim de semana. Embora tenha sido ferido, especialistas avaliam que o impacto será grande nas eleições americanas.

"Aumentou muito a chance do Trump ganhar as eleições, pois gera a ideia de mártir. De um lado tem um candidato que erra constantemente nos discursos e tem lapsos de memória [Joe Biden], e de outro, um que leva um tiro e se levanta de punho cerrado. A diferença é muito grande", afirma William Castro, economista-chefe da Avenue, em entrevista à Exame Invest.

No mercado financeiro, as reações são ambíguas, com a alta das bolsas americanas sendo acompanhada pelos juros longos e pelo Índice de Volatilidade dos Estados Unidos (VIX), também conhecido como "Índice do Medo". "Com Trump, há a possibilidade de cortes de impostos, que acabam beneficiando as empresas, mas podem pressionar a taxa de juros longa devido à piora da percepção fiscal. Isso tende a fortalecer o dólar no mundo", diz Castro.

O economista da Avenue afirma que a bolsa deverá seguir operando ao sabor das perspectivas de corte de juros e inflação, mas que a vantagem de Trump poderá desencadear apostas setoriais. Setores de petróleo, industrial e imobiliário deverão se sobressair. Ações desses segmentos, diz ele, já vêm sendo beneficiadas pela rotação setorial em curso, com a divulgação de dados de inflação mais baixos. Esse movimento, segundo ele, deverá ganhar ainda mais força conforme Trump avança na corrida eleitoral. "Devemos começar a ver mais notícias atrelando esse movimento à vantagem de Trump."

Leia a entrevista com William Castro, economista-chefe da Avenue.

Tivemos o atentado contra o Trump no fim de semana e as bolsas americanas sobem nesta segunda. Apesar da alta, o cenário ainda é nebuloso?

Obviamente, um atentado a um candidato e ex-presidente é extremamente sério e inesperado. A incerteza continua existindo, mas aumentou muito a chance do Trump ganhar as eleições, pois gera a ideia de mártir. Tentaram processá-lo, tirá-lo da campanha e, agora, matá-lo. De um lado tem um candidato que erra constantemente nos discursos e tem lapsos de memória [Joe Biden], e de outro, um que leva um tiro e se levanta de punho cerrado. A diferença é muito grande.

A vitória de Trump já está dada?

Trump refez o discurso que fará na convenção dos republicanos, adotando um tom de união. Se ele seguir por essa linha, será muito difícil vencê-lo, porque a principal crítica é a de que ele polariza muito e cria atritos o tempo inteiro. Isso alcança aquele cidadão que ainda está dividido em quem votar. Tem muitos eleitores que não querem nenhum dos dois, mas que, dada as condições, deverá optar por Donald Trump.

Essa provável vitória de Trump é positiva para os mercados? Podemos ver a bolsa subir se ele for eleito?

A bolsa americana performou bem independentemente do presidente. Tão ou mais importante do que se vai ser Trump ou Biden é a taxa de juros nos Estados Unidos e a capacidade da inteligência artificial gerar ganhos de margem e eficiência que se espera. Para a empresa, o que importa é a última linha do balanço, a do lucro.

E como uma eventual vitória de Trump pode influenciar a discussão?

No caso do Trump, há a possibilidade de cortes de impostos, que acabam beneficiando as empresas, mas pode pressionar a taxa de juros longa, de 10 anos, devido à piora da percepção fiscal. Já vimos esse efeito após Trump ter vencido o debate, com alta dos juros longos, mais por uma questão de expectativa. Com Trump vencendo, a tendência é haver taxas estruturalmente mais altas de juros e inflação. Isso tende a fortalecer o dólar no mundo, embora o preço do real dependa também de outros fatores.

Com Trump, volta a ganhar força a tese do near shoring, com indústrias retornando as produções para os EUA?

Sim, tem esse ponto. A possível vitória de Trump também impacta temas importantes, como imigração.

Quais setores da bolsa mais devem se beneficiar com Trump?

O Trump deve favorecer empresas menores e médias, com a discussão do "America Great Again", que passa por esses setores. Ele sempre foi muito defensor da indústria e do petróleo americano. Esses setores, obviamente, se sobressaem com os republicanos. De qualquer forma, isso tudo ainda é muito especulativo. Não dá para afirmar que a vitória de Trump será boa para a bolsa, mas a economia foi bem e grandes empresas também cresceram. Já a discussão sobre transição energética diminui.

O mercado já deve começar a precificar a vitória de Trump? Faz sentido investir nesses setores a partir de já?

Eu prefiro teses mais estruturais, que funcionam independentemente do cenário. Mas é possível fazer algumas apostas mais táticas para tentar aproveitar o momento. Tem várias coisas setorialmente que dão para desmembradas. O que temos visto nos últimos dias, especialmente após o CPI, é uma rotação na bolsa, com investidores investindo em empresas menores, que ficaram para trás nesse último rali puxado pelas big techs. Aí tem investimentos imobiliários e de petróleo, que também são superimportantes no plano de fazer a "America Great Again". São setores que se beneficiam dessa rotação, que deve ser impulsionada com uma eventual vitória de Trump. Devemos começar a ver mais notícias atrelando esse movimento à vantagem de Trump na corrida eleitoral.

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