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Até que ponto as bolsas são imunes a protestos?

Sem grandes impactos na economia, manifestações devem passar despercebidas pelo mercado financeiro

Cidade de Nova York: viatura é queimada em protesto contra brutalidade policial em morte de George Floyd (Kevin Mazur/Getty Images)

Cidade de Nova York: viatura é queimada em protesto contra brutalidade policial em morte de George Floyd (Kevin Mazur/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 4 de junho de 2020 às 16h50.

Última atualização em 4 de junho de 2020 às 16h55.

O rali das bolsas de valores americanas em meio a uma das maiores ondas de protestos da história recente dos Estados Unidos tem levantado questionamentos sobre se o mercado financeiro está descolado da realidade.

Desde o início da semana passada, quando o cidadão negro George Floyd foi brutalmente assassinado sob a custódia de policias de Minneapolis, as ruas das principais cidades americanas estão tomadas por manifestantes sedentos por justiça e pelo fim do racismo. Nesse período, o S&P 500, principal índice de ações do mercado americano, já subiu mais de 4%%.

Embora grandes nomes do mercado financeiro tenham demonstrado apoio ao movimento, a decisão de comprar ou não ações tem passado longe dos protestos. As bolsas de valores, por sinal, não costumam ser abaladas facilmente por manifestações sociais, nem mesmo quando é o alvo das contestações. Após o início do movimento Occupy Wall Street, que teve início em meados de setembro de 2011 e levou milhares de pessoas para as ruas de Manhattan, o S&P 500 ainda conseguiu subir 3,41% até o fim daquele ano.

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Nem mesmo em 1968, quando o assassinato do ativista Martin Luther King Jr. resultou em uma revolta, as bolsas sentiram grandes impactos. Naquele ano, que também foi marcada pela morte de Robert F. Kennedy, irmão do ex-presidente John F. Kennedy, o S&P 500 encerrou em alta de 7,66%, que só seria superada três anos depois. Mas o que seria preciso para os protestos derrubassem as bolsas?

Jason Vieira, economista-chefe da Infitiny Asset, considera que, para os protestos atuais terem algum peso sobre o preço das ações seria necessária uma “disrupção” que resultasse em efeitos financeiros ou na escalada da violência.

Evento semelhante ocorreu em Hong Kong, nos protestos contra a lei de exoneração, no ano passado. No terceiro trimestre, o PIB do território autônomo caiu 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Na ocasião, o governo atribuiu o resultado negativo aos “impactos dos incidentes sociais”, que cobraram “um alto preço” do turismo local.

No ano passado, mesmo com o cenário otimista para as bolsas de valores globais, o principal índice da bolsa de Hong Kong subiu apenas 9%, enquanto o S&P 500 avançou 28,9% e o Ibovespa, 31,6%. A alta de Hong Kong também foi inferior a de outras bolsas asiáticas, como as do Japão e da China, que tiveram respectivas altas de 18,2% e 22,3%.

“Naquele momento, os protestos causaram uma disfuncionalidade em Hong Kong. Isso, obviamente, passou pela decisão de investir ou não na bolsa local”, afirmou Mauro Rached, sócio da Integral Group. Segundo ele, o impacto das manifestações na economia seria a peça-chave para que os protestos dos EUA mexessem com o preço das ações. “Por enquanto, não teve efeito de forma significativa nos EUA.”

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