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Ataques antidemocráticos não abalam interesse de investidor estrangeiro, diz Mark Mobius

Gestor vê ânimo com mercado de capitais brasileiro, Ibovespa descontado e diz que atenção está na política fiscal do governo Lula

Mobius: Lula precisa tranquilizar os investidores com política fiscal sólida (Eduardo Frazão/Exame)

Mobius: Lula precisa tranquilizar os investidores com política fiscal sólida (Eduardo Frazão/Exame)

O investidor estrangeiro segue confiante com o Brasil, avalia o megainvestidor alemão-americano Mark Mobius, considerado o guru dos mercados emergentes. Os ataques antidemocráticos contra as sedes dos três poderes em Brasília no último domingo, 8, não foram capazes de tirar esse ânimo.

O fluxo de recursos mostra isso. Até quarta-feira, 11 de janeiro, o investidor estrangeiro ingressou com R$ 689,7 milhões líquidos no mercado secundário, levando a um saldo positivo de R$ 1,54 bilhão em janeiro.

Segundo o gestor da Mobius Capital Partners LLP, que gere cerca de US$ 300 bilhões, os acontecimentos da semana passada são fruto de uma "minoria violenta" e foram desaprovados, inclusive, por políticos de direita. Não é possível, no entanto, fazer uma avaliação de que Lula sai mais forte, que ainda terá de lidar com oposição no Congresso Nacional.

"Talvez os ataques possam ajudar a aproximar os partidos e ajudar Lula em sua missão declarada de pacificar um país muito polarizado. Isso seria um bom desenrolar. Acredito que o Congresso continuará sendo uma força a ser considerada por Lula", diz ele em entrevista à EXAME Invest.

Para o mercado, apesar do otimismo do investidor de fora, o presidente ainda terá que apontar sinais que apaziguem os agentes de mercado. "Lula precisa tranquilizar os investidores depois de ter suspendido a privatização de várias empresas estatais, bem como após a decisão de ir além do teto de gastos."

Confira a entrevista com Mark Mobius

Alguns agentes do mercado gostam de dizer que o Brasil está barato, principalmente quando o assunto é bolsa. Como você vê os ativos brasileiros?

Acho que as ações brasileiras estão com preços muito razoáveis. O IBOV está sendo negociado com desconto atraente não apenas em relação a mercados desenvolvidos, mas também a outros mercados emergentes. Além disso, as perspectivas de crescimento para muitas empresas brasileiras continuam atraentes, com a recuperação das exportações e do consumo interno.

Diante do cenário mundial de alta de juros e incertezas, o Brasil é realmente um mercado atraente para investidores estrangeiros?

O Brasil tem a vantagem de estar à frente da curva. O Banco Central começou a aumentar as taxas de juros muito mais cedo e de forma mais decisiva do que outros países, incluindo os EUA. Embora alguns segmentos do setor privado enfrentem pressão nesse novo ambiente, a capacidade de ajuste é bastante excepcional no Brasil. Muitas empresas desalavancaram com sucesso nos últimos anos, o que é outra vantagem. O Brasil oferece muitos negócios altamente competitivos que são de fato investimentos atraentes em tempos bons e ruins.

Em comparação com outros mercados emergentes, como está o mercado de capitais brasileiro?

Em primeiro lugar, o mercado de capitais no Brasil é líquido, oferece tamanho significativo e é muito bem governado. O Brasil percorreu um longo caminho e melhorou significativamente a transparência e a governança nas últimas décadas. Também gostamos do Brasil por causa dos modelos de negócios de alta qualidade que foram estabelecidos. As empresas são muitas vezes bem geridas, altamente inovadoras e têm uma forte vantagem. Elas foram punidos injustamente pelo sentimento geral e pelas perspectivas macro. No entanto, estão em uma boa posição para ter um desempenho forte quando a recuperação começar.

O que pode assustar o investidor estrangeiro?

Os investidores vão querer ver uma política fiscal sensata. Acho que o aumento do teto de gastos, por exemplo, precisa ser observado com atenção. A política é sempre uma questão delicada no Brasil e as questões relacionadas à pobreza e à educação precisam ser tratadas pelo governo no poder.

Os episódios do último domingo, 8, podem impactar a percepção dos investidores estrangeiros? Qual é a imagem que fica depois dos atos de violência? Em que os investidores estrangeiros vão focar sua atenção a partir deste episódio?

Os distúrbios da semana passada em Brasília foram um evento chocante e devem ser vistos como um ataque às instituições democráticas do Brasil. Mas não vamos esquecer que esta é uma minoria violenta, não uma demonstração de uma atitude predominante entre os seguidores de Bolsonaro. Pelo contrário, muitos políticos de direita foram rápidos em se distanciar dos acontecimentos.

Para parte dos agentes do mercado no Brasil, Lula saiu mais forte, principalmente na relação com o Congresso, onde, teoricamente, deveria encontrar uma oposição mais forte considerando a nova composição eleita em outubro. Você também tem essa percepção? O que podemos esperar a partir disso?

Não sei se Lula sairá mais forte. Talvez os ataques possam ajudar a aproximar os partidos e ajudar Lula em sua missão declarada de pacificar um país muito polarizado. Isso seria um bom desenrolar. Acredito que o Congresso continuará sendo uma força a ser considerada por Lula. E vimos isso, quando a Câmara dos Deputados limitou o aumento do teto de gastos a um ano.

Quais pontos o senhor vê como prioritários na agenda do governo para que os investidores vejam o mercado brasileiro de forma ainda mais favorável?

Como disse, uma política fiscal sólida será crucial. Os gastos públicos precisam permanecer sob controle. E uma continuação do esforço de privatização de empresas estatais será importante. Lula precisa tranquilizar os investidores depois de ter suspendido a privatização de várias empresas estatais, bem como após a decisão de aumentar o teto de gastos.

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