Roberto Campos Neto, presidente do BC (Andre Coelho/Bloomberg via/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 09h07.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2023 às 09h28.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco voltou a questionar os efeitos inflacionários da condução econômica do governo em ata divulgada nesta terça-feira, 7, sobre a ultima reunião de política monetária. (leia a ata na íntegra)
Segundo a ata, os membros do Comitê notaram "com especial preocupação" a piora das expectativas de inflação de prazos mais longos presentes nos boletins Focus. Desde a reunião de dezembro até a última, vale destacar, a projeção do mercado para o IPCA de 2024 e 2025 subiram de 3,5% para 3,9% e de 3% para 3,5%.
Entre as possíveis razões para a deterioração das expectativas a ata do Banco Central elencou "uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas".
Sobre a política fiscal, o Copom ponderou que os "estímulos de demanda devem ser avaliados considerando o estágio do ciclo econômico e o grau de ociosidade na economia". O comitê aidna afirmou em ata que a política monetária deve ser utilizada como "variável de ajuste macroeconômico para mitigar os efeitos porventura inflacionários da política fiscal". Ou seja, quanto maior for o efeito inflacionário de eventuais políticas fiscais, mais duro o Banco Central poderá ser.
Quanto a possível alteração de metas de inflação, sonda pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Copom foi mais brando e afirmou que "mais importante do que a análise das motivações para a elevação das expectativas, o Comitê enfatiza que irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas."
O Copom ainda fez uma mea culpa e afirmou que a deterioração da expectativa de inflação pode ter relação com uma "possível percepção de leniência do Banco Central com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional". Quanto a isso, o BC reafirmou o "compromisso em conduzir a política monetária para atingir as metas estabelecidas" e avaliou que, "uma vez observada a desancoragem, é necessário se manter ainda mais atento na condução da política monetária para reancorar as expectativas e assim reduzir o custo futuro da desinflação".
O início da reunião, disse a ata, foi marcada pela discussão sobre se a "estratégia traçada anteriormente de juros estáveis seria suficiente para a convergência da inflação para suas metas. Mas, ao avaliar os dados, projeções e o "balanço de riscos e defasagens dos efeitos da política monetária já em território significativamente contracionista, era apropriado manter a taxa de juros no patamar de 13,75%".
O Copom ainda disse ser necessário "manter a vigilância, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação" Assim como no comunicado da decisão de juros, o ata voltou a enfatizar que o BC "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado."
O Copom informou ter feito a análise de um "cenário alternativo" com manutenção dos juros estáveis até 2024. Nesse caso, as projeções de inflação seriam de 5,5% para 2023 e 2,8% para 2024. "O Comitê avaliou diferentes hipóteses, parâmetros e cenários em sua discussão sobre as projeções de inflação. Nessa discussão, alguns membros levantaram a hipótese de incorporar alguma elevação da taxa neutra de juros".
Foi decidido, no entanto, pela manutenção da taxa de juro neutra de 4%. Ata, no entanto, afirmou que identificou-se "que os impactos de uma elevação da taxa neutra sobre suas projeções crescem no tempo e passam a ser mais relevantes a partir do segundo semestre de 2024".